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Economia desaquece, mas emprego continua em alta

22/07/2011 20:20

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 Economia desaquece, mas emprego continua em alta

A economia brasileira continua a apresentar sinais ligeiramente contraditórios em relação à evolução do nível de atividade e variáveis a ele relacionadas, como a taxa de desemprego


A atividade econômica está em desaceleração. A taxa de crescimento do Índice de Atividade Econômica (IAE-IBRE) do trimestre findo em maio sobre o trimestre anterior alcançou 1,2%, ligeiramente inferior ao 1,4% de abril. Dados preliminares indicam que a taxa de crescimento do PIB no segundo trimestre será de 0,9%. A desaceleração também é visível nas taxas acumuladas em 12 meses: depois de alcançar 5,7% em abril, chega-se a 5,2% em maio e 4,9% em junho. Esta desaceleração também está registrada no Indicador Mensal do Investimento (IMI) do IBRE, aqui apresentado pela primeira vez: as variações acumuladas em 12 meses recuaram de 14,7% em abril para 13,2% em maio. Nossas previsões apontam para crescimento da formação bruta de capital em 2011 de cerca de 7%.

Para os próximos meses, os indicadores de confiança do IBRE continuam apontando para desaquecimento da economia, mas os resultados mostram alguma desaceleração da queda no segmento de serviços. Isso possivelmente se deve, ao menos em parte, ao mercado de trabalho aquecido, permitindo ganhos salariais nas negociações. O que nos remete às tendências para a inflação.

Aqui, o ciclo de avanços e recuos observado em 2010 se repete em 2011 — ainda que as taxas deste ano superem as do anterior até o encerramento do primeiro semestre: após uma sequência de cinco meses com taxas que, se mantidas, representariam o descumprimento da meta de inflação, os índices de preços na passagem do primeiro para o segundo semestre registram forte desaceleração. Mas o caráter transitório do desempenho bom do IPCA se deveu, entre outros fatores, à queda de preços de alimentos in natura e combustíveis para veículos, especialmente gasolina. Nossa projeção é que o IPCA terminará o ano em 6,1%. Comparando a influência anual esperada das nove classes de despesa do índice em 2011 com o quadro verificado em 2010 percebe-se que os movimentos de maior amplitude ocorrerão em três grupos. De um lado, a Alimentação perderá cerca de metade da influência que exerceu em 2010, quando representou o equivalente a 40% do IPCA. Em sentido oposto, Transportes e Habitação terão suas contribuições aumentadas, passando a responder, em conjunto, por pouco mais de um terço da inflação, ante 20% em 2010. Inversões de menor magnitude, mas que reunidas contribuirão para a permanência da taxa anual nas vizinhanças do valor registrado em 2010, deverão se verificar nos grupos Educação e Saúde e cuidados pessoais, ambos em sentido ascendente. O peso dos non-tradables parece ter aumentado em relação a 2010.

Embora as taxas mensais de inflação tenham diminuído em junho, ainda é cedo para concluir que a convergência para o centro da meta esteja assegurada a médio prazo. Será necessário algum tempo e novos aumentos na taxa de juros até que apareçam sinais concretos de reversão do quadro inflacionário. Se, por um lado, é verdade que o nível de atividade continua aquecido, por outro, verifica-se que as elevações das taxas de juros, somadas às medidas de contenção do crédito, estão surtindo efeito para arrefecer a demanda.

O desempenho da taxa de desemprego é especialmente intrigante, pois nossas projeções indicam para junho manutenção da taxa bastante baixa registrada no mês anterior. Uma explicação para a resiliência da taxa de desemprego é a de que o emprego reage de forma defasada ao nível de atividade. Outra explicação, mais preocupante do ponto de vista da política monetária, deriva do caráter assimétrico da desaceleração econômica nos últimos trimestres, com o desempenho dos setores produtores de non-tradables superior ao dos setores de tradables. Como os primeiros (serviços, essencialmente) têm demanda por trabalho mais inelástica, a desaceleração afetaria proporcionalmente mais o emprego nos demais setores produtores de tradables, cujo peso na estrutura do emprego é menor. Se isso estiver de fato ocorrendo, o canal do crédito também pode se mostrar menos efetivo do que em outras ocasiões, o que realçaria a necessidade de um aperto monetário mais forte.

Na área fiscal, o nível de atividade ainda aquecido vem permitindo que a meta de superávit seja alcançada com antecedência em relação ao cronograma. Mas persiste a questão de qual o impacto da desaceleração do nível de atividade na arrecadação federal. A análise das contas públicas mostra que o dinamismo do nível de atividade, com reflexos positivos na arrecadação federal, somado aos cortes nos investimentos, foram os principais responsáveis pelo bom desempenho dessas contas. Para o segundo semestre se destacam dois complicadores pelo lado da despesa: uma esperada retomada dos gastos de investimento e os desembolsos de restos a pagar de exercícios anteriores.

O saldo da Balança Comercial acumulado até junho, de US$ 12,9 bilhões, torna claramente factível nossa previsão de US$ 25 bilhões para o ano como um todo. Mas as perspectivas para a Conta Capital têm dado margem a debates. Destacam-se aqui os fortes ingressos líquidos recentemente observados nessa conta: US$ 63,3 bilhões nos primeiros cinco meses de 2011, quase o dobro dos US$ 34,1 bilhões no mesmo período de 2010. Como nossa projeção do déficit em transações correntes para o ano em curso é de US$ 60 bilhões, não parece haver nenhum problema à vista no tocante ao fechamento do BP em 2011 — exceto por mudanças drásticas na conta capital, atualmente fora das expectativas. E além da magnitude dos ingressos, sua “qualidade” melhorou com a concentração em IDE. Nesse caso, qual o desconforto? O problema é que existem suspeitas de que esses investimentos estariam servindo para evitar a tributação sobre transações financeiras. Nossa análise, nesse sentido, sugere que isso pode estar de fato acontecendo: os juros mais atrativos estariam compensando a taxação do IOF e o custo de transação da aplicação indireta via IDE.

A seção Em Foco, ao final, apresenta um ensaio do Prof. Samuel Pessôa dedicado à análise do complexo e relevante tema das razões para a persistência de altas taxas de juros no Brasil, que destaca a associação desse fenômeno com taxa de câmbio valorizada, inflação ainda elevada e baixa poupança doméstica.


Fonte: Ibre - FGV

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