Os números da pandemia, no Brasil, começam a arrefecer, mesmo considerando que o feriado de 7 de setembro possa ter contaminado um pouco os índices no curto prazo. Nos Estados Unidos, vemos o oposto, embora este mês já mostre, pelo menos, estabilidade, dado que, em agosto, o crescimento foi exponencial. Como base de comparação, o número de óbitos no Brasil está em 2 mortes/milhão por dia, com média móvel de 15 mil casos diários, enquanto no país norte-americano, o número pula para 5 mortes por milhão e 170 mil novos casos.
Esta diferença já é sentida nos dados econômicos. Na última divulgação sobre o mercado laboral estadunidense, foram contratados, liquidamente, em agosto, 235 mil novos trabalhadores, enquanto a expectativa de mercado era de 720 mil postos. Além disso, este dado aberto revela uma situação preocupante: o número de postos de lazer e hospitalidade se manteve constante após seis subidas médias de 350 mil novos postos – e se contarmos apenas bares e restaurantes, houve mais de 40 mil baixas.
Outro dado alarmante para o mercado de trabalho norte-americano é que o nível de salário em agosto subiu 0,6%, em agosto, e 4,3% no acumulado do ano. E o número de pessoas não dispostas a trabalhar em decorrência da pandemia subiu de 5,2 milhões, em julho, para 5,6 milhões, no mês passado. O que parece estar acontecendo é que, mesmo com a economia mais fraca, os empresários não estão demitindo, dado a dificuldade de contratar depois. Se a crise for temporária, não haverá maiores problemas; se for duradoura, apresentará um problema muito sério para esses empresários.
Os dados e o varejo no Brasil mostram um cenário melhor. O índice da Pesquisa Mensal de Comércio, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (PMC-IBGE), apontou alta de 1,2% em julho – o mais impressionante foi a forte revisão do resultado de junho (0,9%), após a divulgação inicial da queda de 1,7%, mudança explicada pelo ajuste padrão da série, provocada pelo algoritmo de dessazonalização, segundo o IBGE.
O fato de o Brasil não ter sentido, pelo menos por enquanto, os efeitos da variante delta ajuda nesta evolução, uma vez que o varejo já está no pico histórico da série, e não apenas voltando ao índice pré-pandemia. Em que pese o cenário negativo de instabilidade política e inflação alta, o cenário ainda é ligeiramente positivo.
Entretanto, ainda temos uma heterogeneidade muito grande entre setores: apesar de o índice registrar o pico histórico, alguns setores apontam números muito negativos: o indicador de equipamentos para escritórios está quase 27% abaixo do período pré-pandemia, ao passo que combustíveis está 23,5% aquém. É notório que a pandemia trouxe mudanças, mas ainda devemos presenciar alguns ajustes entre setores.
A preocupação que une os dois países é a inflação. Ambas estão acima da meta – e sem tendências visíveis de queda. Para tentar corrigir isso, o Brasil aposta no aumento significativo de juro, enquanto nos Estados Unidos ainda se discute a diminuição dos incentivos financeiros. De qualquer maneira, nos dois casos, a tendência de médio prazo será um aperto monetário, que deve diminuir a janela de crescimento de longo prazo. Por isso, as estimativas para o Produto Interno Bruto (PIB) destes países, em 2022, são menos exorbitantes do que neste ano.
Talvez aqui, no Brasil, estejamos perdendo um momento muito positivo para a economia. Commodities com preços altos, juros internacionais baixos, mercado de trabalho que pode fornecer mão de obra sem pressão nos custos e melhora nas condições da crise sanitária. Só precisamos de duas coisas: estabilidade política e austeridade fiscal. Se tivéssemos ambas, poderíamos crescer muito mais. Vamos esperar que, a partir de agora, possamos gozar desta estabilidade.