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Empreendedorismo na prática: Você se considera um empreendedor? Qual é o perfil do empreendedor brasileiro?

Você se considera um empreendedor? O que é necessário para se tornar um? Saiba alguns detalhes e identifique as principais características deste perfil que está dominando o mercado atualmente. Quer ser um também? Não fique parado!!

25/07/2016 11:44

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Empreendedorismo na prática: Você se considera um empreendedor? Qual é o perfil do empreendedor brasileiro?

Todos os dias pela manhã e também quando vou dormir, me inspiro em uma prece silenciosa que constantemente pede uma oportunidade de crescimento. Oportunidade como as que ocorrem com aqueles que tropeçam em uma pedra na rua e, deste simples fato resultam numa ideia milionária. Gostaria de pensar como aqueles que não se preocupam com os recursos que terão amanhã se eles forem suficientes no momento atual. Seria bom acreditar que as coisas realmente acontecem e que apenas necessitamos perseguir sonhos para colorir nossos jardins.

As características acima podem facilmente ser encontradas em pessoas consideradas pelos demais como empreendedores. Mas, o que seria basicamente tal dádiva da criação que oferece enriquecimento rápido com atitudes que em primeiro momento são consideradas malucas para posteriormente se fazerem essenciais na atualidade? O que pensam aqueles que se valeram do sucesso utilizando suas ideias? Todos podem empreender ou apenas os escolhidos e tocados pelas mãos do criador de gênios?

As singelas linhas opinativas que os fiéis leitores presenciam se basearam em um estudo que virou livro intitulado Empreendedorismo na Prática de José Dornelas onde o autor expõe seus resultados ao longo de quatro anos de pesquisas com uma equipe de quatro pesquisadores e envolvendo 399 empresários de 18 diferentes categorias. O autor buscou traçar o perfil do empreendedor brasileiro e também desvendar alguns mitos e ressaltar verdades que assombram aqueles que se aventuram pelas aguas tortuosas da imaginação.

Importante ressaltar que o empreendedor não é um ser que pode ser facilmente definido. Dentre várias definições das suas principais características, uma referida por Hornaday & Bunker (1970), me parece a mais adequada. Segundo estes pesquisadores, tais pessoas (...)”conservam em si uma grande dose de necessidade de realização, inteligência, criatividade, iniciativa, liderança, desejo de ganhar dinheiro, desejo de reconhecimento, é orientado à realização, poder, tolerância e às incertezas”(...). 

Além disto, creio que o que move o empreendedor é uma constante perseguição. Tanto quanto fanática, sua motivação se satisfaz na criação e experimentação de suas façanhas. O interessante é que a história nos mostra que nada é fantasmagoricamente novo. Ao contrário, os melhores produtos nascem das necessidades mais básicas e este é o diferencial fascinante que nos faz pensar que qualquer um poderia ter feito.

Outro estudo realizado entre os anos de 1972 e 2005 analisou 25 produções cientificas envolvendo o assunto visando identificar quais eram as palavras mais citadas pelos especialistas sintetizando as características básicas e visando entender o que mais os motiva. A necessidade de correr riscos, desejos de independência e autonomia e perfil inovador foram as três características mais citadas. Sendo a necessidade financeira alocada em 15º dentre as justificativas mais usadas para se empreender. Talvez o desafio seja o que mais motiva as pessoas já que são levadas a correr riscos apostando em um ideal. Acaba-se por vislumbrar um futuro mais confortável no sentido criativo da coisa e não financeiro ao se tornar precursor de algo.

