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Um teste para a educação contábil no Brasil

O exame de suficiência veio para ficar e, embora tenhamos tido apenas duas edições, já foi o bastante para alertar que existe alguma coisa errada na forma de se ensinar contabilidade no Brasil.

28/11/2011 12:54:16

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Um teste para a educação contábil no Brasil

Nos últimos anos, o cenário da educação brasileira foi bombardeado pelo surgimento de uma quantidade expressiva de instituições de ensino superior, públicas e particulares. Dentre Universidades, Centros Universitários e Faculdades (Integradas, Escolas, Institutos e Centros de Educação Tecnológica) foram criadas, apenas no período entre 1999 e 2009, 1.134 novas instituições voltadas à formação superior de seus alunos.

De modo semelhante, houve um crescimento considerável nas vagas para os cursos de Ciências Contábeis, o qual, segundo o Censo do Ensino Superior elaborado em 2009 pelo INEP, figura entre os dez maiores cursos no Brasil, em termos de número de matrículas e concluintes. De acordo com a mesma fonte, a cada ano mais de 24.000 contabilistas ingressam no mercado de trabalho em todo o território nacional.

Enquanto, por um lado, o aumento no número de vagas de ensino superior é benéfico ao colaborar para suprir a grande demanda brasileira por mão de obra qualificada, por outro torna mais difícil o controle da qualidade na formação desses futuros profissionais. Especificamente na área contábil, as últimas avaliações dos cursos de bacharelado apresentaram índices tão baixos que as turmas de ciências contábeis ficaram entre as piores, fazendo com que, recentemente, o MEC divulgasse que reduzirá entre 20% e 65% o número de vagas em instituições que obtiveram as piores notas.

A deficiência de algumas instituições é tão grande que, por mais impressionante que possa parecer, já chegamos ao ponto de encontrar bacharéis em contabilidade que não conseguem sequer elaborar um balanço patrimonial corretamente. Imagine os danos que um profissional com essa formação poderia fazer se fosse responsável pela contabilidade de uma empresa.

Diante desse cenário, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) procurou instituir uma ferramenta de avaliação que buscasse garantir um padrão técnico de suficiência aceitável mesmo perante o enorme número de bacharéis formados a cada semestre. Surgiu então (e após vários anos de luta) o exame de suficiência da classe contábil, através da Lei nº 12.249/2010, que alterou o artigo 12 do Decreto-Lei nº 9.295/46. De acordo com a nova redação, esse artigo estabelece que os profissionais contábeis somente poderão exercer a profissão mediante os seguintes requisitos: conclusão do curso de Bacharelado em Ciências Contábeis ou de Técnico em Contabilidade, aprovação em Exame de Suficiência e registro no Conselho Regional de Contabilidade (CRC).

Alvo de muitas críticas, a prova do CFC pode não ser a solução ideal para a melhoria da qualidade do ensino contábil no Brasil, porém cumpre não apenas o objetivo de nivelar o conhecimento dos egressos dos cursos de contabilidade, mas também, e principalmente, o de incentivar a melhoria de nosso ensino.

Seria estupidez acreditar que o expressivo índice de 69,17% de reprovações no primeiro exame de suficiência de 2011 é um demérito exclusivo dos alunos. Na realidade, quem está sendo reprovado a cada edição da prova do CFC é o nosso modelo de educação contábil como um todo. Professores, coordenadores ou estudantes, todos nós somos responsáveis pela qualidade de ensino (ou falta dela) em nossas instituições e podemos utilizar o exame de suficiência como um termômetro para identificar se estamos formando contabilistas preparados para o mercado de trabalho, o qual demanda profissionais bem qualificados.

Seria utópico esperar que as universidades ou faculdades conseguissem formar todos os seus alunos de maneira ideal, com 100% de qualidade, mesmo porque muito da formação profissional depende do esforço pessoal do próprio discente. Entretanto, quando identificamos que quase 70% dos concluintes em ciências contábeis não atendem às expectativas mínimas para o exercício profissional, podemos concluir que o problema não é de apenas alguns poucos alunos, mas sim de toda a estrutura do nosso sistema educacional contábil.

O exame de suficiência veio para ficar e, embora tenhamos tido apenas duas edições, já foi o bastante para alertar que existe alguma coisa errada na forma de se ensinar contabilidade no Brasil. Ao invés de reclamar e protestar contra a prova, está na hora de cada instituição de ensino avaliar o seu desempenho e buscar melhorar, de modo a formar profissionais mais qualificados e bem preparados, que possam se chamar orgulhosamente de Contadores.

É claro que temos instituições de ensino de qualidade e que alcançaram índices de aprovação expressivos, porém, infelizmente, foram as exceções. A educação contábil brasileira passou por um teste e, de um modo geral, reprovou. Agora, cabe a todos nós, professores, coordenadores e alunos, trabalharmos para que ela seja aprovada nos próximos períodos.

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