A partir do dia 1º de janeiro de 2026, milhares de pequenas e médias empresas brasileiras vão encarar um “teste de estresse” que poderá definir sua sobrevivência. Bateu à porta a adaptação à Reforma Tributária. Com a transição para o IBS e a CBS, os primeiros anos vão revelar não apenas mudanças técnicas na apuração de impostos, mas também falhas estruturais de gestão, vulnerabilidades financeiras e a real capacidade de cada negócio em se manter competitivo.
Um levantamento da Robert Half mostra que apenas 11% das empresas brasileiras afirmam estar preparadas para a Reforma. Outras 50% reconhecem que poderiam estar mais bem preparadas, enquanto 37% admitem não estar prontas, mesmo já tendo iniciado análises internas. O dado não é trivial, pois revela que quase nove em cada dez companhias entraram na fase de testes de 2026 em condição frágil. Essa fragilidade é mais perigosa para PMEs, que têm margens reduzidas e menos fôlego financeiro para absorver erros ou custos inesperados.
Entre os riscos mais evidentes estão o aumento de custos tributários não previstos, a desorganização no fluxo de caixa durante a convivência entre sistemas até 2033, a perda de competitividade diante de concorrentes mais preparados, as limitações tecnológicas de sistemas de gestão que podem não suportar os novos modelos de apuração e a possibilidade de falhas que resultem em multas e passivos. Esses fatores, somados, configuram um cenário de vulnerabilidade que pode comprometer a sobrevivência de milhares de negócios.
O impacto da Reforma não se restringe à contabilidade. Ele influencia a precificação, decisões de investimento e até a manutenção de empregos. Para uma grande empresa, há reservas e departamentos inteiros que podem absorver choques. Para uma pequena, cada erro pode ser fatal. É justamente por isso que a preparação não pode ser adiada. O ano de 2026 funcionará como fase de testes e será a oportunidade para mapear códigos fiscais, revisar políticas de preço e depurar processos. Ignorar esse período é abrir mão de um laboratório valioso, que pode reduzir riscos e evitar surpresas mais à frente.
A Reforma Tributária é inevitável e, em muitos aspectos, necessária. Mas não será neutra. Ela exigirá das empresas — especialmente das PMEs — um esforço de adaptação que vai muito além de ajustes técnicos. Trata-se de rever práticas, capacitar equipes e assumir uma postura proativa diante do novo cenário. Se há uma lição que a experiência brasileira já ensinou é que o improviso custa caro. No caso da Reforma, pode custar a sobrevivência de milhares de negócios.
Por Silvio Abade Jr.