São Paulo - Estudo divulgado ontem pela recrutadora Hays em parceria com o Insper revela que as empresas se preparam neste ano para evitar demitir funcionários, já esperando os efeitos negativos da Copa do Mundo e das eleições. De acordo com o Guia Salarial de 2014 - realizado entre 27 de agosto e 25 de setembro deste ano, com representantes de 483 empresas -, 55% disseram que lidaram "adequadamente" com ambiente econômico de 2014, 29% afirmaram que lidaram "muito bem" e os outros 16% tiveram dificuldades ao longo deste ano. O número de empresas que realizaram demissões passou de 61% em 2013, para 48% em 2014. Porém, aumentou o percentual de empresas que implementaram o congelamento salarial, ao passar de 18% para 25,61%. De fato, dos 8.024 funcionários entrevistados no mesmo período, 58% disseram que a remuneração não subiu ao longo deste ano. Ao mesmo tempo, 97% das empresas afirmaram que concederam benefícios além dos salários, enquanto que esse percentual em 2013 era de 90,66%. "Isso mostra que as empresas compensaram as demissões com o congelamento dos salários, que por sua vez, foram compensados pelo aumento dos benefícios", avalia professora e pesquisadora no Insper, Regina Madalozzo, ao acrescentar que a rotatividade nas empresas passou de 63% para 36%, o que revela maior cuidado por parte dos profissionais para realizar movimentações na carreira. "Em 2013, embora as empresas não tivessem uma perspectiva ruim, já previram que em ano de Copa e eleições, precisariam se adaptar às mudanças. O estudo não apontou aumento de demissão, porque o empresário ajustou os quadros de funcionários no ano passado", acrescentou. Dificuldade No entanto, o estudo mostrou que mudou a percepção sobre as dificuldades enfrentadas no atual panorama econômico. Enquanto que em 2013, o maior problema para as empresas era a falta de qualificação profissional (56% das respostas, com múltiplas escolhas), neste ano, o fator que assumiu a liderança (com 68,65%) foi a falta de confiança na economia. Da mesma forma, essa dificuldade foi bastante percebida pelos profissionais consultados. Embora "impostos excessivos" seja o primeiro item apontado (por 67,19%), a perda da credibilidade na economia brasileira vem logo em seguida, com 66,79% das respostas. "As pessoas têm sentimento mais essa insegurança e notam que no período de setembro, teve uma vasta discussão sobre o rumo econômico. Desta forma quem não prestava atenção nisso, passou a prestar. E esse maior interesse foi captado pela mídia que reforçou a atenção", entende Regina. De acordo com ela, como o interesse da população sobre o contexto econômico pautou a mídia, que por sua vez, divulga mais informações e potencializa "essa atenção" dos executivos, o modo de resolver isso é que seja "divulgada uma boa notícia", o que pode vir a ocorrer com a reforma ministerial. "Precisamos [brasileiros] de uma boa notícia advinda de algum lugar. Existe essa possibilidade de dar o start [iniciar] da expectativa [positiva] na próxima semana, com a mudança dos ministros", disse a pesquisadora do Insper. Pelo menos, seis ministros da equipe de Dilma Rousseff já apresentaram carta de demissão. Perspectivas Por outro lado, o levantamento mostrou que, mesmo com as dificuldades sentidas em 2014, 56% afirmaram que pretendem elevar o número de funcionários no ano que vem. A diretora-geral da Hays Brasil, Carla Rebelo, entende que as empresas devem contratar, não necessariamente para aumentar o quadro de funcionários, mas para o desenvolvimento da própria companhia. "Há uma tendência de substituição até que se encontrem profissionais mais qualificados", explica. Segundo Carla e a professora do Insper, as empresas procuram funcionários com qualificação, além da técnica - como graduação - profissional. Ou seja, que saibam "trabalhar em equipe" e até saber "agir socialmente". A professora e doutora Carla Tieppo, da Santa Casa de São Paulo, comenta que essa busca por um profissional qualificado também depende do empregador entender o perfil da nova geração de funcionários, principalmente aqueles nascidos a partir de 1990, que dependem mais da tecnologia e estão "viciados" na Internet. "As empresas precisam entender que a forma de controle do funcionário mudou", alerta. Para a diretora da Hays, as companhias, inclusive as menores, estão se adaptando a essas mudanças no mercado de trabalho. "A geração Y precisa ter outros motivadores, por isso programas de coaching são necessários por exemplo. Mas as empresas estão atentas a isso, inclusive as pequenas. Baseado nos nossos clientes, vemos que esses negócios de porte menor copiam boas práticas que empresas grandes descobrem mais cedo, por motivos óbvios", justifica.
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Por Fernanda Bompan
Fonte: DCI-SP