O recente aumento na taxa básica de juros, a Selic, promovido pelo Banco Central (Bacen), já era amplamente esperado. O reajuste de 1 ponto porcentual (p.p.) foi anunciado em linha com a expectativa de alta de 0,75 p.p., previamente precificada pelo mercado. Com isso, o Brasil encerrará o ano com uma taxa de juros nominal de 12,25%, enquanto a taxa real esperada deve atingir, aproximadamente, 8% ao ano (a.a.).
Embora essa elevação fosse necessária frente à atual conjuntura econômica, a manutenção de juros em patamares elevados gera preocupação, sobretudo diante de um déficit primário que já alcança quase 10% do Produto Interno Bruto (PIB). Além disso, o Bacen recorreu ao instrumento de forward guidance, contratando mais duas altas de 1 p.p. nas próximas reuniões, projetando uma Selic terminal de 15% no fim deste ciclo.
A autoridade monetária enfrentou um ambiente hostil nessa decisão. Sem a definição de um pacote fiscal mais ousado, e diante de incertezas quanto à aprovação do tímido conjunto de medidas apresentado pelo governo, o mercado desancorou as expectativas inflacionárias e exigiu uma resposta mais agressiva do Bacen. Como se não bastasse, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de novembro registrou alta de 0,39%, com uma inflação acumulada de 12 meses, atingindo 4,82%, acima da meta de 4,5% projetada para 2024.
Essa inflação persistente reflete diretamente o desequilíbrio fiscal prolongado do Brasil, que carece de soluções concretas no horizonte. O pacote de cortes de gastos anunciado recentemente pelo governo foi paliativo e insuficiente para reduzir os estímulos fiscais, os quais continuam a pressionar os preços. Essa situação agrava as expectativas inflacionárias do mercado, eleva as taxas de juros de longo prazo e aumenta as dúvidas no cenário econômico. Nesse contexto, resta ao Bacen ancorar as expectativas de inflação por meio de uma Selic elevada, evitando a escalada descontrolada dos preços. Em outras palavras, trata-se de uma medida amarga, mas indispensável para preservar a estabilidade macroeconômica.
A discussão, no entanto, deve ir além da taxa, concentrando-se nas razões que a mantêm em patamares tão altos. Apenas a Turquia, a Rússia — em situação de guerra — e a Argentina exibem taxas nominais superiores. Fica evidente que a principal fonte do problema é a fragilidade da política fiscal. Esse desarranjo não só afeta as expectativas de mercado como também desestimula investimentos privados, aumenta os custos de financiamento da dívida pública e prejudica a confiança na economia brasileira. Assim, o Bacen tem atuado como uma espécie de âncora macroeconômica em um país que ainda busca soluções concretas para a suas desordens fiscal e monetária.