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ARTIGO DE ECONOMIA

A China não é o novo Japão

Neste artigo, o especialista comenta sobre a situação econômica da China e seu comparativo com o Japão.

27/09/2024 13:30

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A China não é o novo Japão

A China não é o novo Japão Foto: Lara Jameson/Pexels

Nos últimos anos, com a desaceleração do Produto Interno Bruto (PIB) chinês, muitos questionam se o país pode seguir o mesmo caminho que o Japão trilhou nas décadas de 1980 e 1990 — ou seja,  um longo período de baixo crescimento econômico e deflação. A comparação surge em decorrência da queda abrupta dos preços no setor imobiliário chinês, semelhante ao que ocorreu, à época, com o vizinho. Há, então, um receio de que a China entre em um ciclo de estagnação econômica.

No entanto, essa análise superficial não se sustenta ao examinarmos os dados com mais profundidade. Para começar, os preços dos imóveis no Japão subiram cinco vezes, em termos reais, entre 1980 e 1990, retornando ao nível anterior em 1994. Na China, entre 2015 e 2022, os preços aumentaram 3,5 vezes — e, atualmente, estão cerca de 1,5 vez acima dos valores de 2015. 

Ademais, enquanto a Bolsa de Tóquio disparou de mil para 3 mil pontos entre 1986 e 1990, caindo para 1,5 mil em 1992, o mercado de ações chinês permanece em níveis estáveis desde a década de 1980, sem grandes oscilações. Esses números indicam que se há uma bolha imobiliária no gigante asiático, é significativamente menor que a japonesa dos anos 1980 — além disso, o estouro da bolha chinesa não contaminou outros setores da economia. 

Outra distinção relevante é a resposta das políticas econômicas. O Japão utilizou o próprio arsenal monetário e fiscal para tentar reverter a recessão, mas a estratégia falhou. O problema não era a falta de estímulos, mas a queda na confiança dos consumidores e a redução da percepção de riqueza. A situação foi agravada pela aceitação do Acordo de Plaza, que valorizou o iene frente ao dólar, tornando a recuperação ainda mais difícil. O governo japonês esgotou as ferramentas fiscais e financeiras sem alcançar resultados significativos. 

Em contrapartida, a China mantém controle sobre a sua moeda, o iuan, evitando valorizações abruptas que poderiam prejudicar a economia. Ainda, em vez de tentar revitalizar o setor imobiliário, que já apresenta retornos marginais negativos, o governo chinês optou por direcionar esforços para atividades estratégicas, como tecnologia de chips e energia verde. Essa mudança de foco oferece uma chance maior de recuperação, embora implique um período de transição difícil para a população e os trabalhadores.

Outro ponto considerável é a estrutura bancária. No Japão, a desalavancagem foi deixada a cargo dos bancos privados, contaminando outros ativos financeiros. Na China, onde os bancos são majoritariamente estatais, o governo atua como credor de última instância. Isso permite ao Estado participar desse processo de desalavancagem, ao mesmo tempo que implementa pacotes econômicos pontuais para evitar um agravamento das condições econômicas.

Mas, apesar disso, a China não está livre de preocupações. Mesmo não repetindo os erros japoneses, o país tem as próprias mazelas, como o fim do bônus demográfico. Com uma renda per capita três vezes menor que a do Japão naquele período, a China corre o risco de cair na armadilha da renda média, em que o país envelhece antes de alcançar um nível de desenvolvimento elevado. A gestão dessa situação exige planejamento estratégico de longo prazo, mas os muitos paradoxos da economia do país podem dificultar esse progresso.

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