O cenário da atual política econômica brasileira apresenta um quadro onde os produtores rurais encontram-se cada vez mais dependentes de conhecimento, informação e tecnologia. A contabilidade gerencial em conjunto com a administração procura otimizar o processo de gestão para o produtor rural, visto que, este encontra-se inserido em um ambiente repleto de incertezas e em constante mudança. A inobservância do SIG - Sistema de Informação Gerencial poderá propiciar ao gestor decisões errôneas, mesmo com a utilização de um suporte técnico-teórico. Assim, essa pesquisa procurou verificar, identificar e evidenciar a forma de utilização das informações gerenciais requeridas pelo administrador de uma propriedade rural localizada no Município de Brasilândia MS. Com os resultados obtidos através da pesquisa, foi possível constatar que o referido administrador rural pouco utiliza das informações contidas nos demonstrativos contábeis, tendo por base para decisões apenas informações de cunho gerencial, captadas junto ao mercado no qual está inserido.
Palavras-chave: Gestão rural, Sistema de informações, Processo decisório.
1 Introdução
A atividade agropecuária tem um papel relevante em países que possuem grandes extensões territoriais, e o Brasil encontra-se no rol das nações com tais características. Portanto, esse segmento da economia (agronegócio) desencadeou nos últimos anos, uma série de mudanças estruturais importantes, no qual pode-se destacar o desenvolvimento do setor agroindustrial, a utilização de novas tecnologias, o maior controle da qualidade, a mudança cultural do consumidor e o aumento da competitividade no mercado interno e externo. Diante deste processo de transição, surge no campo um maior interesse por técnicas administrativas, a fim de melhorar a eficiência gerencial e produtiva por meio da gestão rural das atividades desenvolvidas.
Neste cenário em que a atividade agropecuária encontra, torna-se necessário ao produtor no desenvolver da administração, um conjunto de dados processados e estruturados de forma que o auxilie no processo decisório, uma vez que a informação é um veículo que conduz ao sucesso da gestão empresarial. No meio rural o administrador depara-se constantemente com um ambiente repleto de incertezas associado a uma série mudanças de ordem estrutural e econômica, o que acaba por exigir deste gestor um amplo conhecimento técnico/gerencial.
A inobservância do SIG - Sistema de Informações Gerenciais pelo produtor, quando este desconhece seu potencial de apoio informativo para o processo decisório, permite que decisões ineficazes sejam tomadas, mesmo com a utilização de um material que contenha embasamento técnico/teórico de qualidade. Diante desse quadro, essa pesquisa buscou realizar um estudo na Fazenda Pioneiros, localizada no Município de Brasilândia/MS, a fim de verificar, identificar e evidenciar a forma de utilização da informação contábil/gerencial, bem como a sua contribuição no processo decisorial.
2 Referencial Teórico
2.1 O Sistema de Informação Gerencial na Administração de Empresas
Segundo Cruz (2003, p. 57); sistema de informação gerencial é definido "como o processo de transformação de dados em informações utilizadas na estrutura decisória da empresa, além de proporcionar a sustentação administrativa para otimizar os resultados esperados". Portanto, um sistema deve ser projetado para oferecer aos usuários informações seguras para tomada de decisões sólidas, que resultem na concretização dos objetivos previamente estabelecidos.
O atual cenário mundial demonstra que, quanto mais desenvolvida é uma economia de uma nação, maior se torna a concorrência entre as empresas, portanto, estas devem estar em constante atualização, onde cabe ao gestor ter o domínio das informações de forma clara e objetiva. Para tanto, a comunicação mediante o fornecimento dos elementos básicos para as decisões nos vários aspectos do negócio, contribui para eficácia no planejamento, organização, direção e controle do empreendimento.
Neste sentido, Oliveira (1996) afirma que, faz-se necessário:
O envolvimento adequado da administração com o SIG,
A competência por parte das pessoas envolvidas com o sistema,
A habilidade do administrador em identificar as necessidades informacionais,
A habilidade dos administradores utilizarem eficientemente as informações no processo decisório,
O apoio global dos vários planejamentos da empresa,
A existência de dados/informações relevantes e atualizadas,
A adequada relação custo x benefício.
