Vamos supor que dois colegas de trabalho lhe peçam um favor ao mesmo tempo. Enquanto um é alguém com quem você conversa regularmente e tem afinidades, o outro é apenas um contato na sua agenda. Qual pedido você atende primeiro? Não precisa se sentir injusto se você pensou em ajudar a primeira pessoa. Segundo uma pesquisa realizada pela Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, ter um bom relacionamento interpessoal no ambiente de trabalho – ou seja, um bom network – pode ser mais importante do que somente ter as qualidades técnicas necessárias para a sua função.
Analisando as avaliações de desempenho feitas em empresas norte-americanas, os pesquisadores chegaram à conclusão de que os chefes avaliam melhor os funcionários que eles mais gostam, em comparação com os que têm mais capacidade técnica, mas não se preocupam em ser agradáveis e manter um bom relacionamento no ambiente de trabalho.
Esse bom relacionamento, no entanto, só existe quando ele é benéfico para os dois lados. Em um estudo realizado pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), pesquisadores analisaram os laços sociais de 2,6 mil funcionários da empresa de tecnologia IBM e, utilizando fórmulas matemáticas, concluíram que cada contato deles adicionava US$ 948 no faturamento da companhia. Isso porque quanto melhor relacionado o funcionário era, melhor o desempenho dele no trabalho, em função do conhecimento agregado de seus contatos.
Mas afinal, basta ter uma agenda completa ou mil amigos nas redes sociais para se ter um bom network? Segundo a consultora Simone Leon, da empresa especializada em gestão de pessoas Right Management, de nada adianta conhecer muita gente se não existe um relacionamento genuíno. “Hoje acontece muito de falarem que têm um network enorme, mas muitas vezes ele não tem qualidade, porque são pessoas que pouco podem contribuir, trocar e agregar valor ao seu trabalho ou à sua carreira”, observa.
A partir do momento que o profissional tem uma rede de relacionamentos ligados ao trabalho ativa, o aumento da produtividade vai ser natural. “Hoje, a velocidade das informações do mercado é muito grande. Muitas vezes é essa rede que lhe mantém atualizado, que lhe contará sobre alguma ação de mercado, que vai lhe mostrar um produto novo que vai ser lançado e que, com isso, você pode reagir mais rápido na sua empresa”, comenta Simone.
Como manter esses contatos próximos
Para o especialista em desenvolvimento de pessoas, Rogério Boeira, se o profissional quiser criar uma rede de contatos efetiva é preciso que ele seja bem articulado. Não basta se apresentar para alguém como sendo um contato interessante se ele não consegue transmitir que esta será uma relação de troca e de confiança. “Para desenvolver o network, você tem de gostar das pessoas. Algumas pessoas não sabem nem dar bom dia. Você tem de fazer com que a sua companhia seja uma coisa desejada pela outro também”, diz.
Uma dica para fortalecer esta relação é encontrar afinidades que fujam do assunto trabalho, como descobrir qual tipo de esporte o outro pratica, quais são os seus assuntos de interesse no mundo das artes ou até mesmo qual tipo de comida ele gosta. Desta maneira, você conseguirá criar mais oportunidades para construir esse laço, como, por exemplo, indicando um restaurante que conheceu em sua última viagem e que você acredita que o outro irá gostar.
“Assim você tira um pouco desse viés de que só entrará em contato quando precisar do outro profissionalmente. Se ela vê que você só vai entrar em contato com ela em um determinado momento, a pessoa que tiver um certo nível de sensibilidade vai perceber”, concorda a especialista em carreiras da consultoria Unique Group, Alexia-Franco.
No entanto, o interesse precisa ser natural. De nada vai adiantar tentar forçar uma relação com alguém que não demonstra desejo em continuar se comunicando com você ou com quem você não gosta. De qualquer maneira, todos conseguem criar uma rede de relacionamento diversificada e colaborativa. “Para o extrovertido é mais fácil, pois ele precisa do outro para se motivar, então está mais aberto para sair para almoçar, tomar um café e conversar. Já o introvertido não necessita do outro, então ele tem de fazer um esforço maior”, observa a consultora Irene Azevedo, diretora da LHH|DBM.
Network dentro do próprio escritório também é essencial
Segundo a psicóloga Luci Balthazar, quando você tem um bom relacionamento, a tendência do ser humano é que, se tiver de priorizar entre um colega e o outro para solucionar um problema, você vai atender primeiro aquele com quem tiver maior proximidade. “Se eu preciso de uma resposta do departamento jurídico para aprovar um determinado contrato e temos uma boa relação, eles vão ouvir a minha urgência e fazer de tudo para atender mais rapidamente. Se eu não tenho esse relacionamento, é muito comum que eu seja o segundo a ser atendido e não o primeiro”, avalia Luci.
Isso explica os resultados da pesquisa de Stanford sobre as avaliações de desempenho dos funcionários. Quanto mais próximos os profissionais forem, mais confiança eles transmitem entre um e outro e, consequentemente, o comprometimento também passa a ser maior, como acontece com nossas amizades pessoais.
“Cada vez mais as organizações se preocupam em avaliar as competências comportamentais. elas passaram a ter um papel muito maior nas empresas. Algumas pessoas acham isso ruim, mas só é injusto se o chefe avaliar bem uma competência técnica que [o funcionário] não tem só porque ele gosta dele como pessoa”, conta a psicóloga.
Fonte: IG