Apesar dos índices de inflação estarem baixo, na casa de 0,11% no mês de março, é bom lembrar que os mesmos representam uma média, ou seja, há preços que estão sendo reajustados bem acima desses índices oficiais. Aqui em Juiz de Fora (MG), onde resido atualmente, a passagem de ônibus passou de R$ 1,55 para R$ 1,75, um aumento de 12,90%, apesar de peritos não terem encontrado base para tamanho reajuste. Com isso, a população chega a acreditar que se está governando para as elites empresariais e não para o povo. E tem mais, o atual prefeito, assim que foi eleito prometeu reduzir o preço das passagens. Promessa nunca cumprida. E para piorar ainda mais, a energia elétrica teve um reajuste de mais de 6% na semana passada. Com isso, fica muito difícil creditar que a inflação está controlada e a classe trabalhadora vem observando seu poder de compra cada vez mais corroído por esse imposto inflacionário (perda do poder de compra da moeda para a inflação).
Paralelamente, tem-se observado cada vez mais um processo de apreciação cambial, com o dólar caindo cada vez mais. Acredita-se que se continuar assim, em breve US$ 1,00 custará menos de R$ 2,00. Isso tem acontecido por causas das elevadas taxas de juros reais da economia brasileira e também por conta dos sucessivos superávits comerciais (exportações maiores do que importações). Esses fatores contribuem para uma entrada maciça de dólares na economia e com isso observamos a velha e conhecida Lei da Oferta e da Procura. Excesso de oferta de dólares na nossa economia contribui para uma queda do preço do mesmo. Como é um fenômeno decorrente do próprio mercado, chama-se de apreciação cambial. Se fosse por intervenção do governo seria chamado de sobrevalorização cambial. Isso favorece as importações, que ficam mais baratas e prejudica as exportações, que perdem competitividade no mercado internacional, pois nossos produtos ficam mais caros. E no mercado interno, a indústria nacional se vê a mercê da concorrência com os produtos importados que entram aqui mais baratos. Isso tem contribuído para o fechamento de muitas empresas e de muitos postos de trabalho. Para o governo, isso acaba sendo bom, pois o mesmo passa controlar a inflação (que não está tão sob controle) com a taxa de câmbio apreciada. Instrumento chamado de Âncora Cambial.
Em suma, os rumos da política econômica precisam ser melhores observados, pois juros altos e câmbio apreciado contribuem para certo controle da inflação (isso no ambiente concorrencial, pois como observamos nos exemplos acima, de pouca ou nenhuma concorrência, a inflação não está sob controle), mas prejudica a geração de empregos.
Fernando Antônio Agra Santos é formado em Economia pela UFAL, Doutor em Economia Aplicada pela UFV e professor em universitário em Juiz de Fora - MG ([email protected])