2.2 Sistema de Informações Gerenciais e a Empresa Rural
Com a globalização da economia, o processo de informação torna-se expressivo e decisivo no mundo dos negócios de tal forma que, o usuário necessita conhecer o tipo de informação que lhe proporcione optar sempre pela melhor alternativa. Na visão de Oliveira (1996), o sistema de informação influencia diretamente três níveis: o estratégico, o tático e o operacional. Onde, o nível estratégico considera a interação entre as informações internas e do ambiente empresarial (externas). Já o nível tático considera a aglutinação de informações de uma área de resultado e não do empreendimento como um todo. Quanto ao nível operacional, este considera a formalização, principalmente através de documentos escritos das várias informações estabelecidas para o processo produtivo.
Marion (2002, p. 24) define empresa rural como, "aquelas que exploram a capacidade produtiva do solo por meio do cultivo da terra, da criação de animais e da transformação de determinados produtos agrícolas", para Crepaldi (1993, p. 20) empresa rural representa uma, "unidade de produção em que são exercidas atividades que dizem respeito a culturas agrícolas, criação do gado ou culturas florestais, com a finalidade de obtenção de renda". Assim, as entidades que através do cultivo do solo, da criação de animais, ou da transformação de itens produzidos para uma posterior comercialização ou consumo, enquadram-se em qualquer das uma das definições acima.
A partir abertura de mercados iniciada no governo Collor, os produtores rurais tornaram-se mais dependentes de conhecimento, informação e tecnologia para decidir sobre as necessidades de produção e, ao mesmo tempo, atender requisitos ambientais, econômicos e sociais.
A informação é um produto de análise dos dados existentes na empresa, devidamente registrados, classificados, e organizados, relacionados e interpretados dentro de um contexto para transmitir conhecimento e permitir a tomada de decisão de forma otimizada (OLIVEIRA, 1996, p. 36).
Destarte, a informação
permite ao executivo tomar decisões pautadas em um recurso confiável, onde os
sistemas informativos relacionam recursos materiais e humanos que associam à
coleta, o armazenamento, a recuperação, a distribuição e o uso de dados com o
intuito de aumentar a eficiência gerencial nas organizações.
Assim, a administração eficiente procura maximizar resultados e ao mesmo tempo
eliminar ao máximo desperdício e tarefas repetitivas com ênfase na qualidade do
produto, no entanto, isso não é considerado uma tarefa fácil no meio rural.
A tarefa de gerar informações gerenciais que permitam a tomada de decisão, com base em dados consistentes e reais, é uma dificuldade constante para os produtores rurais. O administrador de um empreendimento tem a necessidade de saber onde e de que forma estão aplicando os seus recursos e qual está sendo o retorno financeiro obtido (CREPALDI, 1993, p. 48).
Os sistemas gerenciais de
informações exercem um papel de apoio à decisão, onde procuram resolver
necessidades gerenciais básicas do dia-a-dia, oriundas das operações da
organização. Neste contexto Padoveze (2002, p.61) afirma que, "o sistema de
informações gerenciais tem como objetivo fundamental à integração, consolidação
e aglutinação de todas as informações necessárias para a gestão do sistema da
empresa".
2.3 A Gestão do Empreendimento Rural
Todas as mudanças que afetam um determinado setor da economia exigem um
posicionamento dos empreendedores em busca de competitividade, o que gera um
aumento na procura por novos modelos gerenciais e operacionais que visem à
redução de custos e a busca por melhores resultados, no meio rural esse
comportamento não é diferente, e as empresas do ramo procuram adaptar-se a tais
exigências.
Dentro dessa linha de raciocínio, a propriedade rural deve ser visualizada como
uma empresa, onde gestor deve possuir um conhecimento razoável do mercado em que
atua além de estar atento as informações internas geradas pelo sistema.
Segundo Nantes e Scarpelli (2001), pode-se verificar que o empreendimento rural
apresenta três características facilmente observadas. Inicia-se pelos
empreendimentos que desenvolvem processos rudimentares, com pouca tecnologia e
habilidades gerenciais, conhecidos como tradicionais. Depois surgem aqueles cuja
preocupação esta ligada ao mercado, a produção, a tecnologia. Neste tipo, a
eficiência gerencial é um pouco maior, sendo classificados como em processo de
transição. E por último, encontram-se os empreendimentos modernos que utilizam
tecnologia de ponta, sendo caracterizado pelo desempenho econômico, produtivo,
decisorial, sendo representado pelo o agronegócio.
2.4 O Administrador Rural e o Processo Decisório
A agropecuária no Brasil é responsável por uma infinidade produtos que abastecem
o mercado interno e externo, no entanto, para que isso ocorra faz-se necessário
a existência de harmonia entre as atividades desenvolvidas nas propriedades
rurais, e o ambiente externo próximo e remoto (governo, consumidores,
fornecedores de insumos, bancos, etc.).
