Nas últimas duas semanas, foram registrados acidentes, com funcionários feridos, em quatro refinarias da Petrobrás no País. Para garantir a redução de custos operacionais, mesmo no ápice da produção e processamento do petróleo, as medidas adotadas nas refinarias atingem diretamente a segurança e manutenção das refinarias, segundo os trabalhadores.
As paradas para reparos são atrasadas, o período de manutenção é encurtado, faltam profissionais para inspeção, treinamentos e até equipes para operação.
Na Bahia e no Paraná, os acidentes da última sexta-feira aconteceram na unidade de craqueamento catalítico. Na Refinaria Landhulfo Alves (Rlam), na região metropolitana de Salvador, a área estava em manutenção, mas o prazo para realização de reparos foi reduzido pela direção de 60 para 20 dias. Na Repar, os funcionários relatam que o mesmo tipo de unidade, projetada para operar a 6 mil m³/dia de derivados, estava funcionando a 7,3 mil m³/dia.
"É uma bomba relógio", avalia o sindicalista Aguinelson da Silva, diretor do Sindpetro no Amazonas, onde dois funcionários ficaram gravemente feridos após um incêndio provocado pela explosão também na unidade de Craqueamento Catalítico. O equipamento já tinha problemas, mas a manutenção só seria feita em janeiro.
O adiamento na realização de inspeções e manutenções são uma forma de evitar a paralisação das unidades e não comprometer as metas de processamento. "A empresa tenta maximizar o número de equipamentos em manutenção na mesma parada, encurtando o tempo. Isso significa um trabalho sob pressão e sem qualidade", descreve Leonardo Urpia, diretor do Sindpetro-Ba.
Estratégias semelhantes são relatadas por funcionários das unidades Reduc, em Duque de Caxias, no Rio; Replan, em Paulínia, no interior de São Paulo, e também na Regap, em Minas Gerais. "A manutenção recomenda parar, mas a gerência das unidades não para. Quantas recomendações não foram cumpridas?", questiona o operador José Simão, da Reduc, em Duque de Caxias, no Rio.
Funcionários. O problema se agrava com a escassez de mão de obra certificada e a sobrecarga de horas extras entre os funcionários da empresa, reclamações recorrentes entre as unidades. No caso da Repar, o sindicato diz que, desde 2011, a refinaria perdeu 112 dos 1.000 funcionários próprios. Cerca de 30, disse, foram transferidos para reforçar a produção de petróleo no pré-sal.
A refinaria está parada desde o incêndio de 28 de novembro e a petroleira espera retomar parcialmente atividades no dia 17. "Começa a faltar gente para fazer a vistoria, e dinheiro para colocar o andaime para se chegar ao equipamento que está lá no alto", disse o presidente do Sindipetro PR-SC, Silvaney Bernardi. O acúmulo de horas extras levou o sindicato de Campinas, responsável pelos trabalhadores da Replan, a entrar com uma ação na Justiça do Trabalho de Paulínia contra a empresa, na última sexta-feira.
"A quantidade excessiva de horas extras, ao longo do tempo, gera uma exaustão com um risco iminente de acidentes", afirma Rogério Santa Rosa, diretor do sindicato local.
Há exemplos de funcionários que mensalmente trabalham 80% a mais do previsto na carga horária. Em Manaus, há casos estão com 200 dias acumulados em horas extras somadas. "Abriram quatro novas unidades nos últimos anos, sem novas contratações. Não temos equipes de substituição", completa Santa Rosa. Nem a terceirização, prática condenada pelo sindicato pela baixa qualificação, atende à demanda. Hoje, nas unidades, a média é de 3 funcionários terceirizados para cada operador da Petrobrás.
"Não há política de segurança adequada ou um planejamento de recursos humanos", diz Ronaldo Tedesco, e diretor da Associação dos Engenheiros da Petrobrás. /A.P. e S.V.
Fonte: Estadão