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Finanças pessoais: um problema cultural

Acredito que a origem desse problema (endividamento), que é nacional, está na falta de uma cultura de ensino da educação financeira, tanto em nossas casas, quanto na escola, com a falta da inclusão desse assunto (finanças) na grade curricular

11/05/2015 08:25

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Finanças pessoais: um problema cultural

Quando se fala em finanças pessoais, noto que ainda existe um imenso abismo entre a teoria “ensinada” e a prática realmente utilizada pelas pessoas no controle de seus gastos mensais.

Infelizmente, esse abismo é ainda maior quando ultrapassa as paredes dos lares para adentrar nos domínios das pequenas empresas, para onde (na qualidade de administradores) carregamos todos os nossos conhecimentos e também a falta deles.  

O que mais ouvimos quando o assunto é controle das finanças é que devemos utilizar aquelas benditas planilhas, que, aos ouvidos de muitos, soa como algo de outro mundo. É claro que não é isso, mas sou obrigado a concordar que nem todos precisam utilizar as tais planilhas como ferramentas de controle.

Conheço muitas pessoas que conseguem controlar as contas sem nenhum tipo de registro, por exemplo. Outras que controlam somente no “visual”: as contas vão chegando e ficam guardadas em ordem mais ou menos cronológica, sendo quitadas nessa sequência. Em caso de extravio do boleto, corre-se o risco de não pagá-lo em dia e, depois, de ter que arcar com acréscimos legais.

Há pessoas que se utilizam da tecnologia e já vão agendando o pagamento das contas e também cadastrando aquelas passíveis de autorização no débito automático do banco.

Outra questão muito explorada pelos experts em finanças é a necessidade de se fazer uma reserva para investimentos e despesas extraordinárias. Nesse caso, também conheço pessoas que já destinam um percentual da sua renda para ser guardado antes mesmo de começarem a pagar as contas do mês. E outras que, ao contrário, guardam somente o que sobrou depois de pagar todas as contas. No segundo caso, existe a forte probabilidade de sobrar menos recursos para essa reserva, mas o ato de poupar também é válido.

Nos dois exemplos anteriores, não importa se você guarda antes ou depois, pois o que fará mesmo a diferença é a regularidade com que é feita essa reserva e também a disciplina em não resgatá-la para utilização em outros fins e, consequentemente, não fazer a devida reposição.

Ou seja, para muitas pessoas, a questão de gastar tudo o que se ganha ou de guardar uma parte para investimentos e outra parte para possíveis gastos extraordinários é uma coisa relativamente simples, natural até. Ou seja, gasta-se somente o que se recebe e ponto final.

A grande questão, e isso sim é que pode se transformar em tragédia, é quando se gasta muito além daquilo que se recebe.

O fato é que o problema da maioria das pessoas que se encontram nessa situação pode ser atribuído à dupla: “crédito abundante” e “juros altíssimos”, pois isso ainda é muito recente (ao menos aqui no Brasil) e não foi devidamente assimilado pela maioria das pessoas, que não enxergam o absurdo de juros que são pagos numa compra a prazo, por exemplo, sendo que o único parâmetro para análise da compra, na maioria dos casos, ainda continua sendo o valor da prestação. Ou seja: “Se encaixa em meu orçamento, posso comprar, não importando se são 12 ou 72 parcelas”, mesmo que o valor final seja equivalente a duas ou três vezes o valor do bem adquirido.

Um exemplo bem clássico é o financiamento de veículos. O carro, por si só já consome uma boa parte da renda familiar, pois além da desvalorização na hora da troca, existe o custo de manutenção, IPVA e seguro, que geralmente não são levados em conta.

Outra questão importante é que, por ser um objeto de desejo da maioria das pessoas, existe a grande probabilidade de se fazer uma compra na base do impulso, sem considerar o melhor “custo x benefício”. Na hora da troca, na ânsia de fechar o negócio, acabam entregando o seu carro pelo valor oferecido pelo vendedor, que nunca é o valor que ele receberia se fizesse a venda direta (mais uma perda).

Por último, para fechar o pacote de perdas, financia-se o saldo devedor com juros altíssimos, elevando ainda mais o endividamento familiar. Muitas vezes, essa troca é feita antes mesmo de se fazer a quitação do veiculo “antigo”, quando o valor para sua quitação ainda supera o seu valor de mercado, gerando um prejuízo ainda maior.

Os números não mentem e não existe milagre na hora de fechar as contas no final do mês, que pode até ser manipulado por determinado tempo, com a utilização de linhas de crédito e pagamento do valor mínimo da fatura de crédito, mas que, em algum momento futuro, cobrará caríssimo por isso.

Quando converso com clientes (empresários) que estão com problemas financeiros, e, nesse caso, fica bem evidente a inexistência de fronteiras entre as contas pessoais e as da empresa (principalmente das pequenas), fico com a estranha sensação de estar fazendo o papel daquele médico que fala com o paciente que ele deve parar de fumar e beber em excesso; de que precisa fazer exercícios e cuidar da alimentação para evitar o agravamento de vários problemas de saúde, que, nesse caso (quando as finanças vão mal), podem até se tornar o gatilho para que a doença realmente apareça.

Ou seja, a pessoa sabe que não está agindo corretamente, mas, por um impulso ou uma compulsão consumista, continua agindo de maneira totalmente irresponsável, agravando cada vez mais o problema.

Enfim, acredito que a origem desse problema (endividamento), que é nacional, está na falta de uma cultura de ensino da educação financeira, tanto em nossas casas, quanto na escola, com a falta da inclusão desse assunto (finanças) na grade curricular. E que não é a simples utilização de algumas planilhas que irá solucionar um problema que é de ordem cultural.

 

 

 

 

 

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