O perfil do empreendedor vai depender dos objetivos de cada um. Porém, a pesquisa de José Dornelas aponta que alguns mitos devem ser desmistificados quando o assunto é empreender. Seu estudo aponta que os seguintes fatores considerados usuais nos grandes empreendimentos, não passam de falsas verdades. São os que seguem:

  1. Engana-se aquele que crê que os grandes negócios surgem do nada já que a maioria esmagadora dos entrevistados afirmaram que possuíam formação, tinham experiência no ramo de atividade em atuação ou visam técnicas contínuas de estudo. Não se pode conceber a ideia de que uma pessoa que não conhece e nunca atuou num ramo acorde um dia pela manhã e resolva começar a empreender. Empreendedorismo requer estudo!
  2. As pessoas egocêntricas que preferem desenvolver-se sozinhas, terão bastante dificuldade em ter sucesso nos negócios. Isso porque “Em mais de 82% dos casos, os empreendedores consideram-se bem relacionados e, destes, cerca de 62% admitem que o networking foi importante para o negócio”. Como já diziam os sábios: ninguém é uma ilha. Se o seu negócio vai bem, as pessoas vão comentar, se vai mal, as pessoas também vão comentar. E é de suma importância o bom relacionamento com as pessoas independentemente se já são clientes, potenciais clientes ou até concorrentes. O bom relacionamento é a melhor arma para a “selva” que é o mercado.
  3. Nada surge do nada. Devemos ser empreendedores de nós mesmos criando e buscando novas oportunidades onde quer que elas estejam. Não existe sorte no mercado. As coisas não acontecem por acaso. Por isso, quando a oportunidade passar, tenha seu próprio radar, como bem disse em uma palestra meu ilustríssimo amigo Sérgio Bebiano “olha a oportunidade...” agarre-a e aproveite o melhor que as escolhas têm a oferecer.
  4. Alguns negócios nascem da intuição e ela pode se dar de diversas maneiras. Mas, para que uma ideia seja produtiva e saia do papel para galgar o sucesso, ela deve ser planejada com seriedade e sabedoria. Faça um plano de negócios, teste sua ideia entre pequenos círculos, estude o mercado, trace estratégias considerando sempre a opção de dar errado. Costumamos ficar tão empolgados com oportunidades que nos parecem boas que nos esquecemos de pensar em todas as possibilidades que podem ocorrer. A intuição jamais poderá ser mais importante que o planejamento.
  5. O negócio tem um risco e todo empreendedor assume o seu risco. Porém, quando estamos no processo de planejamento, somos capazes de antecipar os riscos que envolvem o intento. Os riscos devem ser quantificados ao invés de aceitos deliberadamente. Não precisa ser como um pequeno barco em um mar agitado totalmente exposto à sua sorte. O enfrentamento dos riscos deve ser atrativo e proporcionar resultados que os justifiquem no futuro. Os empreendedores mais bem sucedidos calcularam e controlam os riscos de seu negócio. 
  6. Como já dito acima, a despeito do que podemos pensar em princípio, o ganho financeiro não é uma questão primordial para os empreendedores. Diversos são os motivos que levam as pessoas a trazerem seus sonhos para a realidade e alguns deles expostos na pesquisa com sua respectiva participação são: oportunidades aproveitadas (33,33%), influências de pessoas próximas (26,34%), desejo de autonomia (22,58%), uma demissão inesperada (18,28%), sensação de realização pessoal (17,20%), desejo de independência financeira (15,05%), poder para colocar as ideias em prática (15,05%), desejo de mudança devido a insatisfação no trabalho (11,83%), experiência no ramo (8,6%), convites de pessoas próximas (4,84%), desejo de melhorar a vida das pessoas (4,3%), sucessão familiar (2,15%), aposentadoria (1,08%) e descoberta de produtos ou serviços inovadores (1,08%). Cai de uma vez por todas o mito que afirma que os empreendedores visam ganho financeiro acima de tudo.
  7. Outro mito que devemos desmistificar é que o empreendedor vive de sonhos e que todas as portas são abertas automaticamente num mundo onde o sucesso é instantâneo. Muitos empresários empreendedores trabalham muito mais tempo que você ou eu ou qualquer outra pessoa que não seja o fornecedor de seu próprio sustento. Muitas vezes, aquela pessoa dorme e acorda com um problema na cabeça que apenas ele pode resolver e se esvai em possibilidades sem encontrar qualquer alternativa válida. Sim, na maioria dos casos eles trabalhariam 25 horas por dia se um dia não fosse composto apenas por 24 horas.
  8. Para se criar um empreendimento é necessário capital para ser investido. De acordo com a pesquisa de José Dornelas, os empreendedores não possuem o hábito de se endividar com financiamentos para iniciar o empreendimento. A maioria dos negócios de sucesso se inicia com capital próprio, de sócios ou familiares. Não raro, é possível constatar também indenizações trabalhistas sendo utilizadas para estes fins. O que importa é assimilar que é impossível empreender sem dinheiro e com o uso dos próprios recursos, os riscos são reduzidos.
  9. A maioria da classe empreendedora brasileira surgiu de famílias também empreendedoras onde se tem a figura de um pai, avô ou irmão mais velho que criaram algo e garantem seu próprio sustento. Na verdade, não se pode considerar como um dom que perpassa por gerações, mas, pode ser mais como um hábito, algo que se assimila no decorrer da vida.
