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Como reduzir os gastos com a saúde dos funcionários

08/02/2006 00:00

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Como reduzir os gastos com a saúde dos funcionários

Os gastos com saúde representam hoje a segunda maior despesa das organizações no Brasil, ficando atrás apenas da folha de pagamento. Interessadas em reduzir esses custos, muitas companhias estão começando a investir em programas de prevenção de doenças e de incentivo a hábitos saudáveis. Para isso, chegam a premiar em dinheiro quem cuida melhor da saúde. O objetivo é ter uma força de trabalho sadia para evitar mais despesas no futuro. As operadoras de planos de saúde brasileiras atentas a essa realidade já estudam formas de contribuir nesta empreitada. Uma delas seria com a diminuição da co-participação dos funcionários que se tornarem adeptos a uma prática esportiva. "A utilização do subsídio pelas empresas como forma de colocar em prática suas iniciativas em prol da qualidade de vida entre os funcionários é algo que deve desembarcar aqui nos próximos anos", afirma Caio Soares, gerente de medicina preventiva e programas especiais da Omint, administradora de planos de saúde dirigidos à classe A. "Já existem companhias que planejam deixar de descontar do funcionário com doença crônica o valor pago no plano de saúde, se ele aderir a um programa de acompanhamento personalizado ". Segundo Fábio Abreu, diretor executivo da AxisMed, que presta serviços a operadoras e empresas com planos de saúde próprios, o interesse das companhias em abolir a co-participação (contribuição dos empregados nos custos de saúdes empresariais) dos portadores de doenças crônicas que aderirem ao programa de monitoramento é crescente. "Eles são os que mais gastam e oferecem altos riscos", diz. "Também são os que mais relutam em cumprir as orientações médicas". Todas essas mudanças na política das operadoras de saúde devem acompanhar uma tendência mundial de se tentar vincular a assistência médica ao comportamento saudável dos empregados. Uma prática polêmica comum nos Estados Unidos, por exemplo, tem sido o desconto sobre o valor pago nos planos de saúde para quem é magro. No fim do ano passado, duas operadoras americanas - a Fairview e a United Healthcare - causaram o maior alvoroço no mercado ao anunciarem que dariam bônus de U$ 100 aos clientes que cuidassem do peso. No Brasil a importação de modelos como este ainda está distante. A política de descontos para quem cuida da saúde encontra fortes resistências, principalmente por esbarrar na legislação. "A Agência Nacional de Saúde não permite esse tipo de prática, comum às seguradoras de carro, que definem os preços de acordo com o perfil do motorista", ressalta Soares, da Omint. De acordo com ele, sua companhia já cogitou implantar o modelo no país, mas desistiu da idéia. Thais Blanco, consultora sênior de benefícios da Hewitt Associates, acredita que a adoção dessas práticas é uma questão de tempo. "Quando as empresas chegarem no limite, precisarão ter formas efetivas de cortar custos", afirma. Hoje, segundo ela, algumas empresas já vêm caminhando para ações muito próximas à dos descontos. Quem usa muito o plano paga mais ou os pacientes com doenças crônicas têm de graça medicamentos e serviços de monitoramento. "Ao contrário do mercado americano, no Brasil não há uma cultura de punição para quem conta com todos os benefícios nas mãos e não os usufrui", ressalta. "O que seria bastante justo, já que a empresa banca os gastos e assume riscos". O combate à falta de atividade física, que em muitos casos está associada a problemas de obesidade e outras doenças de alto risco, entretanto, está entrando para a lista de prioridades dos departamentos de recursos humanos das empresas do país. Enquanto não existe um acordo formal com as operadoras de saúde, muitas delas estão tratando a questão cada uma à sua maneira. A obesidade hoje é um problema mundial que atinge mais de um bilhão de pessoas, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. E 38,6 milhões de brasileiros estão acima do peso, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para cuidar dessa questão internamente, o grupo Algar criou em 2002 o Programa de Desenvolvimento Individualizado da Saúde. Na tentativa de mudar o comportamento dos 220 executivos da holding, a empresa condicionou 20% do bônus oferecido no fim do ano à mudança de hábitos físicos e alimentares do alto escalão. Assim, quem não "malhasse", teria seu dinheiro extra comprometido. Não deu outra. Todos, sem exceção, aderiram à iniciativa e acabaram, por tabela, alcançando as metas traçadas. O sucesso do programa levou a empresa a não mais vincular os