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O valor de um centavo

27/12/2006 00:00:00

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O valor de um centavo

À medida que o tempo vai passando, tenho percebido cada vez mais, uma inversão de valores na sociedade, ou seja, o que é correto está virado errado e o que é errado está virando correto. E o pior de tudo é que são poucas as pessoas que percebem isso e aquelas que percebem e exigem seus direitos são taxadas de agitadoras, chatas, entre outros adjetivos semelhantes. Neste artigo vou tratar especificamente da moeda de um centavo, não necessariamente do seu valor monetário, mais sim do seu valor social.

Inicialmente vou narrar um fato do cotidiano que somente confirmam minha assertiva inicial: quando vamos a um supermercado fazer compras e chegamos ao caixa, e no final da conta percebemos que está faltando um centavo de troco, quase nunca fazemos questão do mesmo. Deixamos para lá e vamos embora. E o pior é que às vezes o funcionário do caixa nem dá qualquer satisfação de que o troco está incompleto, faltando aquela moedinha de um centavo ou quando muito diz "posso ficar devendo um centavo?" Quando dizemos não e queremos o nosso centavo de direito, às vezes somos taxados de miserável e pão-duro. Isso é uma completa inversão de valores: aquele que exige a moedinha passa a ser o chato, mas aquele que ignora e/ou fica com vergonha de pedir o troco completo é que passa a ser o certo. Sei que um centavo a mais ou a menos não vai fazer a riqueza ou a pobreza de ninguém. Mas também sei que se o supermercado ficar com um centavo de alguns clientes, ao longo do dia o somatório das moedinhas pode alcançar quantias consideráveis. Mas não é bem isso o meu objetivo principal.

O que mais quero chamar a atenção é muito mais do que o valor econômico da moeda de um centavo. Quero destacar lados psicológicos, sociológicos e até antropológicos que podem estar atuando no inconsciente das pessoas e com isso, elas nem percebem que suas atitudes individuais omissas pode estar contribuindo para um sério problema macroeconômico, que é a aceitação passiva da corrupção. Como dizia minha falecida mãe Gilda (que Deus a tenha), "quem rouba um tostão, rouba um milhão", isso quer dizer também que quem aceita deixar para lá o seu um centavo de modo pacífico, inconscientemente está aceitando deixar para lá bilhões de Reais que são arrecadados com os impostos e não são revertidos para a população que é de direito. E isso realmente faz sentido. Por que será que o brasileiro, de um modo geral, aceita a corrupção como algo "normal"? Aceita o "rouba ma faz". Além dos mecanismos de alienação em massa que nossos governantes sempre utilizaram para deixar a população em letargia e se sentir impotente para lutar por seus direitos, o fato de não fazer questão nas mínimas coisas, como é a exigência da moedinha de um centavo (para que seu troco fique correto) contribui para tornar ainda mais as pessoas passivas e aceitarem ser garfadas por esses gatunos que compõem a banda podre da política brasileira, que ingressam no meio político com um único fim de enriquecer ilicitamente às custas do dinheiro da nação. Ainda bem que nem todos são assim e ainda existem políticos honestos.

Em geral, o que quero dizer é que, caros leitores, passem a exigir o seu troco correto, mesmo que seja um centavo, pois assim, individualmente e agora conscientemente poderemos estar dando um grande passo para exigirmos um país melhor.

Fernando Antônio Agra Santos é formado em Economia pela Universidade Federal de Alagoas e Doutor em Economia Aplicada pela UFV - MG e Professor Universitário em Juiz de Fora - MG ([email protected])

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