A desigualdade no Brasil não é nenhuma novidade. Ela atravessa décadas, governos e promessas. Desde os anos 1980, o País figura entre os mais desiguais do mundo, e, embora os indicadores recentes tragam algum alívio, a mudança estrutural ainda não aconteceu.
Em 2024, o índice de Gini, que mede a concentração de renda, caiu para 0,506 — o menor desde o início da série histórica do IBGE. Apesar do resultado importante, não representa uma virada. Essa redução decorre, sobretudo, da ampliação dos gastos públicos com programas sociais e transferências de renda — que são medidas relevantes, mas de efeito limitado e difícil manutenção no longo prazo. Em outras palavras, trata-se de um fôlego, e não de uma reforma. A renda média domiciliar per capita chegou a R$ 2,02 mil, porém os pilares da desigualdade seguem intocados. Para efeito de comparação, a Argentina registra índice de 0,407; a Indonésia, de 0,361. Entre nações de perfil semelhante, apenas a África do Sul apresenta quadro pior, com esse número acima de 0,6.
Quem acompanha o tema, já conhece o diagnóstico: sabemos onde está o problema, mas pouco avançamos na solução. Sem investimento consistente em Educação, Saúde e Serviços Públicos, não há como reverter esse quadro. A escola é o ponto de partida. Garantir ensino básico de qualidade — com professores valorizados, infraestrutura adequada e acesso à tecnologia — é fundamental para dar a crianças e jovens a chance de romper o ciclo da pobreza. Ampliar o ensino público em tempo integral, reter bons profissionais e combater a evasão escolar são passos urgentes.
Na Saúde, por sua vez, o desafio é semelhante. A falta de saneamento e a insegurança alimentar seguem atingindo milhões de brasileiros. Em regiões mais pobres, faltam médicos, equipamentos e até medicamentos básicos. Fortalecer o Sistema Único de Saúde (SUS), ampliar a atenção primária e regionalizar os serviços são caminhos possíveis para assegurar atendimento digno. O problema não é a escassez de recursos, mas a sua aplicação, que exige mais eficiência e menos desperdício.
Falar de desigualdade também implica olhar para os serviços públicos em sentido amplo. Transporte, segurança, moradia, cultura e lazer são direitos que não deveriam depender da capacidade de pagar por alternativas privadas. A ausência desses serviços nas periferias urbanas e nas zonas rurais aprofunda a exclusão e limita as perspectivas de desenvolvimento. Mais do que isso, reforça a sensação de que existem dois Brasis.
A integração entre políticas públicas precisa sair do discurso e se transformar em prática. Educação, saúde, assistência social e geração de emprego devem atuar de forma coordenada, com foco nos territórios mais vulneráveis e nos grupos historicamente marginalizados — e descentralizar decisões e ouvir quem vive na ponta são passos vitais para tornar essas políticas efetivas. Em última instância, o País precisa de uma Reforma Administrativa que valorize a eficiência e premie o mérito dos bons servidores públicos.
Apesar da leve melhora nos indicadores, o Brasil ainda tem uma longa jornada pela frente. Combater a desigualdade exige mais do que crescimento econômico. É preciso compromisso com a inclusão, a equidade e os direitos básicos de cada cidadão. E isso não se traduz apenas em estatísticas; constrói-se por meio de escolhas.