O Banco Central decidiu nesta quarta-feira (19) reduzir a Selic, a taxa básica de juros da economia, que estava em seu maior patamar em 10 anos. A taxa caiu de 14,25% ao ano para 14%. Foi o primeiro corte na taxa em quatro anos e o início de um ciclo de redução de juros já esperado pelos economistas. Para eles, a redução do juro básico deverá estimular o consumo e o investimento e, consequêntemente, ajudar a economia brasileira a se recuperar.
O BC adotou tom de cautela em seu comunicado e sinalizou que sua política de corte de juros será "moderada e gradual". Isso significa que a queda pode acontecer num ritmo mais lento que o esperado pelo mercado.
A Selic é um dos principais instrumentos do Banco Central para controlar a inflação. Quando mais alta for a taxa de juros, mais as pessoas são estimuladas a reduzir gastos e guardar dinheiro. Quando elas gastam menos, a demanda por produtos e serviços na economia se retrai e a pressão pela alta de preços é menor. Ou seja, para abrir caminho para a redução de juro, é necessário que a inflação esteja sob controle.
Quando o juro cai, o dinheiro fica mais barato. E o consumidor é estimulado a gastar e não a poupar. O crédito também fica mais acessível. Esse movimento tende a fomentar o consumo, o investimento e impulsionar o crescimento econômico, segundo economistas. "A queda dos juros é importante para o crescimento da economia”, afirma Luiz Eduardo Portella, sócio gestor da Modal Asset.
Enfraquecimento da inflação
O gatilho para o corte da Selic foi uma redução da alta da inflação de setembro e uma melhora nas expectativas sobre os preços para os próximos meses. Na semana passada, a estimativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano recuou de 7,23% para 7,04%. Em 2015, o índice chegou a 10,67%.
Especialistas ouvidos pelo G1 apontam que o cenário para este corte é distinto do movimento de baixa anterior, que teve início no fim de 2011. Naquele momento, a atividade econômica crescia, a inflação estava abaixo do teto da meta de 6,5% e o crédito ao consumidor havia sido ampliado.
Agora, o país está mergulhado em uma crise fiscal e ensaia os primeiros passos para sair de sua recessão mais longa.
“O momento é completamente diferente", comenta o economista Tharcisio Souza Santos, professor da Faap (Fundação Armando Álvares Penteado). “Em 2011, o BC começou a reduzir os juros quando as expectativas de inflação estavam subindo. Agora estão caindo”, compara Margarida Gutierrez, economista e professora da UFRJ.
Veja os efeitos esperados de um corte na taxa de juros:
O recado do Copom de que o ciclo de queda dos juros deve acontecer num ritmo mais lento que o esperado é positivo para a inflação, aponta o sócio gestor da Modal Asset, Luiz Eduardo Portella.
"A mensagem de que os juros não devem cair tanto ajuda a derrubar a inflação e fazer com que ela passe a convergir para o centro da meta", diz o economista. "O mercado está mais confiante de que a inflação vai cair, mas essa cautela do BC com os juros mostra que a atividade econômica não está tão forte como se imaginava".
Os especialistas consultados pelo G1 veem a queda da taxa Selic como um primeiro passo para que outras taxas de juros também caiam, como as do crédito ao consumidor. No entanto, eles apontam que esse efeito não é imediato.
Santos, da Faap, considera que esse efeito vai demorar um pouco para aparecer. “Isso vai ter que sair devagarzinho da frente. Não vai ser nada parecido com aquela benesse que a gente viu lá em 2008 e 2009", completa.
Margarida, da UFRJ, concorda que o custo do crédito vai cair em breve. “Normalmente, leva um tempo porque os bancos podem não aderir a essa queda. Mas acho que, neste momento, eles vão aderir porque está muito projetado e está mais ou menos na conta dos bancos. ”
Os analistas acreditam que o alívio nos juros terá efeito um pouco mais demorado sobre o consumo. “Muitas famílias estão bem endividadas e o desemprego ainda está subindo”, lembra Margarida. “Será uma surpresa muito grande se o consumo das famílias aumentar substantivamente”, complementa Santos.
A professora da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap) Juliana Inhasz acredita que o corte da Selic é uma sinalização para as famílias de que o governo está comprometido com as reformas que propôs recentemente. "É possível vermos nos próximos meses, especialmente em dezembro, uma melhora da confiança do consumidor e isso terá reflexos diretos no consumo", avalia.
Para os economistas, os investimentos das empresas devem começar a ganhar força com a queda dos juros, mas esse efeito também não é imediato. “Quem faz projeções de cenários e consultoria começa a ter as primeiras consultas de empresas grandes pensando em investimento”, comenta o professor Santos.
“É lógico que esse investimento não vai demorar para se concretizar. Mas é a primeira vez que a gente ouve falar disso em mais de 25 meses”, acrescenta.
Para Margarida, da UFRJ, as perspectivas serão de alta de investimentos. "Em algum momento vai começar, o processo é um pouco lento. As empresas ainda estão desovando estoques para começar a aumentar a produção”, avalia.
Com taxas de juros menores, o país perde parte da atratividade para investidores internacionais, que aplicam seus recursos em busca de rendimentos maiores. Com isso, a tendência é de que entre menos moeda estrangeira no país, levando a uma tendência de queda do dólar frente ao real.
Na visão da professora Juliana, da Fecap, mesmo que o retorno para os investidores fique menor, a expectativa de um crescimento econômico torna o país mais atrativo para investir, atraindo mais capital estrangeiro.
Para Margarida, da UFRJ, o Brasil ainda está pagando juros muito altos. "Essa pequena queda da Selic não vai afastar o investidor internacional”, diz Margarida. Santos, da Faap, vê que “o câmbio está mais ou menos no lugar dele, entre R$ 3,20 e R$ 3,40”.
A redução da Selic diminui o gasto do governo com os juros de sua dívida. O governo remunera quem investe em títulos públicos de acordo com a taxa Selic, por isso, qualquer alteração tem reflexos diretos na dívida, sustenta Juliana.
O corte anunciado nesta quarta, contudo, não deve ter efeito imediato nas contas públicas, avaliam os economistas. “Vai trazer algum impacto, só que leva tempo para ser significativo”, diz Margarida.
Santos acredita que apenas esta redução não terá um impacto monumental nas contas do governo, que têm previsão de um déficit fiscal de R$ 170,5 bilhões este ano. O efeito mais significativo seria o aumento das receita, como efeito de uma melhora das expectativas. “O pior é que a recessão dos últimos dois anos reduziu a receita e isso aumenta o déficit”, afirma.
Fonte: G1 - São Paulo