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Contabilidade: ciência ou loucura?

03/01/2007 00:00:00

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Contabilidade: ciência ou loucura?

Inúmeros trabalhos, incluindo artigos, palestras e outras formas de expressão, têm se reportado à contabilidade, analisando-a sob diversos aspectos, geralmente técnicos. Seus autores, profissionais sérios, de valor indiscutível, fazem jus à sua reputação. Seus leitores, ávidos por novos conhecimentos, neles têm encontrado boa fonte para seu enriquecimento profissional.

Porém, em que pese a seriedade e a profundidade das técnicas empregadas, é preciso analisar a contabilidade também por um outro ângulo: o do humor. É preciso desopilar para fazer bem ao fígado, antes que ele nos aplique um drible. E aqui olhamos a contabilidade como naquelas ocasiões em que procuramos uma ínfima diferença de R$ 0,10, consumindo às vezes um dia inteiro e passando para o dia seguinte. Quando chegamos a encontrar a maldita e ínfima diferença, que nos consumiu tanto tempo, esbravejamos: Contabilidade é coisa de doido!

Também, pudera! Imagine-a séculos atrás, na época das partidas simples. Devia ser uma zorra! Anotavam-se os valores ligados a alguma coisa. Mas, só isso? Sem uma contrapartida para cada valor, como saber o que estava sendo feito? Se comprei alguma coisa, devo a alguém? Se vendi, obtive lucro? Espera aí! Isso existe nas partidas dobradas. Naquela época não havia isso. A coisa devia ser torta, mesmo.

Diz a sabedoria popular que "remédio para doido é outro doido". Pois é! E surgiu mesmo. Tão doido que, por vocação, deveria ser contador: foi ser frade em um convento. Luca Pacciolli era o nome do frade-contador. E o que havia de semelhante em atividades tão diferentes? Ao invés do livro-caixa, foi ler o livro dos salmos. Aleluia! Quando Luca Pacciolli leu, na prece de São Francisco, "é dando que se recebe; é perdoando que se é perdoado", sua inteligência fez acender uma lâmpada - que na época também não existia. Mentalmente deve ter dito: Eureka! Não é que ele encontrou ali os fundamentos das partidas dobradas? A cada débito corresponde um crédito; não há devedor sem credor e vice-versa. Se não foi ali, onde foi então? Foi aplicando esses princípios que Luca Pacciolli conseguiu aperfeiçoar a prática contábil, e isso o levou a escrever o seu Tratado de Contabilidade. O Tratado foi um marco na história da contabilidade, dando início ao que hoje conhecemos por contabilidade moderna.

Mas, se hoje a contabilidade é moderna, não o é desde aquela época. Ao longo dos tempos foi passando por diversas transformações. Isso nos permite supor que outros doidos também aderiram às doidices do frade-contador. Foi assim que evoluímos das velhas fórmulas "diversos a caixa", "caixa a diversos", "diversos a diversos" e lhes aplicamos nova roupagem. Hoje podemos dizer que a contabilidade é a mesma coisa, sendo diferente (definição de doido). Na época do frade, escriturava-se nos livrões usando pena de ganso ou de pavão: hoje se faz no computador. E quando finalizamos o ano e levantamos (estava deitado?) o balanço, com ativo e passivo fechadinhos, sem aquela ínfima diferença de R$ 0,10, surge alguém para dizer: Isso é coisa de doido!

Não apenas isso. Algumas "inteligências", em nada bem intencionadas, legislaram em causa própria estabelecendo a responsabilidade solidária do contabilista. Se o cliente comete fraudes, ou se sonega, também o contabilista será responsabilizado. Ou seja, mata-se a vaquinha porque alguém adicionou água ao leite. Por essa linha de pensamento, também deveriam estabelecer a responsabilidade solidária dos advogados. Assim, nenhum deles poderia assumir a causa da maioria dos políticos brasileiros, o que seria altamente benéfico e lucrativo para o País. Mas isso eles não querem: só para os contabilistas. Criticam a pirataria em todos os campos, sendo eles os maiores piratas, que vivem enganando os eleitores. E nós, contabilistas, agüentamos tudo isso! Só sendo doido mesmo!

Se Luca Pacciolli se levantasse do túmulo e conhecesse a evolução da sua obra, certamente não ficaria surpreso. Inteligente e doido como era, não duvido nada que pretendesse aperfeiçoa-la ainda mais. Talvez pretendesse criar as partidas triplas, ou quádruplas (???). Para entender como seria isso, só mesmo fazendo um longo exercício de imaginação... ou de loucura. E com tantas loucuras juntas, já pode até haver alguém indagando se o autor também é louco. Louco? Sou, mas quem não é?

Carlos José Pedrosa é catarinense de Biguaçu, radicado em Alagoas. Tem formação em contabilidade, sendo um profissional autônomo oriundo da iniciativa privada. Com mais de 40 anos de atuação em banco, na indústria siderúrgica, metalúrgica, mecânica e de laticínios, no comércio, no setor jornalístico, em estatal de abastecimento e no setor público. www.cjpedrosa.webcontabil.com.br - [email protected]

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