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As Instituições Financeiras e as Taxas de Juros

28/11/2006 00:00:00

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As Instituições Financeiras e as Taxas de Juros

Conforme ensinam os especialistas, as taxas de juros constituem uma das variáveis mais importantes para o bom funcionamento da economia. Isso porque o nível de taxas bem ajustadas tem papel fundamental na determinação do nível de atividade econômica, do emprego, da taxa de cambio e das demais variáveis da economia de uma nação.

Se a "calibragem" da taxa de juros é determinante no equilíbrio da economia, podemos então afirmar que temos sérios problemas em se tratando na nossa economia: temos as taxas de juros mais altas do mundo, com o agravante de uma elevada carga tributária e outros custos agregados pela burocracia e dificuldades de iniciar e manter um empreendimento no Brasil.

É inegável a importância para a economia de um País a capacidade de sua população de fazer reservas financeiras, ou seja, não canalizar todas as suas receitas financeiras para o consumo imediato, mas fazer reservas para utilização futura. Também sabemos que a melhor e mais segura maneira de fazer tal reserva é colocando aos cuidados de uma instituição financeira. Esta, além da guarda, pode oferecer rendimentos pelo uso que fará de seus recursos enquanto lá estiverem.

Praticamente não existe brasileiro economicamente ativo que não conheça - mesmo que superficialmente - a caderneta de poupança. Também, não é para menos: a caderneta existe no Brasil desde 1860. A partir de 31 de outubro de 1968, com a edição da Resolução 29 do extinto Banco Nacional da Habitação - BNH, ficou regulamentada a abertura e movimentação de contas de poupança do publico nas Instituições Financeiras o que fez com que, atualmente, seja a forma de preferência de 85% dos brasileiros que tem algum tipo de aplicação e/ou investimento financeiro. São cerca de 70 milhões de poupadores num montante aproximado de R$ 175 bilhões, dos quais R$ 139 bilhões direcionados ao financiamento habitacional.

Por outro lado, não menos importante é a capacidade de investimentos de capital dos agentes econômicos. Aliás, é aspecto de fundamental importância, tendo em vista sermos empreendedores em potencial. Novamente entram em cena as instituições financeiras, pois é delas o papel de intermediação no mercado, conciliando os interesses dos que têm excedentes para investimentos financeiros e os que necessitam para investimentos de capital (em especial para abertura de e/ou expansão de novos negócios).

A taxa de juros aplicada tanto para remunerar o investidor quanto a ser cobrada do financiado vai ter influencia direta na atividade econômica, nível de emprego, etc. pois, se a taxa de juros cobrada do financiado/investidor não tiver uma correlação de equilíbrio com a taxa de retorno do seu investimento, possivelmente o projeto tende a ser inviabilizado. Isso resulta em inadimplência, menos empregos, menos impostos, além de outros reflexos de nível pessoal e familiar, ou seja, é péssimo para todos.

Importante destacar também que, mesmo com taxas de juros baixas, se o projeto empresarial e/ou pessoal não for bem planejado e medido, a sua taxa de retorno, ou seja, o custo financeiro despendido na busca deste financiamento, tem que ser pago pelo retorno financeiro oriundo do negócio e/ou projeto. Parece óbvia tal observação, porém não é raro, ao analisarmos as razões de um fracasso empresarial, verificarmos que tais medidas não foram efetuadas. Em muitos casos, a taxa de juros paga ao financiador é superior à taxa de retorno, além de não ficar corretamente dimensionada a carga tributária e/ou outras variáveis determinantes na continuidade do projeto.

Para não fugir muito do tema nuclear que queremos abordar, isto é, a taxa de juros, entendemos como fundamental a parceria das instituições financeiras, em especial as de varejo ou bancos comerciais. Cabe a elas a honrosa missão de fomentar o mercado como um todo apoiando os empreendedores de todas as ordens, bem como assessorar os clientes e potenciais clientes no equacionamento de suas necessidades de caixa de diversas origens.

Nem sempre a necessidade de recursos financeiros tem origem em novo empreendimento, mas de endividamentos diversos, e isso vem acontecendo em ritmo vertiginoso. Não fica difícil detectar tal fato, bastando dar uma rápida olhada no montante de crédito realizado por pessoa física com recursos livres em outubro de 2006, que atingiu a cifra de R$ 189,1 bilhões, sendo que o crédito pessoal é o líder das operações financeiras nos bancos de varejo.

