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ARTIGO DE ECONOMIA

Esqueça a guerra comercial, o grande problema do século é a farra fiscal

Atritos comerciais reacendem o temor da recessão global e colocam em foco um problema mais profundo: o desequilíbrio fiscal nos EUA, China e outras potências.

11/04/2025 13:30

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Crise comercial expõe risco global de endividamento

Esqueça a guerra comercial, o grande problema do século é a farra fiscal

A dúvida paira sobre as tarifas impostas pelo então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump — e não se sabe ao certo se trata-se de um blefe ou de uma política deliberada de restrição comercial. O que, antes, era um cenário de crescimento econômico mundial sustentável, transformou-se em um horizonte carregado de riscos recessivos.

A China, por sua vez, prometeu responder com medidas igualmente firmes, sinalizando que não pretende recuar frente à decisão de Trump. Mesmo com a possibilidade de adiamento das tarifas para outros países (exceto para o gigante asiático), os mercados reagiram com forte instabilidade. Bolsas e commodities sofreram quedas bruscas logo após os anúncios.

 A perspectiva de uma guerra comercial entre as duas maiores potências econômicas reacende um temor conhecido: a recessão global alimentada pela retração do Comércio internacional. Nos últimos 20 anos, o crescimento econômico foi estimulado, em grande parte, pela intensificação das trocas entre países, e uma reversão desse movimento traria impactos profundos. Contudo, há uma preocupação ainda mais grave e estrutural por trás desse cenário — a sustentabilidade das dívidas públicas nas principais economias do mundo.

Nos Estados Unidos, por exemplo, a dívida saltou de aproximadamente US$ 18 trilhões, em 2015, para mais de US$ 36 trilhões, em 2025 — um crescimento de 100% em apenas uma década. Esse aumento foi sustentado por déficits orçamentários recorrentes, motivados por gastos com programas sociais, defesa e juros da dívida. Em termos relativos, essa dívida pública passou de 101,7% para cerca de 124,4% do Produto Interno Bruto (PIB) no mesmo período.

Repetidamente, o governo norte-americano tem enfrentado o impasse do debt ceiling, o teto legal da dívida federal. Quando esse limite é atingido, o Congresso precisa aprová-lo para evitar um possível default, o que geraria atrasos no pagamento de obrigações financeiras. Muitas vezes, a expansão do teto foi aprovada no limite do prazo, intensificando a volatilidade e a desconfiança sobre a saúde fiscal dos Estados Unidos.

Na China, o problema assume outra forma, mas em condição igualmente preocupante. A crescente dívida oculta dos governos locais tem ganhado destaque. Por meio das chamadas LGFVs (Local Government Financing Vehicles) — entidades privadas criadas para captar recursos e financiar projetos públicos —, estima-se que esse endividamento já ultrapasse US$ 1,4 trilhão. A gravidade está no fato de que essas dívidas não constam nos balanços oficiais dos governos regionais, os quais, por sua vez, veem as receitas minguarem diante da queda nos preços dos terrenos. Essa situação levou o governo chinês, no ano passado, a lançar um plano de substituição de dívidas ocultas por dívidas registradas. A medida, porém, não conseguiu conter o avanço desse tipo de endividamento.

Mais alarmante que os números é a ausência de um debate sério sobre o tema. Desde 11 de setembro de 2001, observa-se uma política mundial de afrouxamento monetário, com bancos centrais e governos injetando liquidez nos mercados sem traçarem estratégias para reverter esse movimento. A contração do Comércio internacional pode acabar revelando o que está por trás dessa cortina: um sistema fragilizado pela farra fiscal. Fato é que, em algum momento, a discussão sobre o endividamento público — englobando causas, limites e consequências — terá de ocupar o centro das atenções nas mesas de negociação econômica. 

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