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Ser Presente

25/12/2006 00:00:00

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Ser Presente

Os cenários da vida se modificam a cada instante.
Ao refletirmos sobre os anos passados muitas vezes nos conscientizamos que alguns deles não foram valorizados como mereciam ser.
Nem tudo o que nos foi permitido teve de nossa parte o aproveitamento necessário.
Deixamos muitas vezes escapar por entre os dedos muitas felicidades e oportunidades que em mãos tivemos.
Incontáveis, quase sempre, são as horas perdidas com relação às convivências pessoais que melhor poderíamos ter desfrutado.
Hoje, não mais presentes os cenários oferecidos, muitas vezes se expressam apenas em remorsos ou saudades.
Seres que poderiam ter sido mais bem considerados, lugares magníficos pelos quais passamos, não os tendo mais, levam-nos a reflexões sobre o valor do presente, este como uma oportunidade a ser bem avaliada.
Nem todos sabem valorizar o que possuem como dádivas do destino.
Não é raro, às vezes, até o desperdício de presenças amadas para substituí-las por preocupações e tristezas nem sempre justificadas.
A análise dos tempos idos, a lição que nos deixaram, retrata sob certas circunstâncias até perdas, derivadas de omissões do presente substituído por ansiedades sobre um futuro.
Nada justifica menosprezar uma oportunidade oferecida e quando esta não é intensamente vivida será uma sonegação de felicidade feita a nós mesmos.
Nossos semelhantes influem sobre nossas vidas, nós sobre a deles, mas, necessário se faz que bem se absorvam as boas presenças e com elas construamos a utilidade reclamada pelo destino.
Existem pessoas que de tal forma contribuem para nossa razão de ser e construção de nossos pensamentos que quando valorosas devemos fazer que preencham o máximo em nossas horas.
Assim ocorreu, por exemplo, com o excelso Dante Alighieri (1265-1321) cuja obra mudou até os rumos do próprio idioma italiano, todavia, fruto da influência filosófica e de retórica de Brunetto Latini e da amizade com Guido Cavalcanti, presenças importantes e decisivas.
A rebeldia de Brunetto quanto à forma de escrever, recusando-se a seguir o padrão da época, foi uma determinante na vida de Dante, inclusive fazendo com que este se tornasse mais famoso que aquele (embora só tardiamente isto fosse reconhecido).
Não tivesse existido a consciência do presente e talvez à humanidade se tivesse sonegado uma das obras mais famosas da literatura mundial.
Cada unidade de tempo que nos é permitida é, pois, uma responsabilidade não só para conosco, mas, para com a vida, esta que é uma passagem dentro de um complexo tão grandioso.
Embora sobre a existência de Dante mais lendas que verdades se conheçam, a sua obra, todavia, é de tal significação que bem explica o que conseguiu fazer com e de seu tempo.
Mesmo submetido a todas as agruras que parece ter sofrido (até o túmulo a ele negaram em Florença) o genial italiano não foi ausente em seu presente, construindo uma das mais expressivas participações culturais de que se tem noticia.
Deixou o poeta, logo no Canto I de sua Divina Comédia, a grande lição de que são sabedoria e amor os que conduzem o ser humano a encontrar-se (inicia sua obra dizendo-se perdido e depois segue a sua trilha discorrendo sobre os comportamentos humanos, as grandezas e as torpezas da existência).
Observou que mesmo perdido e ameaçado um ser que se encontra e dispõe a viver cada momento sob a ação do espírito é competente para justificar ter vivido.
No Canto II, como estimulo a ação deixou claro que o homem não deve ser como um irracional que teme a própria sombra.
O presente é, pois, a nossa eternidade e dela fazemos o que nos é permitido e o que nos permitimos.
Ser e absorver positivamente o presente é exercer a vida, fazendo não só que estejamos nela, mas, principalmente, que ela esteja em nós.

Antônio Lopes de Sá

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