A situação da inflação no Brasil permanece incerta: apesar de ainda não estar no centro da meta, as expectativas e diversos fatores continuam a preocupar os agentes econômicos, afetando as projeções futuras. Nessa conjuntura, o Banco Central (Bacen) manteve a taxa de juros em 10,5%, na última reunião, realizada nesta semana, uma decisão amplamente antecipada pelo mercado após uma parada técnica.
Existe, inclusive, uma onda de pessimismo quanto à possibilidade de um novo ciclo de alta. De fato, havia pouca margem para um resultado diferente. Todos os aspectos do cenário econômico trazem inquietação, da pressão cambial até os dados do IPCA-15 de julho; das expectativas do boletim Focus até a evolução fiscal. Cada um com as suas particularidades.
Comecemos pelo primeiro. Na reunião de junho, o câmbio estava em torno de R$ 5,35 por dólar — hoje, ronda os R$ 5,61. A pressão sobre os preços dos importados e a influência cambial na inflação (pass-through) continuam sendo boas razões para a postura rígida do Bacen em relação à política monetária. A esperada flexibilização dos norte-americanos, em setembro, pode aliviar essa condição, mas o dólar tem subido mais em razão da incerteza no mercado interno do que na esfera internacional.
A respeito dos últimos dados inflacionários, o IPCA cheio de junho trouxe um sopro de esperança, com alta muito inferior ao esperado, ao subir apenas 0,21% — enquanto o mercado projetava, em média, 0,46%. Além disso, houve bons sinais no setor de Serviços, com queda consistente de 0,4%, em maio, para 0,05%, no mês seguinte. Contudo, o IPCA-15 (medido entre 15 de junho e 15 de julho) jogou um balde de água fria nas expectativas de melhoria: os serviços subjacentes voltaram a subir (0,58%). O índice cheio também superou as probabilidades, registrando alta de 0,3%.
Já sobre as expectativas do relatório Focus, as projeções para o IPCA, em 2024, que estavam em 4% há um mês, subiram de 4,05% para 4,10%, na última semana. Para o ano que vem, a previsão subiu de 3,87%, há quatro semanas, para 3,9%, na semana passada, e 3,96%, nesta semana. Esse movimento é um sinal de desancoragem, o que exige uma postura mais conservadora da autoridade monetária.
E, por fim, o mais preocupante: a situação fiscal. O déficit nominal, que inclui o pagamento de juros, está chegando a 10% do Produto Interno Bruto (PIB), aproximando-se do recorde histórico. Em 12 meses, o déficit primário, sem despesas com juros, atingiu 2,44% do PIB, muito longe da meta do novo arcabouço. Tanto a dívida líquida quanto a bruta em relação ao PIB, respectivamente, 62,2% e 77,8%, também estão em alta, apesar do forte aumento das receitas.
Portanto, o panorama exige cautela e, talvez, uma postura mais rígida do Bacen. A manutenção da taxa de juros parece a opção mais segura e adequada para o momento. Além disso, a decisão veio acompanhada de um discurso mais duro, ação que a autoridade monetária pode adotar agora. Com melhores condições no cenário externo, o Brasil espera um posicionamento fiscal mais claro para possibilitar futuras reduções nos juros. Infelizmente, parece que ainda estamos longe disso.