O ano de 2025 mal começou e o novo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, já enfrenta uma série de desafios na sua nova função na autoridade monetária. Ao tomar posse, defrontou-se com um plano de contenção fiscal do governo, que foi entendido como insuficiente pelo mercado. O plano abordava mais a diminuição de gastos futuros do que o corte de gastos em si e, mesmo com o atingimento da meta estipulada pelo arcabouço fiscal na banda superior, o mercado não ficou seguro das intenções do governo, principalmente por conta de várias rubricas que foram excluídas dos gastos medidos pelo arcabouço.
O ano também começa com a economia ainda aquecida, e o mercado de trabalho mantendo a renda e pressionando a inflação. A inércia do mercado de trabalho deve garantir alguns meses de atividade forte e inflação acima da meta.
Além disso, 2024 reservou uma notícia preocupante: apesar do crescimento recente, o investimento ainda é baixo. A produção de bens de capital cresceu 9,1% no ano passado, mas partiu de uma base comparativa muito baixa — queda de 11,7% em 2023, ainda estamos abaixo dos níveis de 2022. O que reforça a pressão dos custos nas empresas também.
A inflação continua em níveis altos e somente não foi mais preocupante porque o bônus de Itaipu ajudou a contê-la no início do ano. No entanto, a pressão sobre alimentos e serviços mantém o índice em patamares alarmantes. O mercado de trabalho aquecido continua a pressionar os serviços, enquanto a desaceleração nos preços dos alimentos não será suficiente para trazer a inflação para a meta.
Para piorar, o contexto externo é desfavorável, dado que o governo estadunidense de Donald Trump implementa políticas protecionistas, como tarifas sobre aço e alumínio (25%), que afetam o Brasil. E há ameaças de aumento de tarifas para países que, segundo Trump, “tiram proveito dos Estados Unidos”. Essas medidas podem gerar uma espiral de aumento de preços no país norte-americano, atingindo cadeias produtivas globais e pressionando a inflação mundial. Isso sem contar com a possível expulsão de imigrantes dos Estados Unidos, que pode pressionar salários e custos, contribuindo para a inflação global.
O efeito das políticas inflacionárias do governo estadunidense é a alta de juros. E o aumento das taxas de juros nos Estados Unidos pode levar à desvalorização de moedas emergentes, incluindo o real, pressionando a inflação brasileira.
Por outro lado, algumas notícias podem arrefecer a pressão sobre a inflação, embora sejam ainda incipientes — a economia deve perder impulso em 2025, com menor expansão fiscal e juros mais altos, considerando o efeito retardado da política monetária.
Essa hipótese pode ocorrer se o governo escolher um cenário de menor pressão fiscal. É possível elencar três possibilidades para a dinâmica fiscal. Na primeira, pouco provável, o governo lançaria um novo pacote fiscal, que diminuiria a pressão na autoridade monetária. A segunda seria a manutenção da situação atual, com alguma ordem nas contas públicas, mas sem rigidez fiscal, continuando com risco de mercado, porém sem nenhuma piora relevante. E a pior opção, não impossível, seria um cenário de all in, com expansão fiscal agressiva, aumentando o risco de dominância fiscal e complicando muito a situação do Banco Central.
Muito da dificuldade do trabalho do novo presidente do Banco Central dependerá das ações da política fiscal. O risco das novas ações do Ministério da Fazenda, e a reação do mercado, darão a tônica dessa dificuldade.