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A crise dos semicondutores pode estar mais próxima de você do que imagina

Neste artigo você vai entender o que é a crise dos semicondutores e como ela impacta nos preços e na inflação.

02/07/2021 13:30:02

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A crise dos semicondutores pode estar mais próxima de você do que imagina

A crise dos semicondutores pode estar mais próxima de você do que imagina Foto de Dziana Hasanbekava no Pexels

Todos nós, em algum momento nas últimas décadas, ouvimos falar sobre microprocessadores ou semicondutores. No entanto, geralmente associamos o seu conceito à altíssima tecnologia: foguetes, Nasa, grandes computadores, alto processamento, etc., mas isso não é correto. Eles estão muito mais na nossa vida do que pensamos. 

Você sabia que a sua cafeteira programável usa muitos semicondutores? Os carros novos os utilizam tanto no motor quanto na interface de comunicação com celulares e aplicativos. Torradeiras, televisões, celulares, laptops, todos podem necessitar de um componente deste no seu desenvolvimento.

A fabricação desses componentes passa pela maior crise da história. Para se ter uma ideia, se um pequeno empresário que tem automação como principal negócio solicitar, pela internet, um componente desses em tempos normais, em oito semanas ele receberia a sua encomenda. 

Hoje, a demora pode chegar a 52 semanas, praticamente um ano. Imagine quantos negócios seriam inviabilizados com esta crise? O atraso também atinge grandes indústrias. A estimativa é de que 700 mil veículos deixarão de ser produzidos no mundo apenas por causa da escassez de um componente que não chega a custar US$ 4. Detalhe: destes automóveis, 80 mil estão só na América Latina.

Impactos na inflação

E como se isso não bastasse, esta falta está influenciando a inflação nos Estados Unidos, não só nos aumentos de preços de carros novos pela escassez de oferta, mas também pelo aumento expressivo do preço de veículos usados. Aqui, no Brasil, uma grande companhia do setor paralisou a produção de duas grandes plantas em razão da insuficiência de peças.

Em uma análise mais simples, percebemos que a falta de um componente que raramente atinge US$ 4 pode ter efeitos em inflação, renda, emprego e produção, bem como impacta diretamente empresas pequenas de tecnologia, startups e empreendedores individuais. E estamos falando apenas um setor, o automobilístico. Um gigante da tecnologia está pensando em adiar o lançamento de seu smartphone de ponta por falta de itens. Vários setores multiplicam os efeitos negativos dessa escassez.

Crise dos semicondutores

Portanto, vale a pena entendermos as causas dessa crise. Costumo chamar os semicondutores de “petróleo moderno”, tamanho o efeito e a complexidade geopolítica. Podemos, então, dividir a crise em causas estruturais e causas conjunturais.

Dentre as estruturais, podemos contar com a guerra tecnológica entre Estados Unidos e China, que prejudicou as cadeias globais de produção. E essa causa é reforçada por um agravante: Taiwan, via TSMC (Taiwan Semiconductor Manufacturing Company Limited), produz grande parte da oferta mundial, chegando a 80% dos semicondutores mais modernos. A ilha, ao sul chinês, é palco do maior conflito geopolítico da atualidade: a China não reconhece a independência da região, e o governo autônomo, hoje, é alinhado com os norte-americanos. Um potencial conflito poderia piorar ainda mais a situação. Além disso, a construção e uma nova planta envolvem custo de bilhões de dólares. Só uma máquina custa centenas de milhões de dólares para a produção destes elementos, os quais podem levar mais de anos para serem construídos e necessitam de um Boeing 747 para o seu transporte. Isso sem contar dos efeitos terríveis da pandemia na produção.

Já os fatores conjunturais envolvem acontecimentos de curto prazo. O frio extremo no Texas, espécie de “Vale do Silício do Hardware” no país estadunidense, dizimou a produção naquele Estado. O semicondutor envolve um processo de produção delicado, em que pequenas variações de temperatura podem ter efeito devastador. No Japão, uma grande planta da Reneseas pegou fogo e destruiu uma grande capacidade produtiva. Além disso Taiwan enfrenta a maior seca em 58 anos, e a produção destes componentes envolve a utilização de uma elevada quantidade de água de extrema pureza.

O que podemos esperar de agora em diante? Estes fatores conjunturais devem ser resolvidos prontamente, o que nos faz imaginar que estamos no pior momento possível e que o cenário deve melhorar de forma rápida, mas não completa. Aquelas 52 semanas de entrega, no início do artigo, podem voltar para 25 ou 30, mas vai levar tempo para chegar a oito. Isso vai depender do desdobramento do conflito sino-americano e de novos investimentos.

Esses novos investimentos já vêm acontecendo. Notícias de capital da Intel na ordem de US$ 20 bilhões no Arkansas; da Bosch de US$ 1,5 bilhão na Europa; da TMSC de US$ 12 bilhões nos Estados Unidos; e do governo chines em autossuficiência já foram anunciados. Os investimentos no país norte-americano são favorecidos por um projeto de conceder US$ 54 bilhões em incentivos fiscais a fabricantes de processadores e semicondutores. As empresas estão pleiteando esses incentivos.

Contudo, a maturação deste dinheiro geralmente pode durar até dois anos. Assim, uma parte da escassez deve permanecer até lá, não tão grave, mas como resquício. Vamos ter de aprender a conviver com ela, inexoravelmente. Revezes do nosso tempo.

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