Nos últimos anos, muita gente tem confundido planejamento tributário com jeitinho. E, convenhamos, os escândalos que tomam conta da mídia não ajudam: empresa montando estrutura fajuta, operação disfarçada, nota para lá e para cá. Tudo em nome de “economia”. Só que a conta chega. E quando chega, respinga em todo mundo que trabalha sério.
É por isso que o momento exige mais do que nunca um olhar técnico, criterioso e estratégico. A hora de estruturar o planejamento tributário de 2026 já começou e o cenário ainda reserva boas oportunidades para quem quer reduzir a carga tributária com segurança, sem cruzar a linha.
A seguir, compartilho alguns pontos que têm aparecido com força nas análises e que merecem atenção ainda neste ano. Pode ser que você já esteja de olho em alguns deles, mas vale revisar com lupa.
- O regime tributário pode estar travando o resultado
Todo janeiro é igual: corre-corre para revisar o regime do cliente. Mas a verdade é que a escolha errada, feita lá atrás ou mantida por inércia, pode estar fazendo a empresa sangrar sem perceber.
Tem operação que está insistindo no Lucro Presumido com margem cada vez mais apertada, enquanto o Real já seria mais vantajoso. Tem Simples que virou ilusão. E o pior: tem caso em que ninguém para, restabelece a rota e recalcula com base nos números reais, só seguem o que “sempre foi assim”.
A revisão do regime, com simulação de cenários e análise de impacto fiscal, precisa deixar de ser protocolo e virar ferramenta estratégica. Especialmente agora, com mudanças de mercado, fusões, descentralizações e mais complexidade no fluxo financeiro.
- Revisar nota fiscal ainda é ouro (e quase ninguém faz direito)
Ainda tem muitos créditos tributários sendo perdido por erro bobo: classificação errada de NCM, CFOP incoerente, imposto calculado sobre base indevida. Quando alguém resolve olhar com atenção, quase sempre sai dinheiro da gaveta.
Teve um caso recente, numa distribuidora de autopeças, em que 20% das notas de entrada tinham códigos errados. Foram mais de R$ 120 mil em créditos recuperados num trimestre. Detalhe: ninguém da operação desconfiava.
Revisar documentos fiscais, especialmente em operações complexas, deveria ser rotina. E mais do que isso: olhar para as despesas também pode render frutos. Fretes, embalagens, consultoria, manutenção, entre outros. Tudo depende de como está documentado e se há lastro legal para crédito. A legislação permite mais do que muitos imaginam, desde que bem justificado.
- Incentivos fiscais que ninguém está aproveitando (e deveriam)
Todo mundo já ouviu falar de benefício fiscal, mas pouca gente de fato vai atrás para saber se o cliente tem direito. Tem muito incentivo regional e setorial que passa batido.
Tem negócio de tecnologia no Sudeste que poderia ter alíquota reduzida de PIS/COFINS e ICMS, mas segue tributando cheio. Tem distribuidora que poderia estar em regime especial, mas nunca solicitou.
Claro que, com a reforma tributária no horizonte, existe incerteza sobre a manutenção desses benefícios. Mas até 2033 tem muito chão. E quem se organiza agora, sai na frente.
Não é só identificar, é saber como pedir, o que apresentar, onde justificar. E, principalmente, acompanhar se o benefício continua coerente com a operação real da empresa. O fisco está cada vez mais criterioso, mas ainda tem muita brecha legal que pode (e deve) ser aproveitada.
- Reprecificação: o que ninguém quer mexer, mas todo mundo precisa
A precificação dos produtos e serviços dos seus clientes provavelmente não considera a carga tributária real. Em muitos casos, está baseada em uma alíquota teórica, sem considerar créditos aproveitáveis, isenções, ou regimes especiais.
A conta fica distorcida. E quando o caixa aperta, ninguém entende por quê.
Recalcular a carga tributária efetiva é o primeiro passo para ter clareza. Às vezes, o número cai de 20% para 15% só com ajustes finos e melhor aproveitamento fiscal. E aí sim, dá para ajustar os preços de forma mais coerente, proteger a margem de lucro e ainda ganhar competitividade.
É uma análise que deveria entrar no radar dos clientes pelo menos uma vez por semestre. Ou até com mais frequência, se estivermos falando de setores como combustíveis, autopeças ou e-commerce, onde tudo muda rápido.
- Reavaliar com frequência é o que separa quem sobrevive de quem prospera
Muita estratégia tributária dá certo no papel, mas perde o timing. O planejamento que funcionava há seis meses pode não fazer mais sentido agora.
Empresas mudam, mercado gira, legislação se adapta. E a única forma de continuar gerando valor é revisar o jogo a cada tempo.
Revisão semestral do planejamento não é burocracia. É inteligência aplicada à realidade. E faz toda a diferença quando a ideia é construir um negócio saudável e sustentável, fiscal e financeiramente.
Vale a pena parar para pensar
Num cenário em que o cerco está se fechando para quem improvisa, o espaço de atuação técnica se amplia para quem trabalha com método. Ainda tem muita oportunidade legítima para reduzir imposto, ganhar eficiência e proteger resultado.
Mas o que separa uma operação segura de um passivo fiscal futuro é, cada vez mais, a qualidade da análise. E, nesse campo, a nossa atuação continua sendo decisiva.
O que você ainda não está enxergando nas empresas que atende? Que brechas legais estão passando despercebidas? E o quanto isso pode estar custando no longo prazo?
A provocação está lançada.