Gisele
Antes de começar tentar exemplificar uma sugestão para sua contabilidade, é importante observarmos o seguinte:
1) Não é bom e nem contabilmente aceito o fato de um bem deixar o patrimônio da entidade e mesmo assim este bem continuar em nome da empresa.
2) É extremamente útil e preventivo fazer um contrato, com duas testemunhas, reconhecimento de firmas e também com registro em cartório. - Uma nota fiscal de saída suprimiria o contrato registrado.
Tudo indica que inclusive a documentação do veículo continuará em nome de seu cliente. Agora imagine que o comprador acabe causando danos a terceiros (qualquer tipo de dano por ocasião de acidente)... De quem seria a responsabilidade civil? Obviamente do proprietário do veículo, que teoricamente continuará sendo seu cliente, por ainda estar com a documentação em seu nome.
3) Se for possível induzir o novo proprietário a fazer um seguro contra danos a terceiros, isto já asseguraria uma relativa tranqüilidade baseada nesta precaução ilusória
4) Este procedimento só será válido e aceitável se:
4.a) O veículo não estiver alienado
4.b) O financiamento deixar de ser cobrado diretamente na conta corrente; em caso contrário, quando da baixa da parcela, qual seria a contrapartida para o lançamento? Observe que após a contabilização desta transferência a dívida não mais estará no PC.
4.c) Nas circunstâncias de alienação, atente que juridicamente é plenamente nula e inválida a prática de uma entidade transferir a propriedade de um bem que não é seu a terceiros
Cálculos:
Antes de contabilizar, seria necessário pelo menos estabelecer alguns parâmetros básicos para os lançamentos, e eu prefiro "começar do começo", sem envolver Exigível a Longo Prazo e deixando de citar contabilização de tac e IOF por razão destes custos não se enquadrarem a esta questão:
Dados do financiamento:
Liberação do Financiamento: 01/2008
Valor recebido: 15.000
Total de juros: 1.149,00
Número de Parcelas: 14 (Sistema Price)
Valor de cada Parcela: primeira: 82,09 demais: 82,07 (arredondamento de valores)
Primeiro pagamento: 02/2008
Último pagamento: 03/2009
Juros: 1% a.m. (postecipados)
Cálculo das parcelas:
P = C * k
(Prestação = capital * fator)
k = [i.(1+i)^n]/{[(1+i)^n]-1}
onde:
k = fator
i = taxa
n = tempo
k = (0,01 * 1,01^14)/(1,01^14 - 1)
k = (0,01 * 1,1495)/(1,1495 - 1)
k = 0,0115 / 0,1495
k = 0,0769
P = C * k
P = 15000 * 0,0769
P = 1.153,50
Contabilização:
1 - Pelo recebimento do financiamento:
D) Bancos
C) Financiamentos (PC)
R$ 15.000,00
D) Juros a transcorrer (PC - próximo à conta de financiamento)
C) Financiamento (PC)
R$ 1.149,00
1.a) Pela aquisição do Veículo
D) Veículos
C) Bancos
R$ 15.000,00
2 - Pela apropriação mensal dos juros
D) Juros Passivos (CR)
C) Juros a Transcorrer (PC)
R$ 82,09 (primeiro mês; nos meses seguintes o valor será 82,07)
3 - Pelo pagamento da parcela:
D) Financiamentos
C) Bancos
R$ 1.153,50
Desta maneira no mês de Agosto (com a parcela desta pertinência já paga), restariam as 7 parcelas que você citou em sua pergunta (período de Setembro/08 até Março/09) e as contas que nos interessam estariam com os seguintes saldos:
Financiamentos: 8.074,50 CR
Juros a Transcorrer: 574,49 DB
Saldo do financiamento: 7.500,01 CR
Nota: No intuito de melhor expor este exemplo, atribuímos à venda o valor de R$ 6.000,00 (número de parcelas pagas [menos] depreciações)
4 - Venda do veículo
4.a) Calcular e lançar a depreciação proporcional do bem (8/12 de 20%)
D) Despesas com Depreciações
C) Depreciações Acumuladas
R$ 2.000,00
4.b) Depreciar o bem
D) Depreciações Acumuladas
C) Veículos
R$ 2.000,00
4.c) Reconhecimento da venda:
D) Caixa/Bancos/Clientes
C) Ganhos ou Perdas de Capital (Contas Transitórias)
R$ 6.000,00
4.d) Baixa do bem:
D) Ganhos ou Perdas de Capital (Contas Transitórias)
C) Veículos
R$ 13.000,00
4.e) Baixa do financiamento e dos juros:
D) Financiamentos
C) Juros a Transcorrer
R$ 574,49
D) Financiamentos
C) Ganhos ou Perdas de Capital (Contas Transitórias)
R$ 7.500,01
4.f) Registro do Lucro (Ganho de capital)
D) Ganhos ou Perdas de Capital (Contas Transitórias)
C) Ganhos em transações do Ativo Permanente (Receitas Não Operacionais)
R$ 500,01
Nota: Deixo de citar a tributação do ganho de capital por razão deste assunto não se enquadrar às diretrizes deste esclarecimento
Considerações finais:
1) Em termos de matemática financeira, se colocarmos estes dados em uma planilha constataremos que os juros mensais computados nos cálculos não terão os mesmos valores que os juros lançados na contabilidade, visto que pelo sistema price os juros são proporcionais ao financiamento (quanto maior o capital, maior o juro e mensalmente o valor financiado vai diminuindo - amortizações - , diminuindo também o valor dos juros) e contabilmente o total dos juros foram divididos por quatorze meses. Visto que este exemplo é de contabilização e não de matemática financeira, embora eu tenha feito o cálculo e citado fórmulas logo acima, consideremos que isto foi somente a título de orientações gerais.
2) Reiterando os conceitos introdutórios, este procedimento só é válido para um bem desalienado.
3) Esta rotina baseou-se no fato de uma empresa haver tomado um empréstimo desvinculado da utilização da quantia.
Caso ainda tenha dúvidas, conte com o Fórum
Saudações
Nota:
Esta mensagem foi editada, especificamente no final da Consideração Final nº 3, tendo a parte incorreta removida. Nesta parte excluída era dito que os juros do financiamento de veículos deveria ser também imobilizado, o que não procede. Maiores esclarecimentos acerca de encargos financeiros podem ser obtidos na postagem de 05/09/2008, logo adiante.