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ARTIGO DE ECONOMIA

Economia do crime: quando o ilícito é uma escolha racional

O artigo mostra como incentivos, riscos e oportunidades moldam comportamentos ilícitos — e por que políticas públicas inteligentes precisam alterar essa lógica para serem realmente eficazes.

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Economia do crime e decisões racionais

Economia do crime: quando o ilícito é uma escolha racional

Nem todo crime nasce do impulso ou da raiva. Muitas vezes, resulta de uma conta fria e calculada. “Quanto posso ganhar com isso?”; “Qual a probabilidade de ser pego?”; “E, se for, o que acontece comigo?” Se as respostas parecerem vantajosas, o ilícito se torna uma opção racional. Essa é a base da chamada economia do crime, uma linha de pensamento que ganhou força a partir dos estudos do economista Gary Becker, nos anos 1960. Becker propôs uma ideia simples, mas transformadora: em muitos casos, o criminoso se comporta como qualquer outro agente econômico, tomando decisões com base em incentivos, riscos e recompensas.

Pense em um furto. Se o valor do bem é alto, a chance de captura mostra-se baixa e a punição, caso ocorra, não parece severa, o crime pode parecer um bom negócio. A mesma lógica se aplica a fraudes, corrupção e tráfico — o cálculo envolve o que se ganha, o que se arrisca e o que se perde se algo der errado. Aqui, é importante frisar que essa abordagem não busca “passar pano” para o crime, mas compreendê-lo. Entender a sua lógica é o primeiro passo para combatê-lo de forma mais efetiva. Se o comportamento criminoso responde a incentivos, políticas públicas podem ser desenhadas para alterá-los. Aumentar a probabilidade de punição, por exemplo, costuma ser melhor do que simplesmente endurecer penas. Um sistema que investiga com rapidez, julga com eficiência e pune de maneira consistente tem mais poder de decisão do que leis severas que raramente são aplicadas.

O raciocínio também vale para o outro lado da equação. O que o indivíduo tem a perder ao não cometer o crime? Quem tem um bom emprego, estabilidade e uma carreira em construção lida com um alto custo de oportunidade ao optar pela ilegalidade. Já quem vive à margem, sem perspectivas, percebe o risco como menor. Nesse contexto, políticas que ampliam o acesso ao trabalho, à renda e à educação funcionam como freios econômicos — não só por apelo moral, mas por cálculo racional.

A lógica da escolha racional também explica crimes sofisticados, como fraudes contratuais, desvios de verba ou manipulação de licitações. Esses agentes igualmente fazem contas. Quando o sistema é moroso e a punição, improvável — além de brechas legais abundantes —, o risco percebido é baixo e o retorno, elevado. A racionalidade persiste, apenas operando com mais recursos e discrição. Outro ponto importante é que o crime se adapta. Quando o ambiente muda, ele responde. Se uma cidade investe em policiamento inteligente, câmeras e investigação de qualidade, o risco aumenta e a criminalidade tende a recuar. Isso mostra que o comportamento criminoso não é fixo, reagindo aos sinais que o sistema transmite.

No fim das contas, entender o crime como uma escolha racional não significa minimizar a sua gravidade, mas reconhecer que, em muitos casos, representa uma resposta lógica a um conjunto de estímulos. Se é assim, a solução passa por mudar esses estímulos: tornar o crime mais arriscado, menos lucrativo e menos atraente, bem como o caminho legal mais acessível, seguro e recompensador. Essa perspectiva não resolve todos os problemas, mas ajuda a tirar o debate do lugar comum. Em vez de tratar o crime como mistério moral ou tragédia inevitável, propõe que o encaremos como um fenômeno econômico que pode ser desarmado com inteligência, e não somente com força.

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