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ARTIGO DE ECONOMIA

Seria o SVB o novo Lehman Brothers?

Neste artigo, o especialista comenta sobre a quebra do SVB, banco médio norte-americano especializado em startups.

23/03/2023 15:15:02

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Seria o SVB o novo Lehman Brothers?

Seria o SVB o novo Lehman Brothers?

Nas últimas semanas, o mundo foi surpreendido pela notícia da quebra de alguns bancos médios norte-americanos. O maior deles, o Silicon Valley Bank (SVB), especializado em startups do Vale do Silício, tem mais de 50% de seus ativos vinculados a empresas médias ou de tecnologia. Para se ter uma ideia do seu tamanho, é o 20º maior banco daquele país, com ativo de US$ 209 bilhões – a título de curiosidade: o maior banco dos Estados Unidos, o JPMorgan Chase & Co., possui ativos na ordem de US$ 2,3 trilhões. 

Fundado em 1983, a instituição, que cresceu tal qual a região da Baía de São Francisco, se especializou num mundo que via a expansão tecnológica como principal motor do desenvolvimento. 

Diante dos temores de uma crise bancária parecida com a ocorrida em 2008, o medo era de que bancos do mundo inteiro colapsassem graças à ligação destes com um ambiente de bolha rompido. 

Felizmente, para tranquilizar o mercado, parece que esta instabilidade é mais limitada do que há 15 anos. Em 2008, a crise do sistema imobiliário estimulou as pessoas a devolver as casas aos bancos, em vez de continuar pagando o financiamento. Isso aconteceu por causa da alta dos juros.  

Além disso, boa parte dos financiamentos dos Estados Unidos é do tipo ARM (adjustable-rate mortgage), ou seja, pós-fixado. Tudo isso somado ao fato de que os títulos bancários vinculados ao setor tinham créditos de baixa qualidade; por isso, os bancos se viram com ativos (casas) sem valor e passivos cada vez maiores, gerando o famoso “descasamento de passivo e falta de liquidez”.

O problema é que bancos compravam esses títulos “ruins” de outros bancos. Não demorou muito para a situação se alastrar, num setor importante como o imobiliário. O cerne da crise veio do pouco rigor da concessão de crédito a uma taxa de juros extremamente baixa por muito tempo. 

Sendo assim, o governo estadunidense, em um primeiro momento, não salvou os bancos e os deixou quebrar, criando um círculo vicioso bancário.

No caso do SVB, o processo é diferente, mas, novamente, estimulado pela alta de juros do Federal Reserve (FED), que ainda não teria completado o processo de flexibilização monetária. 

Estas instituições financeiras, que tinham como entrada de recursos receitas de empresas de tecnologia (startups em sua maioria), usavam estes meios para comprar títulos do governo de longo prazo, um erro primário, pois o valor de mercado desses títulos são muito voláteis. 

Imagine uma ação que ofereça 10% ao ano (a.a.), por dez anos, que garanta um valor final em 2033: se os juros subirem, para atingir o mesmo preço prometido pelo título, haverá, hoje, uma perda do valor de face. Assim, após um aumento dos juros, o valor de mercado desse título cai – e o tombo será maior conforme o prazo destes papéis forem mais longos.

Só que a mesma taxa de juros que fez o valor de face dos títulos caírem colocou muitas empresas de tecnologia em situação difícil, ao se verem obrigadas a buscar recursos bancários. 

No momento em que o SVB vendia as ações do governo, percebeu que esse valor de face era muito menor – e claramente houve um descasamento entre ativos e passivos. 

Este procedimento afetou a liquidez para os resgates de mandados, a qual acabou sendo garantida pelo governo norte-americano.

Pela estrutura de todo o processo, este parece ser um fenômeno mais característico de um banco médio, inserido em um setor específico, divergente de uma crise bancária aguda, como a de 2008. Sem contar que, aqui, o FED agiu rápido para contornar o contexto. 

Os próximos passos da autoridade monetária podem dar mais pistas do tamanho do estrago, já que não dispomos de mais informações no momento. Todavia, ao que tudo indica, não teremos maiores problemas. Sorte da economia mundial, que não precisa de mais uma turbulência.

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