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ARTIGO DE ECONOMIA

Não faz sentido o Banco Central vender câmbio no mercado à vista

Neste artigo, o especialista alerta que a desvalorização do real reflete problemas estruturais e saída de capitais, reforçando a urgência de uma política fiscal consistente.

23/01/2025 15:15

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Desvalorização do real exige ajustes fiscais

Não faz sentido o Banco Central vender câmbio no mercado à vista Foto: Nacho Lledò/Pexels

Nos últimos meses, o real vem sofrendo uma forte desvalorização, figurando, no período, entre as moedas que mais perderam valor no mundo. Em um regime de câmbio flutuante como o brasileiro, a variação da taxa reflete diretamente as dinâmicas de oferta e demanda por dólares, sendo determinada pelo mercado, sem intervenções diretas do Banco Central (Bacen) para fixá-la.

Essa oferta de dólares provém de exportadores que convertem as receitas em moeda nacional, entrada de investimentos e empréstimos externos — como lucros de empresas nacionais no exterior — e dos turistas que visitam o País.  Por outro lado, a demanda por divisas é gerada por turistas brasileiros e importadores que precisam pagar compras internacionais, saídas de capitais financeiros, pagamento de juros e remessas de lucros ao exterior,

Ainda que a balança comercial tenha registrado  um superávit expressivo de quase US$ 75 bilhões em 2024, a desvalorização do real parece estar mais ligada à saída de capitais financeiros. Esse movimento reflete, sobretudo, preocupações com a sustentabilidade fiscal do País. A relação entre dívida e Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil subiu 8 pontos porcentuais (8 p.p.) em dois anos, despertando receios quanto à capacidade do governo de controlar o endividamento no futuro. Esses fatores indicam um problema estrutural que dificilmente será resolvido sem um plano fiscal consistente e profundo.

Apesar de operar em um regime de câmbio flutuante, o Bacen pode intervir no mercado em situações excepcionais, como crises externas ou contágio de problemas em outros países. Essas intervenções podem ocorrer por meio da compra ou da venda de dólares no mercado à vista ou mediante instrumentos financeiros conhecidos como swaps cambiais. Nas operações à vista, o Bacen compra ou vende moeda estrangeira diretamente, influenciando a taxa de câmbio. Por exemplo, ao vender dólares, reduz-se a pressão de desvalorização do real. Já nos swaps cambiais, não há transferência de moeda estrangeira. Trata-se de uma operação em que a autoridade monetária assume a variação do dólar em troca de uma taxa de juros, oferecendo proteção às empresas expostas ao risco cambial e garantindo previsibilidade nas obrigações.

Contudo, esses instrumentos devem ser usados com parcimônia. O papel do Bacen é atenuar a volatilidade excessiva e não contrariar as tendências do mercado, especialmente quando estas refletirem preocupações estruturais. Gastar reservas internacionais para conter uma desvalorização gerada por fundamentos fiscais parece ineficaz. E se o objetivo for reduzir os riscos cambiais para empresas produtivas, os swaps são mais apropriados, uma vez que não envolvem a venda direta de dólares.

A insistência em intervenções no mercado à vista, nesse contexto, é questionável. A saída de investidores estrangeiros deve ocorrer ao preço definido pelo mercado, sem subsídios implícitos da autoridade monetária. Para reverter a tendência de desvalorização do real, é importante abordar as causas estruturais, sobretudo com a implementação de uma política fiscal sólida e crível.

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