Esta situação de "fiel confidente" e "iluminado guia", vivenciada por diversos profissionais, deve remeter a classe contábil brasileira para uma revisão do valor que pretende associar à profissão. Refiro-me aqui, ao fato de que orientações e consultorias devem estar respaldadas pela ética e garantidas por intrínseco conhecimento especializado. Neste aspecto, o diferencial que agregará valor ao cliente (e por conseguinte ao valor contratado para a prestação de serviços) consiste em não esquecer dos desdobramentos gerados por tais posicionamentos, já que estes influem invariavelmente na gestão dos negócios de um cliente.
Anos atrás, houve uma desordenada corrida para se estabelecerem empresas do tipo on-line. Sob os olhos e as promessas de empresas de venture capital, a internet foi "invadida" por idéias e idealizadores. Recebeu recursos, amadureceu e hoje acentua-se em um processo de seleção natural dos bons empreendimentos. Daquele boom que agitou os primórdios da internet, permaneceu on-line que foi competente. Ora, quem ficou pelo caminho teve que reiniciar, reaprender.
Ao pretender ensaiar uma analogia com o que ocorrera com a internet em tempos idos, cito a força do verbo de Gibran Khalil Gibran para chamar a atenção daqueles a quem é devido: "o vento não fala com maior doçura aos carvalhos gigantes do que à menor das hastes da relva". O setor de prestação de serviços contábeis mais e mais se encaminha para um processo onde a qualificação profissional é questão de sobrevivência para o exercício da profissão contábil, isto é fato. Definitivamente, não há mais lugar para condutas ou práticas amadoras, quais sejam, éticas, técnicas ou tecnológicas.
Sob a égide de uma seleção natural, ouso profetizar um futuro nada otimista aos profissionais da contabilidade incapazes ou indispostos a quebrarem paradigmas relativos à sua condição no mercado brasileiro. A propósito, lhes bastaria um pequeno exercício de elaboração de um planejamento estratégico das empresas de prestação de serviços contábeis, elencando o rol de ameaças, por exemplo, para diagnosticar uma previsível inércia ou despreparo. Conquanto, se houver uma posição pró-ativa de comprometimento com a profissão contábil, crescimento ético, qualificação contínua e abstração dos fatos e tendências mundiais, entendo que ao colocarem em prova a extensão e a profundidade de suas competências, habilidades e atitudes, poderão em maior ou menor dimensão, "permanecer on-line", quero dizer, ter lugar e reconhecimento profissional.
Tal qual um "confessor" orienta seu "fiel", deve-se corrigir - com educação continuada - a miopia que impede alguns profissionais de enxergar além das questões de impacto tributário e fiscal (indiscutivelmente importantes). A longevidade dos negócios de milhares de empresas brasileiras, dependem também da preparação e de uma visão de controladoria neopatrimonialista do contador contemporâneo.
Dos bancos escolares já ecoa a necessidade de formação qualitativa moderna: criativa nos métodos e na ação, afinal, os currículos de formação superior e a eficácia dos docentes evidenciam-se perante às exigências de um mercado onde competem organizações de diferentes portes, origens e capitais. Nossos alunos de hoje, estão sendo preparados para o nobre exercício da profissão contábil, em uma realidade de acesso livre à informação. A internet vem contribuindo para acelerar o processo de aprendizagem, sendo parceira do professor ao pretender formar líderes sintonizados com questões globais e atuantes nas discussões locais.
As empresas de serviços contábeis vêm tornando-se para muitos acadêmicos de ciências contábeis a oportunidade de ingressar efetivamente na profissão. Afora sua importância para o desenvolvimento da economia, através de seu papel de "guia espiritual" da grande massa de empresas do país, estas empresas de serviços contábeis - há muito deixaram de ser "escritórios de contabilidade" - possibilitam o surgimento de brilhantes carreiras (que talvez aquele meu amigo citado no início deste artigo, chamaria de "gurus") além de milhares de outros postos de trabalho diretos e indiretos. Este quadro, por si, já justificaria um maior reconhecimento dos governantes para com a classe contábil. Aliás, se é verdade que a elevada carga tributária imposta às empresas brasileiras é geradora de negócios com enfermidades crônicas, aniquilando empregos e intimidando empreendedores potenciais, a passividade de um contador nas discussões é, no mínimo, inadequada e insensível. As lutas e prioridades das entidades representativas da atividade contábil são justas, prudentes, revestidas de amplos debates e merecedoras de apoio e cumplicidade.
Marcos Aurélio Custódio - Contador pela UNIVILLE; Professor do Instituto
de Ensino Superior de Joinville
Mestrando em Ciências Contábeis pela FURB; Registro no CRC/SC 19719/O-2;
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