Enquanto o mundo aguarda a próxima reunião do Federal Reserve (FED), o banco central dos Estados Unidos, as atenções se voltam à economia chinesa, que continua a mostrar contradições intrigantes.
Na última semana, o banco central do gigante asiático manteve as taxas de juros de curto e médio prazos inalteradas, mesmo diante de sinais de demanda enfraquecida. Ao que tudo indica, as perspectivas para a segunda maior economia do mundo permanecem conservadoras.
Apesar do crescente clamor por uma mudança de modelo financeiro, passando de um sistema baseado no consumo interno, o líder Xi Jinping mantém a estratégia de focar na industrialização.
A proposta é redirecionar a indústria pesada para setores de alta tecnologia, como veículos elétricos e energia limpa, sem, no entanto, abandonar completamente o modelo anterior. Esse processo é descrito pelo Partido Comunista da China (PCCh) como “estabeleça o novo antes de quebrar o antigo”.
A persistência nesse modelo reflete a filosofia de Jinping, que vê o consumismo ocidental, principalmente o norte-americano, como uma das causas da decadência civilizacional. Segundo a visão do partido, esse estilo de vida tornou o Ocidente fraco, fútil e pouco resiliente. Por isso, há uma forte resistência a transformar o consumo no principal motor do país.
Outro fator muito importante é a preparação da China para um prolongado embate econômico com os Estados Unidos. Antecipando futuras sanções, as lideranças chinesas buscam construir uma cadeia produtiva completa dentro da nação, reduzindo a dependência das importações. Isso explica os maciços investimentos na produção de chips e equipamentos de alta tecnologia.
Entretanto, a grande questão reside no período de transição: enquanto a nova indústria não se consolida, e a antiga perde força, o crescimento é severamente afetado. Embora o governo tenha oferecido algum estímulo monetário, a produção industrial cresce de forma descompassada, concentrando-se em um setor imobiliário fragilizado.
Como resultado, a economia chinesa está gerando grandes excedentes (ou seja, produz mais do que consome) e, paradoxalmente, dependendo cada vez mais da demanda internacional para manter o equilíbrio. O problema é que o mundo atual está cada vez mais fechado às importações.
Além disso, mesmo que Donald Trump não vença as próximas eleições norte-americanas, os democratas também demonstram preocupação com o emprego doméstico, o que dificultará a China na busca por novos mercados externos.
A insistência de Jinping nesta estratégia já começa a receber críticas internas, ainda que limitadas pela repressão estatal. Para nós, observadores externos, é claro que a China continuará se deparando com adversidades enquanto persistir nessa situação que, dada a força política do atual líder, deve perdurar por um algum tempo. A era do crescimento forte chinês parece, enfim, ter ficado no passado.