Falar em taxar os super-ricos virou quase uma obsessão. Em tempos de crise, desigualdade e redes sociais, a proposta soa evidente: cobrar mais de quem tem muito. Mas será que é tão simples? Embora popular, a medida carrega riscos que muitos preferem ignorar — seja por conveniência política, seja por desconhecimento econômico.
Não é verdade que os mais ricos escapem totalmente do Fisco. Eles pagam impostos, e muitos. O problema não está na ausência de cobrança, mas no modo como se pretende ampliá-la. Criar um imposto sobre grandes fortunas pode parecer justo no papel, mas, na prática, é um convite à evasão. Quando o ambiente se torna hostil, o capital busca outros países, levando consigo empregos, investimentos e oportunidades.
Também há certo desconhecimento sobre o papel desses indivíduos na economia. Muitos dos que seriam atingidos por essa medida são empresários que construíram negócios ao longo de décadas, lidando com burocracia, instabilidade e riscos — especialmente no Brasil. Tributá-los pelo patrimônio acumulado é, em essência, punir quem conseguiu prosperar num país que pouco facilita o caminho. Além disso, a arrecadação projetada costuma ser superestimada. Experiências internacionais mostram que o retorno é baixo e o custo de implementação, elevado. A França, por exemplo, tentou e recuou. O resultado foi fuga de capitais e arrecadação irrisória. No Brasil, onde a fiscalização já é frágil, a ineficiência tende a ser ainda maior. E quando um imposto não entrega o que promete — e afasta potenciais investidores —, o saldo final é negativo.
Outro aspecto pouco debatido é o impacto das expectativas sobre o ambiente de negócios. Sinais importam. Quando o governo cogita medidas percebidas como hostis ao mercado, o investidor hesita. A confiança — combustível da economia — se retrai, e a desaceleração, embora silenciosa, começa a se instalar. Há ainda o risco político. Medidas de apelo popular, mas baixa efetividade, funcionam como cortinas de fumaça, desviando o foco das reformas estruturais que poderiam realmente melhorar o sistema tributário. Enquanto se discute como “punir” os super-ricos, quase nada se fala a respeito de simplificar tributos, aliviar a carga sobre o consumo ou revisar privilégios fiscais mal distribuídos.
O debate sobre justiça fiscal é legítimo, mas precisa de responsabilidade. Em vez de mirar no patrimônio acumulado, talvez seja mais sensato reformular todo o sistema, tornando-o menos regressivo, mais transparente e eficiente. Atacar os super-ricos rende manchetes positivas, mas não resolve o problema.
No fim das contas, o País precisa de crescimento, investimento e estabilidade. Medidas que abalem a confiança de quem movimenta a economia podem até parecer ousadas, mas soam mais como populismo. E o Brasil já sofre com entraves demais para se dar ao luxo de criar novos.