  10. A grande maioria dos empreendedores de sucesso possuem modelos de referência que são os exemplos que procuram seguir e se orientar na tomada de decisão. Tais modelos podem ser exemplos familiares ou feitos de empreendedores famosos. É muito raro não se ter um modelo por isso, não há que se falar em empreendedor nato. Ninguém nasce pronto para isto. O caráter e habilidades para os negócios são adquiridos ao longo do tempo e com respeito aos exemplos já adotados.
  11. Ninguém é uma ilha. Aquele que deseja empreender deve ter em mente que não se consegue nada sozinho. Vivemos em uma grande rede de relacionamentos e necessitamos das pessoas. Por isso apenas cerca de 10% dos entrevistados não consideram as sociedades interessantes e acreditam que os sócios não agregarão valor as suas ideias. As pessoas estão cada vez mais conscientes que é benéfico ter sócios e que os conhecimentos adquiridos e compartilhados só fazem agregar valor ao negócio.
  12. Apesar de 41,22% dos entrevistados afirmarem que possuem o apoio de suas famílias, cerca de 37,02% assumiram que passaram a ter menos tempo com os seus. Realmente o início do empreendimento requer bastante dedicação e dedicação influencia no tempo em que você se disponibiliza para os seus objetivos. Podem ocorrer rompimentos nesta etapa.
  13. O empreendimento requer visão do seu genitor. As pessoas devem ter uma antecipação do futuro do empreendimento para que possam decidir sobre questões importantes. Apenas 3,03% dos entrevistados assumiram pensar apenas em curto prazo.
  14. Outro aspecto importante e que faz com que todo empreendedor seja visto como um ser diferente é o espirito de liderança. A maioria dos empreendedores acreditam na importância de bons líderes como formadores de equipe e principalmente, no trabalho de equipe. Apenas 0,72% acreditam não possuir as características cruciais para ser um bom líder e cerca de 1,45% afirmaram trabalhar sozinhos. A liderança pode ser desenvolvida por diversas formas. Um meio mais comum é em cursos de gestão onde o empresário pode aprender a desenvolver suas técnicas e trocas experiências com outras pessoas também.
  15. Ainda sobre os aspectos motivadores do empreendedor, foram considerados mais importantes o reconhecimento de mercado (29,20%), o nível de sucesso ou estabilidade (23,20%), o primeiro contrato efetivado (18,80%), alcance de metas e objetivos (15,60%), expansão do negócio (10,80%) e retorno financeiro (9,20%). Apenas 5,20% não elencaram um momento especifico. Ressaltamos mais uma vez que o quesito finanças não é grande prioridade.
  16. Assim como todo empreendimento, o caminho não é composto apenas por flores. Deste fato, podemos desmistificar mais um mito. As pessoas que estão fora do negócio tendem a crer que assim como o negócio surgiu do nada, o mesmo também não possui problema algum a ser enfrentado. Podemos considerar ter o próprio negócio até mais arriscado que trabalhar vinculado a alguma empresa já que os riscos ficam concentrados naquele que os assume. Os três mais citados são os problemas internos na gestão (27,16%), o início do negócio (24,57%) e a crise econômica (18,53%). Infelizmente, no início do empreendimento, não se tem, na maioria das vezes, maiores conhecimentos sobre gestão e pouco capital para investir em consultoria. Aliado a isto, temos que os anos iniciais do negócio são os mais críticos e as dificuldades vão desde à marketing até falta de capital humano e intelectual. É comum ver um empreendedor sentindo-se frustrado por não encontrar pessoas que acreditem em suas ideias. Já a crise é um problema que assola todos os seguimentos juntamente com a alta carga tributária praticada em nosso pais. Empreendedores afirmam que mesmo com as facilidades existentes para pequenas e médias empresas, ainda encontram dificuldades para custear seus intentos.
  17. Assim como as dificuldades, também foram elencados os aspectos positivos em se ter o próprio negócio e novamente não encontramos empreendedores tão focados em dinheiro (14,29%). Tais profissionais valorizam em sua maioria a independência de pensamento onde se tem autonomia para tomar as decisões e ações (46,43%) e a satisfação pessoal em se fazer o que gosta (38,39%). Perseguir o sonho, controla-lo e se sentir parte do mercado é fundamental.
  18. Ainda analisando os pontos críticos do negócio, os empreendedores consideram como fatores negativos a carga excessiva de trabalho (29,09%), as incertezas e riscos do negócio (25%), alta responsabilidade (20,91%), pouco tempo com a família (18,64%), impostos e demais burocracias do governo (8,64%) e conflitos com sócios (4,09%). Como já citamos acima, devido à falta de capital, o empreendedor acaba assumindo mais funções por não poder contratar muitas pessoas no início. Eles necessitam lidar com os riscos a todo o tempo assumindo grandes responsabilidades já que são detentores das decisões. Como precisam trabalhar com uma carga horária mais extensa, possuem pouco tempo com a família. Muitos empreendimentos nascem informalmente, talvez por esta razão, não tivemos muitos empreendedores preocupados com tais dificuldades. Finalmente, os sócios também foram elencados em menor número já que a maioria das empresas possuem poucos ou nenhum sócio.

