Neste ano, a dinâmica das contas externas brasileiras voltou ao centro das análises econômicas. O País, que já viveu períodos de maior conforto, hoje vive um cenário que exige atenção redobrada. O déficit em transações correntes segue persistente e vem sendo financiado de maneira cada vez mais dependente de capitais de curto prazo. A balança comercial, que continua contribuindo positivamente, ameniza parte da pressão, mas não compensa os desequilíbrios em serviços e renda primária — fatores que tornam o quadro mais frágil e suscetível a oscilações.
O aumento nas viagens internacionais, nas importações e no consumo de serviços no exterior voltou a pesar sobre as contas externas. Paralelamente, multinacionais instaladas no Brasil retomaram lucros expressivos e intensificaram o envio de dividendos para suas matrizes. Só em 2025, as remessas já superaram US$ 70 bilhões, pressionando fortemente a conta de renda primária.
Essa situação só não é mais preocupante por dois fatores. O primeiro é externo: a redução dos juros pelo Federal Reserve (FED) diminuiu a atratividade dos ativos norte-americanos, preservando parte do fluxo de capitais para economias emergentes, como o Brasil. O segundo é doméstico: embora o quadro fiscal mais deteriorado tenha afastado investimentos de longo prazo, a manutenção de juros elevados continuou atraindo recursos de perfil mais especulativo.
O problema é que esse tipo de financiamento só sustenta o balanço de pagamentos no curto prazo, aumentando a vulnerabilidade a choques externos ou mudanças bruscas no humor dos mercados. Se o déficit em transações correntes seguir em alta e ultrapassar o volume de investimento direto no País, a dependência de capitais voláteis vai continuar crescendo, ampliando o risco de instabilidade cambial.
O Brasil não está às portas de uma crise cambial. As reservas internacionais permanecem robustas e o déficit, mesmo elevado, ainda encontra fontes de financiamento. A apreensão reside na qualidade desses fluxos. Uma alteração na política monetária dos Estados Unidos, um evento geopolítico relevante ou uma piora mais acentuada da confiança interna poderia desencadear saídas rápidas de capitais e pressionar o câmbio.
A questão, portanto, é recuperar a capacidade de gerar divisas de forma sustentável. Isso envolve ampliar exportações de maior valor agregado, reduzir a dependência de serviços importados e atrair investimentos produtivos que permaneçam em território nacional. Melhorar os fundamentos macroeconômicos, fortalecer setores com potencial competitivo, diversificar a pauta exportadora e promover inovação tecnológica são passos essenciais. Ao mesmo tempo, torna-se fundamental construir um ambiente institucional mais estável, capaz de atrair capital de longo prazo e reduzir a percepção de risco.
A conjuntura atual está longe de ser crítica, mas a trajetória não é confortável. O Brasil precisa transformar a entrada de capital em capacidade produtiva duradoura, e não apenas em consumo imediato ou lucros remetidos ao exterior. Se avançar nessa direção, poderá reduzir a própria vulnerabilidade externa e construir bases mais sólidas para o crescimento. Caso contrário, o País continuará dependente de fluxos especulativos, sempre exposto às oscilações do mercado internacional.