Na visão de Araújo (2005, p.75) "todo o empreendimento agropecuário efetuado com
profissionalismo, tem seu início pautado em definição clara dos objetivos, metas
e métodos". Ao determinar os objetivos, o administrador rural necessita
estabelecer estratégias, que utilizem ao máximo os recursos disponíveis, analise
e identifique as oportunidades e ameaças do ambiente, bem como os pontos fortes
e fracos da empresa. Portanto, é necessário planejamento anterior a qualquer
ação, a fim de atenuar as incertezas contidas nesse setor da economia.
Atualmente, os administradores vinculados ao processo de gestão procuram
mensurar o desempenho do empreendimento, com base em uma série de índices e
coeficientes, que identificam produtividade, velocidade de ganho, qualidade das
operações, planejamento de atividades, além de evidenciar a evolução do negócio
ao longo do tempo. Tais indicadores são considerados relevantes ao processo
decisorial uma vez que, auxiliam na identificação dos resultados, ou seja,
verifica se objetivos como a maximização dos lucros, a redução dos custos, a
manutenção no mercado, a satisfação de empresários e consumidores entre outros,
foram alcançados.
No meio rural, como em qualquer outra atividade empresarial o gestor procura
adaptar-se às exigências do mercado e as necessidades informacionais requeridas
pelo processo decisório. Portanto, o conhecimento da informação em conjunto com
a experiência empresarial, fornece uma base sólida ao administrador, que a
partir do conjunto de dados obtidos, deverá escolher a informação mais
importante para o negócio e organizá-la de forma a que promova a eficiência e
eficácia empresarial.
2.5 A Atividade Rural e suas Peculiaridades
O setor agropecuário está exposto a certas características peculiares, o que
dificulta o processo de decisão para o administrador, tais como a incidência de
riscos ligados a condições climáticas; tipo solo; problemas causados por pragas,
flutuações de preços dos produtos; e o trabalho disperso.
É possível observar que esse conjunto de variáveis em razão da instabilidade
mais prejudica que beneficia esse tipo de atividade. Sabendo que o setor
movimenta milhões de reais no país, é fundamental que o administrador elabore
uma estratégia e mobilize todos seus recursos a fim de reduzir o impacto desses
efeitos. Para isso é crucial que dê atenção a um insumo básico conhecido como
informação, com o intuito de atingir a satisfação de suas necessidades
operacionais e gerenciais.
Os parâmetros adotados devem ser expressos conforme a necessidade de cada
empreendimento onde o planejamento, a organização, a direção e o controle devem
estar voltados para os melhores resultados. Portanto, é necessário ao implantar
um sistema, o envolvimento de todos no processo a fim de que a cultura
organizacional acompanhe as inovações e a ausência de engajamento não comprometa
a evolução do processo.
Quanto maior for o empreendimento, maior será a possibilidade de melhorar os
resultados, no entanto, deve ser dada atenção especial a fatores externos como
demanda, clima, preço dos produtos. Conforme citado anteriormente, não é
possível ter controle total e direto sobre as empresas agropecuárias, onde esses
fatores por si só podem provocar alterações nos resultados sem interferência dos
gestores. Neste contexto, é sempre bom ressaltar que o produtor rural enfrenta
ainda uma série de problemas como ausência de uma política de incentivos,
escassez de recursos para investimento, entre outros; no entanto, tais
dificuldades não impedem o desenvolvimento no campo, uma vez que este é um dos
setores que apresenta maior crescimento econômico em nosso país.
3 Metodologia
O desenvolvimento deste artigo pautou-se na realização de um estudo de caso.
Para GIL (1996, p. 58), "o estudo de caso é caracterizado pelo estudo profundo e
exaustivo de um ou de poucos objetos, de maneira que permita o seu amplo e
detalhado conhecimento, tarefa praticamente impossível mediante os outros
delineamentos considerados". A primeira etapa da pesquisa foi marcada pelo
desenvolvimento de uma pesquisa bibliográfica sobre o setor rural, com ênfase
para a área contábil, administrativa, econômica, tecnológica, além de fatores
relevantes ao agronegócio. Na segunda etapa dos trabalhos, iniciou com a
realização uma pesquisa de campo, no qual contou com a utilização de técnicas
metodológicas como a aplicação de um questionário sob forma de entrevista, junto
ao administrador de uma propriedade rural localizada em Brasilândia MS. Tal
questionário procurou abordar os seguintes aspectos: perfil do administrador e
caracterização da propriedade, além de testa o nível de aproveitamento da
informação contábil/gerencial. Ao final é apresentado o resultado obtido com a
pesquisa de campo e as devidas considerações finais.
