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A segunda onda da crise

Ninguém pode negar que 2015 foi realmente difícil. Independentemente da motivação, seja ela política, social ou financeira, atravessamos um ano de dificuldades como há muito não se via.

10/12/2015 14:43:48

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A segunda onda da crise

A segunda onda da crise

Ninguém pode negar que 2015 foi realmente difícil. Independentemente da motivação, seja ela política, social ou financeira, atravessamos um ano de dificuldades como há muito não se via.

Nós, empresários contábeis, somos uma espécie de “termômetro” da crise. Podemos facilmente identificar, na qualidade de agentes ativos no trato das questões tributárias, quais os setores e os períodos que afetam os empresários e seus mercados e como surge a escassez de recursos e/ou mão de obra.

Pois bem. Neste ano posso concluir o seguinte: não houve setorização ou sazonalidade. A crise abraçou a todos, sem distinção de credo, raça ou condição financeira.

Acompanhamos grandes empresas demitindo em massa. Participamos do sofrimento do pequeno empresário, que investiu em um negócio próprio e simplesmente não vingou. Negociamos acertos de prestadores de serviço a empreiteiras, que cancelaram contratos a esmo.

Enfim, aqueles que tinham alguma folga no fluxo de caixa se viram pressionados, tendo que lançar mão das reservas para se adaptar às novas e apertadas práticas de um combalido comércio.

Muitos foram os motivos, que não vem ao caso citar, até mesmo porque não é o foco deste artigo. Gostaríamos, isto sim, é de alertar para o que chamamos de “segunda onda” da crise.

Tal qual os Tsunamis, muitas vezes os cataclismos econômicos vêm em pares, ou mesmo em trios. As manifestações sismológicas replicam o fenômeno das ondas e seu efeito é devastador, pois após a primeira, está tudo destruído ou fragilizado. Com a chegada da segunda (ou terceira), o que já estava danificado simplesmente desaparece.

Uso essa analogia para ilustrar o que ocorrerá com as empresas neste fim de 2015 e início de 2016. A grande maioria dos afetados pela crise é de pequenos e micros empresários, que não possuem recursos nem reservas para suportar a cruel recessão que se abateu sobre o País.

Muitos seguem na reta final do ano acumulando prejuízos e trabalhando no vermelho. Neste cenário, muitas contas acabam ficando para trás, sobretudo aquelas que não são exigíveis de imediato ou que não impedem o funcionamento do negócio.

Dentre elas, temos os impostos que, mesmo para as micro e pequenas, prejudicam vigorosamente a lucratividade. A sociedade compulsória do Estado nos negócios privados resulta em gordas retiradas por meio da arrecadação fiscal.

Muitas das empresas não têm sequer perspectiva de quitação dos impostos em atraso. Porém, ocorre que, para a sua manutenção no regime de tributação simplificada, é imprescindível que todas estejam em dia com seus tributos. Afinal, é vedado àquelas que possuem débitos a possibilidade de usufruir do Simples Nacional no ano seguinte.

Muitas buscam parcelamentos dos tributos, de modo a manter a regularidade fiscal, pois o débito parcelado não é exigível em termos de cobrança. Mas é importante compreender que tal solução é tão somente protelatória.

Sem perspectiva de novos negócios ou de aquecimento da economia, as que conseguem seus parcelamentos viram o ano acumulando a parcela mensal do imposto que foi dividido e os encargos atuais devidos a cada mês. Não há fluxo de caixa que suporte tal situação.

Sob a pressão dos contadores e a ilusão da solução imediatista, os empresários caem na armadilha aplicada pelo governo de parcelar os débitos em busca da manutenção do suposto regime mais benéfico.

Diante disso, pergunto: o que acontecerá no final de 2016, quando se acumularem os débitos de 2016? Ora, faremos novo parcelamento, somando ao saldo devedor já existente valores que formarão um passivo tributário adicional a ser pago, e assim por diante.

Sabe o que acontece em 2017? Morre a empresa, juntamente com o empreendedorismo, a geração de empregos e os sonhos diretos e indiretos de todos os envolvidos no negócio.

Temos ainda aqueles que simplesmente não parcelam os débitos, por não terem recursos sequer para bancar o valor. Estes morrem da mesma forma que os outros, mas com a diferença de que sua conta será muito mais salgada, pois a exclusão do Simples os coloca em regimes tributários extremamente caros, tornando o negócio inviável.

Num estudo criterioso do fluxo de caixa, é importantíssimo o conhecimento dos impostos que teremos de pagar. Costumo dizer que o governo é como o banco, ou seja, no caso de necessidade nos valemos de certas facilidades que trarão consequências desastrosas para a empresa num futuro bem próximo.

Fique atento quanto à formação do seu fluxo e não deixe acumular contas que aparentemente são inócuas ao funcionamento do negócio, mas que num curto espaço de tempo trazem consequências negativas ao caixa.

Se Deus quiser, 2016 será diferente e você se lembrará desta leitura com descaso. Tomara que seja apenas um devaneio e que a segunda onda simplesmente não aconteça. Mas não custa nada ficar atento ao alerta das sirenes, que soam a cada dia mais fortes, anunciando um novo ano tão ou mais complicado do que este que passou.

(*) Frederico Aziz é contador, advogado tributarista e diretor executivo da NTW Pampulha.

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