A economia oferece poucas unanimidades, mas uma delas é indiscutível: o crescimento econômico de longo prazo — aquele sustentável e contínuo — depende, sobretudo, do avanço da produtividade. Nenhuma outra variável tem esse mesmo poder transformador. Por isso, apenas políticas públicas voltadas para o aumento da produtividade são capazes de gerar, de forma duradoura, renda, emprego e bem-estar à população.
Desde os anos 1980, o Brasil convive com um resultado econômico decepcionante. A década ficou marcada pela crise profunda que interrompeu o ciclo de crescimento, levando o Produto Interno Bruto (PIB) a registrar uma média anual de apenas 1,6%. Após o “milagre econômico” da década de 1970, o País ingressou nos anos seguintes com uma estrutura produtiva fragilizada: forte dependência de capital externo, baixa poupança interna e um ambiente pouco favorável ao investimento. Como consequência, a produtividade estagnou, os investimentos minguaram e a Indústria nacional encolheu, sobretudo nos setores de bens de capital e de consumo durável.
Na década mais recente, de 2011 a 2020, o desempenho foi ainda pior: crescimento médio de apenas 0,8% ao ano (a.a.) — metade do ritmo já fraco da chamada “década perdida”. Desde então, a produtividade permanece estagnada. Mais grave ainda, o tema quase não ocupa espaço no debate público de forma consistente e técnica. É importante destacar que a produtividade pode ser analisada em duas dimensões principais: a do trabalho e a do capital. Embora interdependentes, cada uma demanda políticas públicas distintas.
No caso da produtividade do trabalho, a palavra-chave é educação. Sem grandes avanços na qualidade do ensino e investimentos sérios em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D), é impossível gerar ganhos relevantes. Atualmente, o Brasil carece de planos estruturados e de longo prazo nessa área. Iniciativas como o programa Primeira Infância, que oferece apoios psicológico, nutricional e médico a gestantes e mães de crianças pequenas, muitas vezes não passam de promessas ou são executadas de forma inefetiva. Faltam também medidas para aproximar currículos universitários das demandas do setor produtivo, além de mecanismos de avaliação nas escolas públicas, como bônus. Uma legislação trabalhista mais flexível e moderna também pode contribuir para o aumento da produtividade.
Já no que diz respeito à produtividade do capital, o fator central é o investimento. Para atraí-lo, é fundamental garantir estabilidade macroeconômica e política, bem como fortalecer instituições como agências reguladoras técnicas e independentes. Além disso, a segurança jurídica, com respeito efetivo ao direito de propriedade, é indispensável. Elementos como melhoria na infraestrutura, desburocratização, ambiente regulatório claro e uma Reforma Tributária competente são imprescindíveis para incentivar o investimento em tecnologias mais produtivas.
Frente a esse panorama, é evidente que o Brasil tem feito pouco — ou quase nada — para mudar o cenário. Os dados comprovam isso: entre 2000 e 2019, a produtividade do trabalho no Brasil cresceu, em média, apenas 0,54% a.a. No mesmo período, o Chile registrou uma taxa de 1,55%. A distância em relação à Coreia do Sul é ainda mais chocante — entre 2000 e 2018, a produtividade do trabalho na Indústria sul-coreana avançou 4,3% a.a., contra o tímido 0,7% no Brasil.
Se o foco não for redirecionado para o aumento da produtividade e o planejamento de longo prazo, continuaremos presos a um ciclo de baixo crescimento, frustração e perda de potencial. O Brasil está empobrecendo, e ninguém parece disposto a assumir a responsabilidade de virar esse jogo.