Donald Trump foi eleito o 47º presidente dos Estados Unidos, com uma vitória expressiva no colégio eleitoral e apoio majoritário no Senado — e, possivelmente, na Câmara. A sua eleição, democrática e incontestável, trouxe consigo uma agenda de governo marcada por políticas protecionistas, desenvolvimentistas e isolacionistas.
Um dos primeiros pontos no campo econômico é a proposta de redução do imposto corporativo (corporate tax), de 21% para 15%, além da eliminação de tributos sobre horas extras e gorjetas. Em um primeiro momento, essas medidas podem até parecer favoráveis ao ambiente de negócios, mas os Estados Unidos estão vivendo a maior crise fiscal da sua história.
Com a inflação já pressionada e o FED (o banco central do país) reduzindo os juros de maneira precipitada, a injeção de mais estímulo na economia pode, literalmente, custar caro. Apesar disso, a Bolsa norte-americana deve reagir positivamente no curto prazo.
Para compensar a perda de arrecadação decorrente dessas isenções, Trump pretende impor tarifas elevadas sobre uma série de produtos importados, buscando incentivar a produção interna. No entanto, essa estratégia desconsidera aspectos fundamentais do mercado de trabalho — que, atualmente, opera com taxas de desemprego baixas e salários em alta.
A substituição de produtos como o aço chinês ou brasileiro pelo estadunidense implicará aumentos nos preços e na folha salarial, adicionando mais pressão inflacionária.
Outro tópico central da sua agenda é o apoio à indústria de petróleo e gás. Enquanto a China avança em programas pujantes de energia limpa (principalmente a solar) e busca modificar a matriz energética, Trump pretende priorizar o setor de combustíveis fósseis, o que pode atrasar a competitividade tecnológica dos Estados Unidos no longo prazo.
Além do mais, o presidente eleito já demonstrou interesse em reduzir a regulamentação das instituições financeiras. Em suas críticas ao FED, manifestou a crença de que os juros poderiam ser reduzidos, mesmo sem uma ação do banco. Essa postura tende a gerar nervosismo no mercado e, paradoxalmente, provocar alta imediata nos juros de longo prazo.
De forma geral, as políticas de Trump podem causar expansão da inflação e pressionar as taxas de juros internas. Esse efeito já era observado durante a campanha, quando boas notícias para o candidato republicano eram suficientes para elevar os juros de longo prazo, refletindo a preocupação do mercado com o risco inflacionário.
No Brasil, essa conjuntura pode gerar uma fuga de capitais para o mercado norte-americano, resultando em desvalorização do real, maior pressão inflacionária e aumento das taxas de juros.
O protecionismo de Trump também deve prejudicar as exportações brasileiras, especialmente as de commodities e proteínas, reduzindo a renda dos exportadores e intensificando a dependência do mercado chinês.
Em contrapartida, o mercado de criptomoedas deve se beneficiar: a falta de regulamentação incentivará transações no setor, o que pode valorizar moedas digitais, como o bitcoin, e favorecer operações fora do sistema financeiro tradicional.
Em suma, os mercados emergentes, incluindo o Brasil, devem lidar com impasses caso o governo Trump implemente, de fato, as suas propostas. O endurecimento na imigração também tende a encarecer a mão de obra, reforçando o cenário de inflação e juros elevados. Esse é o retrato de um governo que busca repatriar a produção em uma nação já marcada por custos crescentes. A ver.