Com a manutenção da Selic em 8,75%, a competição entre poupança e fundos conservadores, motivada pela queda da taxa básica de juros, deve se acirrar. Até agora, a estratégia escolhida pelas instituições financeiras foi apostar na inércia, ou seja: que os investidores não mexeriam em suas aplicações em razão da diferença da rentabilidade. Por parte do governo, a opção foi empurrar para frente uma definição sobre mudança na poupança.
A perspectiva duradoura da Selic em patamar baixo, porém, coloca em xeque o caminho escolhido pelos bancos e pelo governo. Ambas estratégias não devem surtir efeito a médio e longo prazo. "Ainda existe uma vantagem momentânea da desinformação, mas a médio e longo prazo, a tendência é de queda das taxas de administração", frisou o professor de finanças do Insper, Liao Yu Chieh. "Não identificamos a migração dos fundos, mas o dinheiro novo está indo para a poupança", completou.
Segundo Liao, a poupança já leva bastante vantagem competitiva frente aos fundo DI de curto prazo (até seis meses), explicados não apenas pelas altas taxas de administração, mas também pela tributação das aplicações, que tem a alíquota do Imposto de Renda em de 22,5%. "Uma coisa boa para os fundos de renda fixa seria a diminuição sobre sua tributação, que está em estudo", diz. "Mas o movimento de queda na taxa de administração é inevitável", acrescentou. Essa seria uma alternativa, porque a um ano das eleições presidenciais, parece cada dia menos provável que o governo embarca na aventura de tributar a poupança.
Momento de observar
Economistas acreditam que o Banco Central optou por adotar uma postura mais conservadora pelo resto deste ano. "O cenário de manutenção acontece porque o Copom já tinha imposto uma queda forte na Selic nos últimos meses e existe uma defasagem entre a implantação da política e os efeitos dela sobre a economia", disse o economista da Tendências Consultoria, Bernardo Wjuniski. "Agora é o momento de avaliar a reação da atividade econômica. O Banco Central agiu com cautela", acrescentou. Segundo ele, a previsão é fechar 2009 com a taxa de juro inalterada (8,75% a.a) e repetir este patamar da Selic para 2010. "O foco da decisão do Comitê é a inflação e ela está controlada".
O vice-presidente do Conselho Regional de Economia de SP (Corecon-SP), Manuel Enriquez Garcia, também considera a estabilidade da Selic um movimento de prudência. De acordo com o economista, a taxa básica de juros já caiu fortemente nas últimas reuniões do Copom; aliado a isso, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo acumulado está em 4,29%, ou seja, abaixo do centro da meta (4,5%) e o crédito motivado pelos bancos oficiais cresceu, portanto, o momento agora é de aguardar os efeitos.
As lideranças empresariais não receberam bem a notícia da manutenção da Selic. "A interrupção na trajetória de queda dos juros é inaceitável", disse o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto. Segundo ele, a decisão indica que o Copom acredita que a crise foi superada. "Mas essa crença não condiz com a realidade. A indústria ainda sofre os efeitos recessivos que a crise provocou", destacou Monteiro Neto.
A Fecomércio afirmou em nota, que a manutenção em 8,75% ao ano "é conservadora para situação atual do país". Para a Federação, a taxa de juros neste patamar mantém a valorização acentuada do real e afeta mais o custo da dívida pública, que remunera seus títulos com a Selic.
A Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) também criticou a decisão. "O Copom não percebeu que estamos perdendo preciosos pontos no Produto Interno Bruto [PIB], empregos e renda na sociedade, por não abaixar os juros praticados no Brasil a uma realidade possível", afirmou em nota. O presidente da entidade, Paulo Skaf, classificou de conservadora a decisão do Comitê.
Por parte dos trabalhadores, a Força Sindical divulgou nota, onde diz que "a decisão do Copom frustra os trabalhadores, que ansiavam por uma queda drástica".
Fonte: DCI
Enviado por: Wilson Fernando de A. Fortunato