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ARTIGO DE ECONOMIA

O que podemos aprender com os Estados Unidos sobre a recuperação econômica

Neste artigo veja um comparativo entre as políticas econômicas e como a vacinação está ligada a essa recuperação

09/07/2021 13:30

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O que podemos aprender com os Estados Unidos sobre a recuperação econômica

O que podemos aprender com os Estados Unidos sobre a recuperação econômica Foto: Pexels

Os Estados Unidos tiveram uma política de vacinação indubitavelmente mais exitosa que a nossa. No país, já foram aplicadas mais de 325 milhões de doses, ao passo que mais de 150 milhões de pessoas já estão completamente imunizadas. E estes números só não são maiores porque uma estimativa diz que aproximadamente 30% dos americanos não querem se vacinar.

Com isso, depois de atingir mais de 4 mil mortes diárias em janeiro deste ano, os EUA já contam com menos de 250 óbitos diários, valor que não é menor apenas por causa do negacionismo de boa parte da população.

No Brasil mal chegamos a 100 milhões de doses, sendo que apenas 27 milhões de pessoas – pouco mais de 10% da população – estão completamente vacinadas. Chegamos a bater quase 4 mil óbitos por dia. Caímos, mas ainda estamos com mais de 1,5 mil mortes diárias.

Por sabermos que a economia só voltará plenamente com o avanço da vacinação, podemos fazer um exercício: o que os Estados Unidos podem nos ensinar sobre a volta da economia? Quais as lições que podemos tirar da recuperação norte-americana?

A primeira é que a pandemia foi um evento claramente concentrador de renda e riqueza. Pessoas de mais alta qualificação formal têm mais facilidade de fazer o trabalho em casa e, por consequência, menor probabilidade de perder o emprego. Pessoas de mais baixa renda e trabalhadores informais foram mais afetadas pelo desemprego e, por conseguinte, pela diminuição no nível de renda.

Além disso, as políticas monetárias dos governos, com o objetivo de manter o valor dos ativos da economia (Bolsa, títulos, etc.), tiveram sucesso no seu objetivo. Assim, pessoas que mantiveram o emprego aumentaram o nível de poupança e, com a valorização e os ativos, ficaram mais ricas; ao passo que aqueles com mais baixa qualificação formal, por sua vez, tiveram de renunciar a sua poupança para conseguir atravessar a pandemia.

Nos Estados Unidos, mais de 70% da nova riqueza americana foram direcionadas para os 20% mais ricos. No Brasil, o 1% mais rico tinha 49,9% de toda a riqueza do País em 2021, contra 46,9% antes da pandemia, segundo estudo do Banco Credit Suisse.

Uma pesquisa publicada no Wall Street Journal mostrou que os programas de auxílio do governo americano, mais a poupança forçada dos cidadãos, criaram, só em 2020, quase US$ 13,5 trilhões em renda nova na economia. Um exemplo de como isso pode acontecer: os juros bem mais baixos, resultado de uma política monetária agressiva, permitiram aos americanos trocar dívida antiga, mais cara, por dívida nova, diminuindo substancialmente a parcela paga e liberando renda para outros gastos ou poupança. 

Este processo ocorreu no Brasil, mas com uma peculiaridade: no ano passado, o programa de auxílio emergencial deu fôlego às classes de renda mais baixa, estes recursos causaram uma recuperação baseada, principalmente, no consumo nos setores de supermercados, farmácias e materiais de construção.

Agora, os vetores de recuperação devem ser outros. Vejamos o exemplo do país estadunidense. Apesar de ainda estarem em processo de recuperação, os serviços já começam a modificar o padrão de crescimento.

Em relação a antes da pandemia, os bens de consumo já estão 20% maiores em volume, enquanto os serviços ainda estão 1% abaixo. Entretanto, os dados dos últimos meses já mostram mudanças: em maio, as famílias com renda superior a US$ 200 mil por ano aumentaram os gastos nos restaurantes em 16%. Mesmo famílias com renda entre US$ 30 mil e US$ 60 mil por ano aumentaram os gastos em 5%.

Além disso, com o avanço da vacinação, as pessoas acabam renunciando à poupança forçada para consumir. No auge do covid-19, os norte-americanos estavam poupando 14,5% da renda; em maio, este número já havia caído para 12,4%, mas até então muito longe do que se via antes da pandemia (8,3%).

Assim, ainda há muita poupança para ser liberada, mas provavelmente nas classes mais altas e no consumo de serviços, em especial bares, restaurantes e turismo.

Vamos presenciar no Brasil, nos próximos meses, um movimento de transição das despesas de bens de consumo duráveis para serviços, principalmente turismo e restaurantes. A recuperação concentrada nas classes mais altas levará o consumo para bens de mais alto valor adicionado, mas principalmente em serviços, de acordo com o avanço da vacinação. Os Estados Unidos já estão nos mostrando isso.

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