A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) realizada em setembro já indicava um cenário complicado para a economia brasileira, com pressões tanto internas quanto externas. Desde então, a situação se agravou, com o dólar subindo de R$5,46 para quase R$5,80, uma desvalorização de mais de 6% em 45 dias.
No mercado de trabalho, a taxa de desemprego caiu para 6,4% no trimestre encerrado em setembro. Uma redução de 0,5 ponto percentual em relação ao trimestre anterior (6,9%) e uma queda de 1,3 ponto percentual em comparação ao mesmo período de 2023 (7,7%). Na série histórica, só houve um momento em que a taxa foi a menor desde 2012, em dezembro de 2013 (6,3%).
Essa melhora na taxa continua pressionando os custos. O rendimento médio real das pessoas ocupadas foi de R$3.227 no trimestre encerrado em agosto, com uma alta de 3,7% comparado ao mesmo período de 2023. A massa de rendimentos totalizou R$327,7 bilhões, com alta de 7,2% na comparação anual. Nesse contexto, o dado do mercado de trabalho mostra uma inflação pressionada.
Esse aumento, somado ao índice de capacidade instalada da Indústria em 84,6%, reflete uma oferta já saturada, ampliando as pressões inflacionárias. Do ponto de vista fiscal, a conjuntura também é alarmante: nos oito primeiros meses do ano, o déficit primário chegou a 2,29% do Produto Interno Bruto (PIB), acima do esperado, e o déficit total — incluindo juros —, alcançou 9,81% do PIB, o que é insustentável. Esses números trazem problemas adicionais ao controle da inflação
Além disso, o crescimento econômico segue aquecido. O último dado do IBC-Br, índice que antecipa o PIB, apontou expansão de 2,91% até agosto, enquanto o IPCA de outubro registrou alta de 0,54%, acelerando em relação ao mês anterior e superando a meta superior da inflação, de 4,5% ao ano.
O indicador acelerou em relação ao resultado de setembro, quando subiu 0,13%. No ano, o IPCA-15 acumula alta de 3,71%, e nos últimos 12 meses, de 4,47%, acima dos 4,12% observados nos 12 meses imediatamente anteriores.
No cenário internacional, a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos agrava o panorama, com expectativas de políticas inflacionárias, zero ajuste fiscal e aumento das taxas de juros no país, impactando diretamente o câmbio brasileiro.
Tudo isso começa a afetar as perspectivas de inflação no Brasil, que começam a desancorar, com previsões do IPCA para 2024 subindo de 4,38% para 4,59%.
Diante de todos esses números, o Copom não teve alternativa a não ser aumentar a Selic, com possíveis novos ajustes dependendo do pacote fiscal aguardado pelo governo. O mercado está à espera.