bônus à avaliação médica. No entanto, o grupo Algar optou por continuar incentivando o check-up e a prática regular de atividades físicas. A Samcil, operadora de planos de assistência médica, é outro exemplo interessante que começa em casa. Além de estimular o diagnóstico precoce de doenças e o monitoramento de pacientes portadores de casos complexos - diabetes, hipertensão e problemas de coração -, a empresa resolveu convencer seus funcionários a adotarem uma vida mais saudável com a prática de esportes. Para isso, aproveitou a tradicional Corrida de São Silvestre, convidando-os a participarem do evento. Além de oferecer acompanhamento médico, nutricionistas e fisioterapeutas, a companhia premiou com R$ 500 aqueles que completassem a prova. Dos cerca de 200 profissionais que demonstraram interesse em participar da corrida, 54 passaram pelos exames de aptidão. Entre eles estava Maria Vanda Camelo de Sousa, 35 anos, analista de contas médicas. Fumante desde os 15 e sem praticar esportes há um bom tempo, ela viu na iniciativa a oportunidade de começar a se mexer e ainda ganhar um dinheirinho extra. Não só completou o percurso total da prova, como ficou em 1º lugar do grupo da Samcil na categoria feminina. Com o saldo positivo da experiência, tomou gosto pela prática do esporte e passou a treinar para encarar novas competições. "Semana passada fui a uma corrida de 10 quilômetros no Parque do Ibirapuera e sempre estou de olho nas próximas para me inscrever", diz. Este ano, a Samcil elevou o prêmio para R$ 750 e espera atrair 150 funcionários. E Maria Vanda já conta as horas para participar novamente da São Silvestre. Além do dinheiro, está motivada pela chance de superar o tempo de percurso atingido, que foi de uma hora e 45 minutos. Como meta principal pretende parar de fumar. "Espero obter um rendimento melhor, já que o cigarro tira um pouco a nossa resistência", afirma Incentivos financeiros também são a arma da BS Colway Pneus para estimular a prática de atividades físicas entre seus funcionários. Três vezes por semana, antes do o expediente, eles trocam máquinas e prensas por halteres, esteiras e bicicletas, aparelhos que fazem parte de uma academia montada especialmente pela empresa de Curitiba. Ao participar do programa de condicionamento físico, todos recebem um bônus, que varia de R$ 5 por sessão a R$ 10 para aqueles que não faltarem nenhum dia e apresentarem melhorias em suas condições físicas. Esta foi a forma encontrada para reduzir os afastamentos ocasionados por pequenas doenças ou lesões. Além disso, os funcionários recebem um dinheiro extra no salário mensal se fizerem de seis em seis meses consultas médicas de rotina. Ações como essas acabam reduzindo o número de pacientes com doenças de risco, ocasionando a queda dos custos e abrindo caminho, inclusive, para uma possível negociação nos preços dos planos de saúde. Um estudo da Hewitt realizado com 137 empresas aponta que 75% delas têm programas de gerenciamento de alto risco. Ser magro hoje em dia deixou de ser apenas uma questão estética. A preocupação com a saúde apesar de não ser fator decisivo no momento da contratação, pode contribuir de maneira positiva no currículo profissional. "Praticar um esporte conta pontos, ainda mais quando a empresa adota esse princípio como valor", afirma Paulo Pontes, diretor executivo da Michael Page, que atua na seleção e recolocação de executivos. "E nesse caso, se dois candidatos com as mesmas qualificações estiverem disputando uma vaga, certamente, o emprego será dele". A obesidade, por exemplo, pode ser barreira em uma indústria que tenha o negócio ligado a beleza ou a saúde. Fernanda Campos, sócia diretora da Mariaca & Associates, empresa de seleção de profissionais, lembra de um processo de recrutamento em que uma empresa mexicana de suplementos alimentares estava em busca de um diretor para sua área comercial. Um grupo seleto de profissionais experientes e altamente qualificados foi escolhido para disputar a vaga, o que incluía um executivo que estava fora do peso. Mas exatamente por ser mais "gordinho", foi eliminado. "Não podemos ignorar que isso pesou na decisão", observa. "E por ele ser a interface da organização com o mercado, precisava passar a imagem do produto". Na opinião de Fernanda, a qualidade de vida tão pregada nas corporações está ligada a estratégia de resultado. "Se os funcionários fazem uma atividade física é claro que terão um rendimento maior e melhor disposição", afirma. Não é à toa que hoje é comum a contratação de nutricionistas para palestras, a construção de academias internas, pistas para caminhada e quadras esportivas.

Fonte: Valor Econômico

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