Durante muito tempo, o mundo associou a China a produtos de baixa qualidade e tecnologia limitada. O estigma do “made in China” era sinônimo de itens baratos, frágeis e, muitas vezes, cópias de marcas consagradas. No entanto, nas últimas décadas, o país passou por uma transformação profunda e estruturada, consolidando-se como uma potência global em inovação tecnológica.
Ainda que muitos atribuam esse salto ao forte intervencionismo estatal, com políticas industriais e subsídios amplamente divulgados, essa visão é parcial. O que, de fato, sustentou a revolução tecnológica chinesa foram os investimentos consistentes em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e em uma educação de qualidade, pilares de um planejamento estratégico de longo prazo.
É difícil apontar um marco inicial definitivo para essa virada, mas 2006 se mostra um ano-chave. Naquele período, o governo lançou o Plano Nacional de Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia de Médio e Longo Prazo, estabelecendo metas ambiciosas até 2020. A proposta era evidente: posicionar o país na liderança de setores estratégicos, como Energia Limpa, Inteligência Artificial (IA) e Telecomunicações, por meio de uma abordagem coordenada entre Estado, academia e iniciativa privada.
Os resultados não tardaram a aparecer. Em 2024, os investimentos em P&D ultrapassaram 3,6 trilhões de iuans (cerca de US$ 500 bilhões), um crescimento de 8,3% em relação ao ano anterior. Além disso, a China lidera, pelo quarto ano consecutivo, o ranking global de pedidos de patentes internacionais pelo Tratado de Cooperação em Matéria de Patentes (PCT). Só no ano passado, mais de 1,045 milhão de patentes de invenção foram aprovadas.
A educação, claro, tem papel fundamental nesse processo. No exame internacional Pisa, os estudantes chineses ocupam consistentemente o topo do ranking, enquanto países como o Brasil permanecem entre as posições 50 e 60. Em matemática, por exemplo, 98% dos alunos chineses atingem ao menos o nível 2 de proficiência, contra apenas 27% dos brasileiros.
As repercussões dessa guinada tecnológica vão além da economia. O país vem redesenhando a conjuntura geopolítica, desafiando a supremacia dos Estados Unidos em áreas como 5G, Computação Quântica, Big Data, Veículos Elétricos e Energias Renováveis. Mais do que competir, o gigante asiático começa a ditar novos padrões internacionais.
E o que essa trajetória toda nos mostra? Que o verdadeiro motor da produtividade está no fortalecimento da base: educação e pesquisa. Embora políticas industriais setoriais e subsídios tenham a sua importância, o diferencial chinês foi construir um alicerce sólido para a inovação sustentável. Não há atalhos para o desenvolvimento duradouro — essa é a lição que fica.