A disrupção destrói abordagens anteriores, é como uma tsunâmi. A disrupção, contudo, cria uma nova abordagem. Daí ser definida como uma quebra ou uma fratura. Processos antigos são deixados de lado; a disrupção no mundo empresarial, segundo Christensen (2006)[1] não melhora o que já existe; ela destrói o que já existe e cria novos mercados e oportunidades de crescimento.
Neste contexto, os processos convencionais que eram (são) executados pelos pequenos escritórios contábeis tradicionais, como por exemplo, cumprimento de obrigações principais e acessórias, serviços de despachante, tais como encerramento e abertura de firmas, folha de pagamento, imposto de renda e, quando muito, levantamento de um balanço patrimonial resumido e uma demonstração de resultado, etc., parecem estar com os dias contados caso não haja adaptação a estes novos tempos.
O contador de um pequeno escritório contábil que presta os serviços acima mencionados, da forma tradicional, entende que não há outros serviços para prestar, tampouco convencer seus atuais clientes de que seus serviços são mais lucrativos e menos arriscados do que aqueles oferecidos pelos novos entrantes com plataformas sofisticadíssimas, tecnologicamente falando.
Foi nesta esteira disruptiva que surgiram as plataformas, as quais, basicamente, prestam serviços de obrigações acessórias e cobram valores muito reduzidos para os clientes que optam somente pelo cumprimento daquelas obrigações. Tais clientes não foram convencidos de que a contabilidade é tão importante quanto o cumprimento das citadas obrigações.
Note que, em qualquer outro ramo de negócio, pode-se convencer seus atuais clientes sobre as vantagens de substituir os produtos/serviços concorrentes pelos seus produtos/serviços. Nos pequenos escritórios de serviços contábeis, não há esta possibilidade; os produtos/serviços são os mesmos e com tecnologias que igualam a todos, com pequenas diferenças, aqui e ali.
A redução do custo se dá pela redução do custo fixo; ou seja, uma única plataforma, tecnologicamente mais sofisticada que a maioria dos pequenos escritórios, dá conta de cumprir todas as obrigações, por isso cobram mais barato.
Resumo: Para os pequenos escritórios de contabilidade, parece não haver a possibilidade de prestar novos serviços para os mesmos clientes. Não? Claro que há. Que tal prestar uma consultoria, emitir relatórios sobre ponto de equilíbrio, necessidade de capital de giro, custo médio ponderado de capital, elaborar orçamento, fazer perícia, auditoria, etc.
Outra possibilidade para os pequenos escritórios é vender os “novos serviços” para novos clientes, dado que não há possibilidade, ou é muito mais difícil, vender os mesmos serviços, já praticados, e da forma como são praticados, para aqueles novos clientes.
O profissional de contabilidade que não personalizar o atendimento para os serviços antigos e para os serviços novos, para seus atuais e novos clientes, não tornar sua contabilidade mais consultiva do que um sistema apenas de registro e controle, não capacitar seus empregados e não focar no seu banco de dados, armazenando suas transações em blocos que permitam a formação de cadeias com registros digitais descentralizados, sem dúvida alguma, terá dificuldades em se manter no mercado.
Empresários contábeis, antenados com todo o processo disruptivo que vem ocorrendo nas duas últimas décadas, já perceberam que é necessário automatizar tarefas repetitivas, obter softwares que propiciem relatórios de análise em tempo real e que permitam apontar as questões econômico-financeiras relacionadas à forma como as atividades operacionais daqueles clientes estão impactando o fluxo de caixa, o capital de giro, o ponto de equilíbrio, etc.
Realmente, não é fácil a adaptação a este novo (novo?) tempo. Custos elevados, o aprendizado é demorado e o mais grave: acreditar que as mudanças não irão ocorrer e que são os sindicatos ou conselhos de classe que devem obstar o processo de mudança.
As mudanças estão ocorrendo, o processo está em marcha e continuará marchando; quem não acreditar nisso, perderá a guerra e sairá do mercado pela porta dos fundos.
[1] Christensen, C. M. (2006). The ongoing process of building a theory of disruption. Journal of Product innovation management, 23(1), 39-55.