O que vem acontecendo, de um modo geral, no mundo capitalista, é um verdadeiro processo de inversão de valores, onde o "ter" representa muito mais do que o "ser",ou seja, as pessoas passam a ser mais valorizadas pelo que possuem, sobretudo em termos de riqueza, ao invés do que realmente são em sua essência. E isso contribui para que acostumemos com 23 milhões de brasileiros sobrevivendo abaixo da linha de pobreza (sem terem o mínimo para se alimentarem corretamente). A gente se acostuma com o "rouba, mas faz" da banda podre da nossa política. A gente se acostuma a pagar impostos extorsivos e não ter contrapartida na prestação de serviços públicos de qualidade. A gente se acostuma a observar pessoas morrerem nas portas de hospitais por falta de atendimento. A gente aceita viver trancado em casa, enquanto os verdadeiros marginais transitam soltos transportando milhões de Reais e Dólares em malas e cuecas. A gente acostuma com o médico que marca uma consulta às 8:00h e nos atende irresponsavelmente ás 11:00h. A gente nem liga em pagar 10% a mais num restaurante, quando na verdade, as despesas dos funcionários já estão embutidas no preço final do produto (caro leitor: você recebe 10% a mais no seu trabalho porque o cumpre com gentileza?). Nós deixamos um centavo na maioria das nossas contas e ficamos com vergonha de exigir o nosso troco correto etc.
Quem prega mudanças macroeconômicas vão se no curto prazo é pouco inteligente ou é demagogo, pois questões estruturais não se alteram rapidamente. Logo, as mudanças têm que começar dentro de cada um de nós. A partir do momento em que coloquemos o comodismo, a preguiça, a vergonha de lado e passemos a exigir o que é de direito nos mínimos detalhes. De tudo o que foi citado no parágrafo imediatamente anterior, se incorporarmos tais mudanças aos poucos, com certeza, estaremos colaborando para um mundo mais honesto e justo. À medida que educamos as crianças para somente colocarem no prato a quantidade de comida que vão comer; à proporção que ensinamos a essas mesmas crianças a jogarem o lixo em locais corretos (e não no meio da rua); à medida que mostramos a importância para tais crianças, de que o respeito pelo próximo é condição indispensável para uma vida harmoniosa; à proporção que orientamos as crianças a economizarem água e energia elétrica estaremos preservando os recursos naturais; e quando somos responsáveis no cumprimento dos nossos deveres, passaremos a exigir com mais afinco os nossos direitos em busca de uma realidade melhor.
Enfim, conclamo aos leitores a refletirem no que podem fazer por um mundo melhor, cada qual à sua maneira, pois cada ser humano possui características específicas. Mas uma coisa é unânime: precisamos deixar esse péssimo hábito de se acostumar com as coisas erradas que estão sendo interpretadas como corretas.
Fernando Antônio Agra Santos é formado em economia pela UFAL, Doutor em Economia Aplicada pela UFV-MG e Professor |Universitário em Juiz de Fora - MG ([email protected])