Numa visão mercadológica, podemos afirmar que o segmento de bancos de varejo nunca vendeu tanto e um produto nada barato, pois as taxas de juros ainda estão elevadas apesar da queda comparada com setembro de 2005 quando iniciou o ciclo da baixa da SELIC. Muitos bancos insistem em manter os seus Spreads elevados, pois não apresentam uma queda proporcional à queda da SELIC, com agravante que a taxa média das operações com empresas teve até mesmo uma elevação. Segundo o Chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, isto ocorre pelo aumento de novas pequenas empresas realizando operações financeiras, elevando risco de inadimplência.

Aliás, um dos vilões apontados pelas instituições financeiras para manutenção das taxas elevadas é o risco de inadimplência dos "pequenos". Entretanto, um estudo da FIPECAFI - Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras elaborado por renomados Professores e Doutos no tema dá conta que realmente os lucros dos bancos não são exatamente os divulgados na imprensa de um modo geral, porém não demonstram que o fator inadimplência seja tão significativo assim, mas que tal margem estaria distribuída basicamente no custeamento de pessoal, remuneração dos investidores, carga tributária e retorno aos acionistas.

Analisando alguns tópicos pontualmente, podemos dizer que o risco de inadimplência está inserido em qualquer atividade comercial, indústria e/ou serviços e que necessariamente não significa perda, pois pode ainda ser recuperado. No caso das instituições financeiras, acreditamos que, na sua maioria, é recuperável. Outro aspecto é que o risco de não receber está diretamente associado com o valor do produto comprado, ou seja, quanto mais caro maior é o risco. Quanto ao custo de pessoal, é evidente que a empresa deve compor no seu preço final todos os custos de venda de seus produtos e/ou serviços. Porém no caso especifico das empresas em questão, temos que considerar que além da taxa de juros em si que pagamos numa operação há agregados como taxas de serviços e outros produtos financeiros, como seguros, planos de capitalização (comprados "espontaneamente") e outros. Em muitos casos, a empresa é estimulada, ainda, a manter uma carteira de cobrança e outras formas de gerar saldo médio na sua agência bancária. O resultado é que a "reciprocidade" (palavra adorada pelos gerentes de bancos) acaba sendo muito positiva e a Taxa de Retorno para o financiador bem mais alta do que a contratada.

Não endosso diversas manifestações de alguns amigos e clientes que por vezes valem-se de adjetivos nada dignos referindo-se aos bancos em geral, ou aqueles que se incomodam com os lucros dos bancos pura e simplesmente, pois entendo que o lucro, quando oriundo de operações licitas e éticas, é resultado de trabalho competente. Mas uma instituição financeira não pode ser vista como um empreendimento industrial qualquer. Seu papel .
social é de vital importância, não podendo se valer de forma oportunista (mesmo que lícita) da situação de uma economia desorientada.

Já que nossa economia parece que caminha para o ajuste, com inflação baixa e o Banco Central acenando com a queda da SELIC, cabe agora aos bancos de varejo fazerem a sua parte, que objetivamente é baixar os níveis de seus Spreads. Por que o tomador de empréstimos que cumpre rigorosamente com as suas obrigações não é desagregado da parcela de risco da qual não faz jus? Se paga, teoricamente, pela inadimplência, por que não se beneficia da adimplência?

Finalizando, apresento minha crítica a alguns bancos de varejo, principalmente os grandes conglomerados. Por vezes verificamos economistas de renome dando entrevistas em sua defesa, bem como belos e caros comerciais. Mas ao chegar numa agência, encontramos um Gerente de Contas que apenas sabe consultar o computador, seus normativos e manuais internos. Em alguns casos, tais gerentes parecem nem ao menos entender o funcionamento do Mercado Financeiro. Para desempenhar com competência o serviço a seus clientes, o profissional da área bancária (especialmente o de nível gerencial) tem que agir como consultor financeiro e não meramente como atendente limitado ao "sistema interno".


CONCLUSÃO:

Até por obrigação técnico-profissional não podemos desconsiderar que as taxas de juros são determinadas levando em consideração principalmente as variáveis Tempo, Risco e Oportunidade. Não se pode superdimensionar qualquer variável simplesmente para abocanhar uma parcela maior de lucratividade, até mesmo porque se pode ter um ganho de escala à medida que mais pessoas e empresas possam ter acesso ao crédito e o risco de inadimplência diminuir. Sendo assim, o que pretendemos é crédito com taxas de juros menores e que os lucros das instituições financeiras continuem, porém de forma justa e ética.

ROBERTTO ONOFRIO
[email protected]
www.roberttoonofrio.com.br

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