Empiricamente grandes verdades foram dessa forma percebidas e somente milênios depois racionalmente encontraram um desenvolvimento capaz de ampliar o entendimento sobre a realidade.
Assim ocorreram com as concepções do átomo, da energia mental, de tantas coisas outras e, também, com a fórmula genial da partida dobrada relativamente à informação contábil.
Percepções apenas formais pouco tempo depois encontraram esclarecimentos competentes para tangerem a essência das coisas.
O débito e o crédito no registro dos fatos decorreram inicialmente da concepção de "meu" e "seu", atribuível a relações de natureza pessoal.
Há cerca de 6.000 anos, na Suméria, segundo provas arqueológicas, a escrita contábil desenvolveu-se na base de tais princípios, mas, logo depois já se ampliava ao campo das "coisas materiais", ou seja, não só evidenciando o relativo a pessoas, mas, a riquezas.
Um dos maiores estudiosos da História da Contabilidade, o professor Federigo Melis, na década de 40 do século passado já tinha convicções sobre o nascimento da Partida Dobrada naqueles referidos procedimentos sumerianos, considerada a escrita "tabular" que foi evidenciada em peças de argila.
Se ninguém ainda constatou efetivamente o autor do critério de registros em débitos e créditos, por outro lado não há dúvida que nasceu da necessidade de informação sobre a movimentação da riqueza dos empreendimentos.
Um povo que teve capacidade de criar o sistema decimal, a escrita, os números abstratos, o calendário e obteve outras conquistas do saber, sem dúvida, merece ter-lhe atribuída a invenção dos primeiros sistemas racionais dos registros contábeis e da Partida Dobrada.
O conceito de "débito" e "crédito", portanto, ligado inicialmente apenas a questões de valores a receber e a pagar, por representarem fatos relativos à vida do patrimônio, de "causas" e "efeitos" expressos em "medidas", naturalmente ampliou-se mais tarde a tudo o que diz respeito à riqueza (bens de uso e de coméfcio, capitais próprios e de terceiros, despesas e receitas).
Tal progresso foi o que deu origem ao regime de registros, este posteriormente denominado "partida dobrada".
Milhares de anos depois, conseqüência de aperfeiçoamentos constantes, quando a Contabilidade já se enquadrava dentro das convenções da ciência, Leo Gomberg, um russo naturalizado suíço, no século XIX, definiu a questão; ostensivamente fez ver que logicamente o "crédito" era uma expressão de "causa" ou "origem" dos fatos patrimoniais e o "débito" o "efeito".
Na época intensamente se buscava explicar e entender a "essência" dessa bipartição de valores na demonstração do Balanço Patrimonial.
Assim, Rodrigo Affonso Pequito, em obra, editada em Lisboa em 1875 lecionava que: "as palavras activo e passivo só, por si, não têm significação favorável ou desfavorável; indicam, simplesmente, os fatos sucedidos." (pags. 160 e 161); "Um comerciante pode ter um grande activo e estar em má posição e pode ter um grande passivo e estar em boa posição".
Concluiu afirmando que: "A diferença entre activo e passivo é que mostra a boa ou má situação".
No século XX, grandes doutrinadores como Vincenzo Masi, no século XX afirmaram ser o Ativo a evidência de um "efeito" ou "investimento", e, por isto tem contas devedoras e o Passivo a demonstração de uma "causa" ou "financiamento" e por tal razão possui contas credoras.
O "recurso" que um empreendimento obtém para constitui-se e desenvolver é, portanto, a "causa" da qual o patrimônio se deriva, ou seja, o Ativo é apenas um efeito e o Passivo é a evidência da origem, ou seja, a que "financiou" a existência da riqueza.
As ciências possuem apoio em rigorosa lógica e a Contabilidade não poderia discrepar de tal convenção.
Tal realidade, no caso, busca evidenciar uma só coisa que é a riqueza apresentando a origem ou causa no Passivo e o efeito ou aplicação no Ativo.
Não se trata de duas coisas, mas, de duas dimensões sob as quais se apresenta uma só coisa.
Ativo e Passivo são dois aspectos de uma só situação patrimonial, ou seja, a evidência de um sistema em causa e efeito.
Antônio Lopes de Sá