4 Resultados da pesquisa
Com base nos dados obtidos através da realização de entrevista, foi possível
identificar o perfil do administrador, bem como, os procedimentos e a forma como
ele utiliza o sistema de informações no processo decisório.
A fazenda Pioneiros existe desde 1968, onde desenvolve a atividade agropastoril,
com predominância em quase sua totalidade para a pecuária de corte, no qual seu
atual administrador a gerencia por mais de 25 anos. O gestor da propriedade
conta em sua formação profissional, curso técnico em contabilidade.
A propriedade possui uma extensão territorial superior a mais de 1.000 há de
terras utilizadas com pastagens e conta com um faturamento bruto anual acima de
R$ 100.000,00. Quanto à estrutura física foi possível perceber que a propriedade
encontra-se bem equipada, uma vez que possui controle informatizado e diversos
equipamentos que dão sustentabilidade ao processo operacional, tais como
tratores e implementos agrícolas, veículos, rede hidráulica, instalações rurais,
etc...
Com relação ao gerenciamento das informações, foi possível detectar com a
pesquisa, que o administrador não utiliza informações obtidas nos relatórios
contábeis, para fins de decisões, visto que a contabilidade da fazenda é
processada em São Paulo SP, e este não recebe nenhum tipo de subsidio
contábil/gerencial para tais finalidades. Seu modelo de decisão conta com uma
base de dados composta com projeções, metas e orçamentos para desenvolvimento da
atividade operacional, no qual cabe ressaltar que tais dados são provenientes de
anotações registradas em planilhas sobre informações diárias desenvolvidas na
propriedade.
Dessa forma, é possível constatar que o administrador utiliza informações
gerenciais no processo decisório, mesmo que de forma incipiente, uma vez que
realiza projeções tais como orçamentos, controle de custos e fluxos de caixa, ou
seja, mantém através deste o controle operacional um sistema gerencial. No
entanto, tais informações são captadas e registradas sem qualquer embasamento
técnico/teórico, o que poderá levar a uma fragilidade no sistema, uma vez que
este não utiliza de instrumentos e relatórios contábeis/gerenciais.
5 Considerações Finais
Com a realização desta pesquisa pode-se verificar a evidente a necessidade de
uma ampla mudança de postura por parte dos produtores rurais, que possibilite
melhoria na gestão, com a introdução de novos procedimentos e técnicas contábeis
tais como, modelos de gestão de custos, balanced scorecard, sistema de
informações gerenciais, além da adequada utilização da tecnologia para
sustentabilidade da atividade agropecuária.
Um agravante identificado pela pesquisa diz respeito à formação profissional do
administrador rural, sendo ele técnico em contabilidade, deveria no mínimo
exigir e utilizar informações contábeis a fim de tornar mais eficiente o
processo decisorial.
Referências
ARAÚJO, Massilon J. Fundamentos de Agronegócios. 2. ed. São Paulo: Atlas,
2005.
CREPALDI, Silvio Aparecido. Contabilidade Rural: uma abordagem decisorial.
São Paulo: Atlas, 1993.
CRUZ, Tadeu. Sistema de Informações Gerenciais: Tecnologia da Informação
e a Empresa do Século XXI. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003.
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 3. ed. São
Paulo: Atlas, 1996.
MARION, Jose Carlos. Contabilidade Rural. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
NANTES, José Flávio Diniz; SCARPELLI, Moacir. Gestão da Produção Rural no
Agronegócio. In: BATALHA, Mário Otávio (Coord). Gestão Agroindustrial.
2.ed. São Paulo: Atlas, 2001. p. 556-584.
OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças de. Sistemas de Informações Gerenciais.
3. ed. São Paulo: Atlas, 1996.
PADOVEZE, Clovis Luiz. Sistemas de Informações Contábeis. 3. ed. São
Paulo: Atlas, 2002.
Ariane Zorzi Santim
- Acadêmico de Ciências Contábeis (UFMS)
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Marília Bravo Leite - Acadêmico de Ciências Contábeis (UFMS)
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Tarcísio Rocha Athayde - Professor Assistente (UFMS)
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