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Entendendo o Venture Capitalist

O que pensa o Venture Capitalist? Entenda um pouco mais sobre sua forma de pensar e como se relacionar com ele.

20/08/2013 10:18:57

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Entendendo o Venture Capitalist

O Venture Capitalist (também conhecido como General Partner – GP) é um agente racional do sistema econômico como qualquer outro. Entender seus gatilhos, ou os incentivos que o levam a tomar decisões estratégicas de alocação de capital, aumentará de forma relevante as chances de um empreendedor em convencê-lo a aportar recursos em sua empresa.

Em primeiro lugar, vamos entender como um Venture Capitalist (GP) ganha dinheiro. Um fundo de capital de risco gera duas fontes de receita: taxa de administração e taxa de performance.

A taxa de administração consiste em um valor fixo pré-determinado por um percentual (tende a variar de 1,8% até 3,5%), calculado inicialmente sobre o total de capital gerido pelo GP (durante a fase de composição das empresas do portfólio – o chamado “Período de Investimentos”) e, depois, sobre o montante de capital investido (“Períodos de Aceleração e Desinvestimento”). Esta taxa de administração é paga regularmente (i.e. anualmente, semestralmente ou até mensalmente) e utilizada para custear as despesas operacionais do fundo (i.e. salários da equipe, advogados, viagens, entre outras).

Uma dica valiosa para empreendedores em busca de capital de risco: um GP, geralmente, tem pressa para alocar o máximo de recursos possível dentro do Período de Investimentos, caso contrário perde receitas relacionadas à sua taxa de administração. Se o fundo estiver em estágio incipiente, ele pode atuar com mais calma e estender negociações por mais tempo. Pode até perder alguns negócios jogando mais duro nas negociações. Eu nunca tive medo de blefar numa negociação com empreendedores, desde que tivesse tempo para achar outro negócio antes da queda de receita do fundo. Na prática, isto significa que o poder de barganha tende a migrar para o empreendedor conforme o avanço do Período de Investimentos. GPs com pouco capital alocado e próximo do fim de seu período de investimentos são um prato cheio para empreendedores – basta saber como conviver com eles depois =) (casamento por pressão tende a acabar mal =( ) !

Os cotistas (investidores por trás do fundo, também conhecidos no exterior como Limited Partners – LPs) buscam alinhar o interesse do GP com o deles. Fazem isso apertando ao máximo a taxa de administração e transferindo a receita do GP para a taxa de performance. Esta taxa de performance é paga no final da vida útil de um fundo desde que o retorno efetivo supere uma taxa mínima (chamada em inglês de hurdle, ou barreira) exigida pelos cotistas. No mercado de Venture Capital nacional, observamos hurdles na faixa entre IPCA+6% e IPCA+12%. A taxa de performance geralmente oscila entre 20% e 30% do que exceder este hurdle.

Como podemos perceber, o GP ganha dinheiro no sucesso de seus investimentos, e não com o capital que está sob sua gestão. Para tanto, um GP desenvolve uma estratégia de gestão de portfólio, analisando diversas oportunidades de alto risco e trabalhando com uma de taxa de mortalidade (de empresas) elevada dentro da sua carteira de investimentos. Essa estratégia de portfólio traz algumas implicações importantes sobre a forma de pensar do GP:

1. Alta expectativa e pressão sobre resultados: devido a elevada taxa de insucesso dentro do portfólio, as empresas que derem certo precisam “pagar a conta” de todas as que morreram e ainda gerar um retorno significativamente superior ao hurdle. Todo o investimento feito pelo GP deve ter um potencial de retorno estratosférico (o que, na indústria de Venture Capital, chamamos de um blockbuster). Para que isso aconteça, o empreendedor deve almejar um mercado economicamente relevante (preferencialmente, de bilhões de USD) e demonstrar que sua estratégia (inovação e como levará o mercado a adotá-la) obterá uma fatia de mercado relevante. Uma dica importante para empreendedores: já descartei muitos Business Plans sólidos porque o mercado era de nicho e economicamente pequeno.

2. Diferenças na percepção de risco do negócio: O GP espalhou seus ovos por diversas cestas, não concentrou seus investimentos em um negócio apenas. Exatamente o contrário do que faz o empreendedor. Como o empreendedor concentra seu futuro em apenas um negócio, é natural que tenha uma visão mais conservadora do que o GP. A conta é simples para o GP, pois ele tem um upside potencialmente ilimitado (pode multiplicar seu investimento por milhares de vezes) e um downside limitado a 1x seu investimento. Para o empreendedor, o risco do negócio, muitas vezes, se trata do risco de toda uma carreira profissional. Há de se saber conviver, na relação com um Venture Capitalist, com este constante desalinhamento de expectativa em termos de volatilidade do negócio. Os GPs americanos usam a expressão de baseball para descrever seus investimentos: we always swing for the fences (traduzindo: sempre miramos o homerun). Para fisgar o investidor, o empreendedor deve convencê-lo que também almeja o “tudo ou nada”, faz parte do famoso “brilho nos olhos” e “ambição interplanetária” da qual os GPs dizem sempre buscarem em seus empreendedores.

Resumindo, tenho três dicas para auxiliar empreendedores nas suas buscas por capital:

1. Entenda em que fase do Período de Investimentos o GP se encontra e quanto de capital ele já alocou. Trata-se de uma sinalização importante sobre sua disponibilidade para negociar, blefar e arriscar perder um negócio;

2. Se esforce para provar que seu mercado alvo é economicamente relevante e crescente;

3. Cuidado com o conservadorismo! Demonstre ambição e vontade de deixar um legado de alto impacto através do seu negócio.

 *Francisco Jardim é Gestor Regional do Fundo Criatec e elaborou esse artigo com a colaboração de Thiago Lobão.

Fonte: Infomoney

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