Por fim, é possível traçar o perfil do empreendedor de sucesso alocando algumas características peculiares. Nosso empreendedor trabalha por um objetivo, possui algo que o motiva, sonha em se sentir realizado, atingir os objetivos de seu negócio e satisfazer o público no qual está inserido. Via de regra é uma pessoa que estuda, e muito! Ele fez faculdade, pode estar se especializando, procura treinamentos rápidos para si e para sua equipe; e por falar em equipe, ele se relaciona maravilhosamente bem com ela.

O empreendedor brasileiro é uma pessoa que entendeu que não pode alcançar seus objetivos sozinho e valoriza seus colaboradores e clientes. Também podemos dizer que ele planejou o seu negócio lapidando sua ideia até que ela tomasse uma forma mais real e possível. Falamos de uma pessoa que valoriza seus recursos financeiros e assume riscos calculados. Ele sabe que tem desafios pela frente, mas também aproveita as boas oportunidades que aparecem valorizando o lado positivo em empreender. O negócio é para si e sua família. Existem exemplos a serem seguidos e com o tempo, sua atividade se tornou um vício.

O mais importante é que não existe uma fórmula mágica ou uma característica única que englobe todos considerados empreendedores. Cada um faz o que pode com o seu nível de criatividade dentro do ambiente em que está inserido e com as qualificações e experiências que possui. Empreender é sim um poço onde todos poderão beber água e não apenas os grandes gênios. Podemos ser empreendedores em nossas casas como gestores da família, no trabalho como simples funcionários, mas, desempenhando nossa função da melhor maneira possível, desempregados almejando autonomia financeira, em OSCs visando o bem comum, no setor público e em tantos e tantos lugares que nos permitam criar e contribuir com o pouco que podemos seja em pequena, média ou larga escala.

Pessoas como Silvio Santos, Abílio Diniz, Samuel Klein e Luísa Helena podem nos ensinar bastante. Conversas francas com o dono da padaria da esquina, aquela moça que vende produtos de beleza por catálogo ou o dono do escritório mais bem pago da cidade também. Talvez até a conversa com o segundo grupo seja mais prazerosa e impactante já que temos o costume de endeusar os casos famosos. O que todos eles possuem em comum? Várias coisas.

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