A escalada da guerra comercial entre Estados Unidos e China parece distante de um desfecho. Enquanto o governo norte-americano afirma que as negociações estão em andamento, autoridades chinesas classificam essas declarações como mentirosas e condicionam o início de conversas à iniciativa do país ocidental de reverter medidas previamente adotadas.
As mudanças constantes de postura por parte do governo de Donald Trump e o risco de que a manutenção do impasse gere novas incertezas aumentam a pressão sobre a economia global, especialmente países emergentes. O prolongamento dessa tensão pode intensificar a percepção de risco e elevar a volatilidade dos mercados por um período prolongado. Esse ambiente instável pode desencadear o fenômeno conhecido como flight to quality, caracterizado pela fuga de capitais — sobretudo dólares — em direção a ativos considerados mais seguros, como os títulos do Tesouro norte-americano. Cenários semelhantes foram observados durante as crises das Torres Gêmeas (em 2001) e do setor imobiliário (em 2008) e, mais recentemente, durante a pandemia de covid-19.
Em contextos de fuga de capitais, economias emergentes tendem a sofrer fortes desvalorizações cambiais. A escassez de divisas, por sua vez, eleva a inflação, pressiona a taxa de juros e amplia os efeitos recessivos, agravando ainda mais o impacto inicial da guerra comercial. O grau de vulnerabilidade de cada país frente a essas turbulências é determinado pelo chamado risco-país. Esse índice mede a probabilidade de inadimplência de um governo quanto às suas obrigações financeiras, refletindo a percepção dos investidores sobre as estabilidades econômica, política e social da nação. Quanto maior o risco-país, maior o custo para captar recursos externos e mais acentuada é a fuga de capitais diante de dúvidas globais.
Em momentos de crise, uma taxa de juros já elevada pode ser fatal para a economia nacional, pois aumenta ainda mais a pressão sobre o financiamento da dívida pública e sobre a atividade econômica. Um dos fatores que mais influenciam o risco-país é o nível de endividamento do governo: uma alta relação entre dívida e Produto Interno Bruto (PIB) sugere mais dificuldades de honrar compromissos. Além disso, fatores externos, como crises financeiras globais ou alterações na política monetária de grandes economias, também afetam diretamente esse indicador.
No caso brasileiro, o risco é frequentemente mensurado pelo Emerging Markets Bond Index Plus (EMBI+), que compara os rendimentos dos títulos da dívida nacional com os dos títulos do Tesouro estadunidense. Quanto maior o spread entre esses rendimentos, maior a percepção de risco atribuída ao país.
Frente a esse panorama, o ajuste fiscal torna-se uma ferramenta essencial. Uma gestão responsável das contas públicas reduz o risco-país, melhora a confiança dos investidores e fortalece a capacidade de reação a choques externos. Em contrapartida, a falta de responsabilidade fiscal pode ampliar os danos econômicos de uma crise mundial, agravando seus efeitos internos de maneira ainda mais severa.