A guerra comercial entre China e Estados Unidos segue em escalada, com sucessivos aumentos tarifários de ambos os lados. O governo do republicano Donald Trump elevou as tarifas sobre produtos chineses a patamares exorbitantes, chegando a até 245%, o que, na prática, inviabiliza o comércio entre as duas maiores economias do mundo.
A estratégia norte-americana parece ancorada em uma tentativa de restaurar uma realidade industrial que já não existe. No cenário pós-globalização, torna-se praticamente inviável repatriar a produção de diversos bens cuja fabricação foi transferida para nações com custos de mão de obra mais baixos. Apesar das intenções políticas, a reversão dessa lógica econômica esbarra em limitações estruturais.
Sem uma diretriz clara, os Estados Unidos seguem apostando na força da própria demanda como ferramenta de pressão. A expectativa é de que o impacto da ausência do mercado estadunidense obrigue os países-alvo a recuarem. No entanto, essa abordagem tem se mostrado inútil diante da resiliência chinesa. Diferentemente do país do Norte, o governo chinês demonstra coesão estratégica, com medidas bem planejadas e coordenadas para responder às sanções.
Um exemplo dessa tática é a imposição de severas restrições à exportação de terras raras para os Estados Unidos. Dentre as medidas adotadas, destacam-se as exigências de licenças especiais para exportação de elementos essenciais à produção de tecnologias avançadas, como veículos elétricos, smartphones e, especialmente, equipamentos militares.
Embora não sejam efetivamente raros, esses minerais são de difícil processamento em virtude dos resíduos radioativos gerados, o que torna a China uma fornecedora quase insubstituível. Essa retaliação afeta diretamente setores sensíveis da economia norte-americana, incluindo saúde de alta precisão e defesa.
Outro movimento estratégico envolve os insumos farmacêuticos ativos (IFAs), com restrições focadas naqueles usados na produção de medicamentos genéricos. Nos Estados Unidos, nove em cada dez prescrições envolvem genéricos, e a China responde por 61% das exportações desses insumos. A medida tende a pressionar rapidamente os preços dos medicamentos, com impactos diretos para a população e o sistema de saúde norte-americano.
Além disso, Pequim limitou investimentos em private equity estadunidense e impôs barreiras à indústria de aviação civil, afetando a fabricação de jatos comerciais. No atual estágio do conflito, a China aparenta ter mais capacidade de absorver os efeitos da guerra comercial, inclusive com vantagens estruturais: um governo centralizado e sem oposição interna relevante permite ações rápidas e coordenadas, algo que o governo do país rival, sujeito às pressões eleitorais, não pode replicar com a mesma agilidade.
A percepção geral é que os Estados Unidos iniciaram um jogo sem avaliar adequadamente a disposição e a capacidade de resposta do adversário. A reação do gigante asiático tem sido calculada e persistente, enquanto Washington parece carecer de uma estratégia coesa para vencer o impasse. Com eleições se aproximando em terras ianques, os próximos capítulos dessa disputa serão determinantes para definir os rumos da economia mundial.