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Exame de Suficiência retoma valorização profissional

Avaliação, que garante a obtenção do registro para exercício da profissão, aumenta a cobrança sobre instituições de ensino.

16/04/2014 10:40

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Exame de Suficiência retoma valorização profissional

A contabilidade é, sem dúvida, uma das atividades que mais sofre alterações cotidianamente, seja por meio das novas exigências do fisco, como, por exemplo, o tão falado eSocial (Sistema de Escrituração Digital das Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas) ou das alterações nas leis que regem a prática profissional – como a recente aprovação da MP 62 que, basicamente, altera o regime de tributação das empresas multinacionais brasileiras. Aos profissionais da área, cabe se qualificar para acompanhar todas as mudanças e, quem sabe, transformar os desafios em oportunidade.

Coincidência ou não, em 2011, no mesmo ano em que um levantamento da Receita Federal apontava para a necessidade de qualificação do profissional para manter-se no mercado – segundo a análise, cerca de 40% dos contadores deixariam de prestar serviço no mercado nos anos seguintes por não conseguirem acompanhar o grande desenvolvimento tecnológico – uma ferramenta de nivelamento, extinta em 2004, voltava à ativa. Trata-se do Exame de Suficiência de Contabilidade, que serve de pré-requisito para a realização do registro profissional, item obrigatório para exercer a Contabilidade.

Realizado semestralmente, o teste representa mais do que a possibilidade de integrar o time de contadores e técnicos em contabilidade reconhecidos pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC). Ele ajuda na avaliação das instituições de ensino e contribui para a valorização profissional ao exigir que todos tenham um mínimo de conhecimento das matérias (a nota mínima para aprovação é de 50 pontos). 

O exame vem para certificar a importância da boa prática contábil dentro da empresa ou no auxílio à pessoa física, já que, de acordo com o Decreto Lei 9.295, todos podem ser multados caso contratem o trabalho de um profissional sem registro. “Mesmo que em julho de 2015 a emissão de registro de técnico em contabilidade seja extinta, esperamos que a prova continue tendo a mesma força. O Exame de Suficiência em si tem tudo para se tornar um balizador daquilo que veremos no mercado de trabalho”, afirma o supervisor do exame no Rio Grande do Sul e diretor de operações da Fundação Brasileira de Contabilidade (FBC), Luiz Mateus Grimm.

A edição mais recente do concurso, realizada no dia 6 de abril, mobilizou aproximadamente 55 mil candidatos até os mais de 100 locais de prova situados em pequenas e grandes cidades de todos os estados do País, um novo recorde de participação. No Rio Grande do Sul, um dos estados com maior índice de aprovação nos anos anteriores – em 2013, 53,61% dos contadores gaúchos passaram na prova, sendo que a média nacional ficou em 43,14% –, cerca de 3 mil pessoas compareceram em um dos 15 municípios onde o exame foi aplicado.

Cursos preparatórios ganham cada vez mais espaço

Na tentativa de garantir o ingresso na profissão, os cursos preparatórios para o Exame de Suficiência podem ser uma boa alternativa aos alunos, e constituem um novo nicho de mercado em ascensão. 

De acordo com o presidente do Instituto Insero, um dos cursos preparatórios para o exame, Wilson Hamilton Danta, as provas estão difíceis e os estudantes vão em busca de um cronograma direcionado ao exame. Com apenas dois anos de existência, o instituto conta com uma média de 70% de aprovação e preparou uma turma de mais de 20 alunos para o último exame. 

Responsável pelo curso de preparação na área contábil do Centro de Treinamento e Cursos Porto Alegrense (Cetec), o contador Matheus Brum explica que o mercado de cursos voltados apenas para profissionais contábeis ainda está engatinhando. “Muitas vezes, existe certo preconceito do aluno. Alguns entendem que devem economizar o que investiriam no curso preparatório priorizando o estudo em casa. Da mesma forma, as instituições de ensino não incentivam a procura de um curso preparatório”, lamenta. Contudo, Brum lembra que a prova ainda é um tabu e segue apostando no crescimento desse mercado. 

Contrariando a tese de que as universidades seriam contra cursos preparatórios ao exame, a contadora e professora da Ufrgs Ana Tércia vê com bons olhos o fato de mais pessoas lançarem mão de uma preparação exclusiva para o exame. “Antes, havia até boicote à prova. A realização de um cursinho demonstra a seriedade com que as pessoas estão encarando a avaliação”, reflete.

Os gabaritos preliminares das questões objetivas foram divulgados nos sites da FBC  e do CFC na quarta-feira passada, conforme previsto no edital de 2014. A relação dos aprovados será publicada no Diário Oficial da União e divulgada nos mesmos sites em até 60 dias após a data das provas.

Candidatos dizem estar preparados para a prova

Pela primeira vez prestando o Exame de Suficiência, o contador recém-formado Leonardo Cardoso de Menezes faz coro às vozes que defendem a exigência da avaliação para comprovar a qualidade dos profissionais no mercado. Para ele, o concurso deve fazer com que as pessoas busquem mais qualificação. “Estou tranquilo com a prova porque vi que o conteúdo exigido é o mesmo com que tive contato na universidade”, disse Menezes, confiante no seu bom desempenho.

A contadora e professora da Ufrgs Márcia Bianchi destaca que o exame cobra maior dedicação dos alunos durante o curso. “Os reflexos da prova no mercado já são perceptíveis, mesmo que indiretamente. O exame pode ser considerado recente e ainda não apresentar, por exemplo, o mesmo respaldo que tem o da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), porém, acreditamos que estamos no caminho certo”, destaca Márcia.

Formato ainda motiva questionamentos

A técnica em contabilidade Marina Rangel mantinha o otimismo na sua aprovação, mas trazia à tona uma questão polêmica: a escolha dos conteúdos abordados e sua afinação com a cobrança feita pelo mercado de trabalho e a prática profissional. Com experiência em um escritório de contabilidade da família, Marina contou que havia se preparado tendo como principal material de estudo as provas anteriores e destacou que talvez falte um olhar mais atento àquilo que assola o cotidiano dos contadores. “Várias questões tratam de temas que os contadores só teriam de saber se trabalhassem em grandes empresas, em multinacionais. Questões ligadas ao Simples Nacional e à contabilidade trabalhista, que atingem a maior parte dos profissionais atuantes, são poucas”, reclamou Marina. 

MARCO QUINTANA/JC

“Mas o exame nem tem essa pretensão”, responde a professora de Ciências Contábeis da Ufrgs e vice-presidente de Gestão do Conselho Regional de Contabilidade, Ana Tércia. Para ela, uma prova como esta realmente não tem como abordar questões práticas e pode ter grandes problemas se passar a buscar isso. 

A grande intenção, segundo a contadora, é contribuir para a mudança de postura no cenário acadêmico. “Além da preocupação do aluno em ter um bom resultado, as instituições de ensino também estão vendo que precisam trabalhar os conteúdos exigidos de forma mais séria ou terão índices baixos de desempenho”, ressalta Ana Tércia, lembrando que os estudantes são os maiores divulgadores das organizações educacionais.

Na contramão da teoria de que o exame não avalia questões mais ligadas à prática contábil, a professora e contadora Márcia Bianchi garante que o exame contempla, sim, os temas acadêmicos e do dia a dia. “A prova tem qualidade e aborda questões teóricas com conceitos e legislação e questões práticas como lançamentos contábeis”, defendeu Márcia, avisando, ainda, que o grau de dificuldade deve aumentar com o tempo.

Por: Roberta Mello

Fonte: Jornal do Comércio

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