A Reforma Tributária (EC 132/2023 e LC 214/2025) começa a sair do papel e já preocupa — e muito — o varejo de moda.Embora o Simples Nacional continue existindo, as regras do jogo estão mudando.
E quem trabalha com lojas de roupas, calçados e acessórios, especialmente aquelas que compram de grandes marcas e vendem para o consumidor final, vai sentir o impacto nos próximos meses.
Não falo isso apenas como advogada.Venho de uma família que sempre viveu do comércio de roupas.Cresci vendo o quanto as variações de preço, os prazos de pagamento e as mudanças tributárias afetam diretamente a sobrevivência das lojas.Por isso, sei que cada ponto percentual na margem, cada tributo e cada ajuste de preço fazem diferença real no caixa e na vida de quem empreende nesse setor.O Simples continua — mas o entorno mudou
O Simples Nacional segue como regime diferenciado, mas o contexto tributário em volta dele está sendo reestruturado.Com a criação da CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços) e do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços), os tributos indiretos (PIS, Cofins, ICMS e ISS) serão gradualmente substituídos.
O problema é que a maioria das grandes marcas do setor têxtil — como Sallo, Malwee, Colcci, Coca-Cola Jeans e tantas outras — não está no Simples.Elas recolhem tributos pelo Lucro Real ou Presumido, e isso muda a dinâmica de precificação.
Mesmo que o pequeno lojista continue recolhendo seu DAS mensal, o custo de aquisição vai subir — porque os fornecedores terão de ajustar seus preços com base nas novas regras do CBS e IBS.
Um levantamento do IBPT (setembro/2025) estima que o impacto médio no custo de estoque de varejistas de moda pode chegar a 5,8% nos primeiros anos da transição.Fim dos benefícios ocultos: ICMS-ST e incentivos regionais
Atualmente, muitos lojistas se beneficiam de mecanismos como Substituição Tributária (ICMS-ST) e incentivos estaduais, que reduzem custos em operações interestaduais.Esses benefícios, porém, serão extintos gradualmente até 2033, conforme a Emenda Constitucional 132.
Isso significa que as lojas perderão parte do “colchão fiscal” que amenizava o custo de compra, especialmente quando o fornecedor é de outro estado.
Em estados com alta carga de ICMS, como São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, o aumento pode chegar a 6% no preço de revenda.Contratos, reajustes e novas cláusulas
A transição tributária exigirá revisão de contratos comerciais, especialmente os de fornecimento e representação.Cláusulas genéricas como “preço com tributos incluídos” precisam ser substituídas por modelos mais claros, que definam o que está incluso e como serão feitos os repasses tributários.
A falta de atualização pode gerar cobranças indevidas, erros de precificação e até litígios entre fornecedores e lojistas.Nesse ponto, o apoio jurídico preventivo faz toda a diferença.A importância da parceria entre contador e advogado
Mais do que nunca, a sobrevivência do pequeno comércio de moda vai depender da integração entre contabilidade e jurídico.
O contador é quem traduz o impacto dos novos tributos em números: simula margens, reajusta preços e calcula o melhor regime.O advogado é quem garante segurança contratual, ajusta cláusulas e evita passivos.Juntos, eles conseguem proteger o lojista antes que o problema aconteça.
Essa integração é o futuro das empresas do Simples.E quem entender isso primeiro, vai sair na frente.Como as lojas podem se preparar agora
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Simular cenários de compra e margem com o contador;
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Negociar com fornecedores cláusulas de reajuste transparentes;
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Revisar contratos comerciais com apoio jurídico;
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Treinar equipes sobre o impacto da reforma na precificação;
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Planejar estoque considerando possíveis aumentos de custo em 2026.
A Reforma promete simplificar. Mas para o pequeno lojista, a adaptação será o verdadeiro desafio.














