Inicialmente vou narrar um fato do cotidiano que somente confirmam minha assertiva inicial: quando vamos a um supermercado fazer compras e chegamos ao caixa, e no final da conta percebemos que está faltando um centavo de troco, quase nunca fazemos questão do mesmo. Deixamos para lá e vamos embora. E o pior é que às vezes o funcionário do caixa nem dá qualquer satisfação de que o troco está incompleto, faltando aquela moedinha de um centavo ou quando muito diz "posso ficar devendo um centavo?" Quando dizemos não e queremos o nosso centavo de direito, às vezes somos taxados de miserável e pão-duro. Isso é uma completa inversão de valores: aquele que exige a moedinha passa a ser o chato, mas aquele que ignora e/ou fica com vergonha de pedir o troco completo é que passa a ser o certo. Sei que um centavo a mais ou a menos não vai fazer a riqueza ou a pobreza de ninguém. Mas também sei que se o supermercado ficar com um centavo de alguns clientes, ao longo do dia o somatório das moedinhas pode alcançar quantias consideráveis. Mas não é bem isso o meu objetivo principal.
O que mais quero chamar a atenção é muito mais do que o valor econômico da moeda de um centavo. Quero destacar lados psicológicos, sociológicos e até antropológicos que podem estar atuando no inconsciente das pessoas e com isso, elas nem percebem que suas atitudes individuais omissas pode estar contribuindo para um sério problema macroeconômico, que é a aceitação passiva da corrupção. Como dizia minha falecida mãe Gilda (que Deus a tenha), "quem rouba um tostão, rouba um milhão", isso quer dizer também que quem aceita deixar para lá o seu um centavo de modo pacífico, inconscientemente está aceitando deixar para lá bilhões de Reais que são arrecadados com os impostos e não são revertidos para a população que é de direito. E isso realmente faz sentido. Por que será que o brasileiro, de um modo geral, aceita a corrupção como algo "normal"? Aceita o "rouba ma faz". Além dos mecanismos de alienação em massa que nossos governantes sempre utilizaram para deixar a população em letargia e se sentir impotente para lutar por seus direitos, o fato de não fazer questão nas mínimas coisas, como é a exigência da moedinha de um centavo (para que seu troco fique correto) contribui para tornar ainda mais as pessoas passivas e aceitarem ser garfadas por esses gatunos que compõem a banda podre da política brasileira, que ingressam no meio político com um único fim de enriquecer ilicitamente às custas do dinheiro da nação. Ainda bem que nem todos são assim e ainda existem políticos honestos.
Em geral, o que quero dizer é que, caros leitores, passem a exigir o seu troco correto, mesmo que seja um centavo, pois assim, individualmente e agora conscientemente poderemos estar dando um grande passo para exigirmos um país melhor.
Fernando Antônio Agra Santos é formado em Economia pela Universidade Federal de Alagoas e Doutor em Economia Aplicada pela UFV - MG e Professor Universitário em Juiz de Fora - MG ([email protected])