Na última Superquarta, em que as autoridades monetárias brasileiras e norte-americanas deliberaram a respeito das taxas de juros em seus respectivos países, o mercado não foi surpreendido por mudanças abruptas. No Brasil, testemunhamos mais um corte de 0,5 ponto porcentual (p.p.), reduzindo a Selic para 10,75% ao ano (a.a.), enquanto nos Estados Unidos, o FED optou por manter os juros dentro da faixa entre 5,25% e 5,5%.
No cenário nacional, a incerteza pairava sobre a continuidade do Forward Guidance. Esse mecanismo permite ao Banco Central (Bacen) antecipar as decisões das próximas reuniões, orientando o mercado sobre a trajetória da política monetária.
Uma distinção importante emerge aqui: comunicações anteriores indicavam que o Bacen previa cortes de juros na mesma magnitude “nos próximos encontros”, enquanto a última declaração retirou o plural dessa frase. Essa mudança sugere que o ciclo de redução pode estar chegando ao fim — ou que o seu ritmo pode diminuir a partir do meio do ano.
Esse aviso está alinhado com o cenário previsto na semana passada nesta coluna, que apontava crescentes preocupações com a situação inflacionária, especialmente nos setores de alimentos e serviços. Além disso, a política fiscal ainda demonstra estabilidade, e a meta de déficit primário zero está cada vez mais distante.
De fato, é discutível se era necessário garantir um corte de magnitude semelhante na reunião seguinte. Isso não implica dizer que não haja espaço para mais cortes, mas o Bacen poderia esperar por dados adicionais antes de qualquer decisão. Em todo caso, a mensagem transmitida é que o ciclo de baixa pode estar com dias contados (ou, pelo menos, perdendo a força).
Nos Estados Unidos, o mercado de trabalho continua robusto. No fim do ano passado, esperava-se que os juros começassem a cair nesta última reunião. Embora o trabalho de trazer a inflação para a faixa entre 3% e 4% já tenha sido realizado, alcançar a meta de 2% pode estar longe de acontecer.
No entanto, o mercado ainda espera uma redução no primeiro semestre. Já no Brasil, é provável que presenciemos mais quedas nos juros, embora o limite superior deva se aproximar dos dois dígitos. Por outro lado, no país do Norte, é esperado que as taxas comecem a cair, o que, a médio prazo, aumentará o diferencial entre elas. Isso pode favorecer uma valorização do real no segundo semestre, e quanto mais a autoridade monetária brasileira conseguir controlar a inflação e aumentar as taxas de juros reais, maior será essa tendência de valorização.
O Bacen entrará numa fase que deve estar bem atento à evolução da inflação. Apesar do componente sazonal no início do ano, com expansão nos setores de transportes e educação, os números são preocupantes. Embora ainda exista espaço para mais cortes, é evidente que ele diminuiu. As próximas reuniões exigirão uma análise intensiva dos novos dados econômicos.